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Dificuldades e caminhos para a recuperação financeira das empresas

Jorge Tarquini
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Passados mais de 90 dias desde que o Brasil entrou oficialmente na rota da pandemia de coronavírus, com medidas de isolamento e fechamento de empresas de diversos setores, já dá para pensar em recuperação? Veja o que pensa Adriano Gomes, autor e especialista em finanças e professor da ESPM-SP

Mesmo que ainda não seja realista enxergar afrouxamentos significativos nas medidas de isolamento no Brasil, pois nossa curva de contágio ainda é ascendente, rumo a cidades menores, é tempo de pensar em como separar esse problema de outro, igualmente grave: o da recuperação financeira das empresas. Segundo estimativas da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas, por exemplo, pequenas e médias empresas deverão sofrer impacto negativo de R$ 100 bilhões nos próximos meses.

Para debater o assunto, o Trendings foi conversar com Adriano Gomes, consultor, autor dos livros A Empresa Ágil, Gerenciamento do Crédito, Administração para não Administradores, A Responsabilidade e o Social e Contabilidade Intermediária e professor na área financeira do curso de Administração da ESPM-SP.

Quais serão os maiores desafios para a recuperação financeira de micro e pequenas empresas ao longo e no pós-pandemia?

O maior desafio das empresas, sejam elas micros, pequenas, médias ou grandes, é ter acesso às linhas de crédito para o financiamento do capital de giro. Basicamente, o crédito vai para o giro ou investimento. Nem falemos neste momento em investimentos porque, infelizmente, todos projetos neste sentido serão postergados para um cenário de maior nível de confiança.

Alguma chance de o acesso às linhas de crédito ser parecido para empresas de todos os tamanhos?

As grandes empresas, como sempre, não terão dificuldade na obtenção de linhas, exceto aquelas que já carregavam problemas antes do contexto da pandemia. O ponto fulcral são as de médio porte para baixo. Nesta franja de mercado, essas empresas vendem, na maior parte das vezes, também para pequenas e médias empresas (em operações B2B) ou consumidor final (B2C). Na linguagem de crédito elas têm um alto “risco do sacado”. Ou seja: seus clientes terão muita dificuldade em honrar as obrigações. Do lado de quem detém o recurso (instituições financeiras), resta calibrar a linha de crédito exigindo ainda mais garantias, normalmente na forma de cessão fiduciária de crédito de 80% a 100% da operação, garantia real e coobrigação dos sócios como responsáveis solidários do crédito.

Que medidas governos de outros países adotaram que você achou eficientes no sentido de ajudar essas empresas – e que o Brasil teria condições de adotar também?

A MP 958 (que estabelece normas para a facilitação do acesso ao crédito e mitigação dos impactos econômicos decorrentes da pandemia de coronavírus/covid-19) tenta oferecer alguma margem de manobra importante para as pequenas e médias empresas obterem linhas de crédito oficial. Isso porque tais linhas, que têm as menores taxas e os maiores prazos, necessitam de certidões negativas junto às fazendas federal, estadual ou municipal; além de uma série de documentos probatórios de idoneidade que, na enorme maioria dos casos, as empresas de pequenos e médio porte não têm. Logo, ficam excluídas ao acesso das linhas oficiais. Em países cuja legislação permite, os Bancos Centrais estão funcionando como um comprador de títulos de dívida de empresas ou fundos de crédito. Ocorre que, no Brasil, o Banco Central do Brasil (BACEN) não pode atuar desta forma – e já há movimento neste sentido. Porém, depende de Lei a ser debatida e votada no Congresso Nacional. Ademais, tudo o que foi permitido ser feito pela autoridade monetária, que em geral consiste no aumento da liquidez do sistema, já foi cumprido.

Quais serão os desafios financeiros para as grandes empresas e como você enxerga poderem se reequilibrar?

Entendo que o maior desafio destas empresas será na construção de demanda para seus produtos e serviços. Isso passará pela capacidade em analisar cenários e, com base neles, construir modelos – e, simultaneamente, criar uma sólida área de risk management. Sabemos que, na gestão de empresas, alguns temas são até considerados por críticos como “modismos”. Porém, da mesma forma como “compliance” não foi um modismo, já consolidado na gestão de empresas, a gestão do risco (em todas suas dimensões) se tornará uma área de inteligência na condução das decisões.

Apesar do provável desastre no PIB brasileiro este ano, o governo projeta alta de 3,3% para 2021. Isso é realista, na sua visão?

Lembro que Galbraith disse que “a única função das previsões econômicas é a de conferir respeitabilidade à astrologia”. E confesso que ele está rigorosamente certo. Entendo que os modelos preditivos de qualquer campo, sobretudo o econômico, foram profundamente abalados com essa interrupção abrupta. Levará um bom tempo para se construir séries históricas críveis e, mais importante, a compreensão dos preços relativos da economia.

Mas há algum sinal de horizonte?

Neste exato momento em que falamos, temos em frente aos nossos olhos uma possível retomada da crise comercial entre EUA x China, o petróleo se recuperando, mas ainda cotado em US$ 27,50 o barril – sendo que os mares estão lotados de navios petroleiros porque simplesmente sem lugar físico para estocá-lo! Honestamente, todo aquele que realizar qualquer previsão, na verdade fará um belíssimo “chute”. E claro, que ao se dar mil chutes ao gol, alguém acertará. E a esse veremos novamente o mesmo de antes: a construção de uma celebridade econômica. Ficará famoso por um breve tempo e será destruído por sua própria criatura. Por quê? Porque outras crises virão! Essa é a única certeza que posso subscrever no momento. Se formos sábios, que desconfio não seremos, faremos os devidos e necessários ajustes estruturais para enfrentar com um menor prazo e com menores perdas. Mas se não formos …

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Jorge Tarquini

Curador do #Trendings.

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