Segunda mão, usado, vintage, pre-owned são alguns dos nomes dados para um mercado que cresce em escala vertiginosa. Segundo projeção do Boston Consulting Group (BCG), o segmento de moda circular deve aumentar entre 15% e 20% até 2030 no Brasil. Em mercados estrangeiros, onde o consumo de itens de segunda mão já é realidade há anos, a projeção é de crescimento de 20% nos próximos três anos.
Não há dúvidas de que a pandemia impulsionou esse mercado, já que fez a sociedade refletir muito sobre o consumo consciente. Um bom exemplo: as vendas de bicicleta na capital de São Paulo, por exemplo, aumentaram 66% em 2020. Segundo estudo da Kantar, no início da pandemia, 33% dos brasileiros disseram ter aumentado o consumo de legumes, verduras e hortaliças, sendo que 67% planejavam manter o novo hábito no futuro. No segundo trimestre de 2021, a busca por alimentos mais saudáveis aumentou 15% sobre o mesmo período do ano anterior. E com a moda não foi diferente.
A Geração Z (nascidos a partir de 2000) e seus ideais de consumo consciente têm um papel relevante, já que sustentabilidade e procura por preços mais baixos são drivers de escolha.
Com mais de 3,9 bilhões de resultados no TikTok com a hashtag #thrift (em português, brechó), os jovens compartilham nas redes sociais indicações desse tipo de loja. Além disso, surgiram brechós digitais no Instagram, um ramo bem-sucedido para a economia circular.
A digitalização também foi um passo importante para a popularização do mercado de segunda mão, com o crescimento das plataformas digitais de compra e revenda, como Enjoei, Troc, entre outros.
Grandes marcas, ao abraçarem a economia circular, também a tornam mais “populares” e aceitáveis para quem tinha “preconceito”. Um bom exemplo é a carioca Farm, que tem uma página exclusiva na plataforma Enjoei, onde incentiva a compra e venda de peças de segunda mão de sua própria confecção. Recentemente, grifes de luxo como Stella McCartney, Burberry e Gucci fizeram uma parceria com o The RealReal, marketplace de revenda de luxo, para incentivar o consumo e a venda de suas peças.
Ainda em 2022, a gigante Zara, do grupo Inditex, anunciou sua entrada na moda circular. A grande protagonista do fast fashion vai lançar um serviço de revenda, consertos e doações de peças, que começará com um piloto no Reino Unido.
1. O típico consumidor de brechó e bazares, que opta pelas peças usadas pela facilidade de encontrar looks vintage e retrô. Esse tipo de consumo também tem motivado muito as novas gerações, que buscam encontrar peças únicas de décadas passadas, como dos anos 1990 e 2000.
2. O consumidor de luxo de segunda mão é bastante específico e se divide entre duas vertentes: a primeira composta por consumidores que têm interesse por peças de luxo, mas que não estão dispostos a pagar os altos valores, e a segunda busca itens exclusivos que já não são facilmente encontrados.
3. Sneakerheads ou loucos por sneakers: por virtude da exclusividade, os tênis e calçados revendidos podem chegar a preços exorbitantemente mais altos que os preços oficiais. Esse mercado é tão significativo que pode chegar a valer 30 bilhões de dólares até 2030, ao passo que o mercado de calçados no geral gira em torno de 200 bilhões de dólares.
Preconceito: ainda existe aquela antiga visão do brechó empoeirado ou com peças de qualidade duvidosa. O desafio é construir uma nova visão de mercado pautada em oportunidade, qualidade, acesso e experiência.
Pouca disponibilidade e variedade de peças: se por um lado há os benefícios da exclusividade, o mercado de segunda mão também diminui as opções de peças para pessoas com corpos “fora do padrão”, que têm dificuldade de encontrar roupas nos brechós, bazares e plataformas de secondhand e acabam buscando opções de variedade no fast-fashion.
Os envios, transporte e embalagens usadas na logística das peças de segunda mão também têm levantado importantes questionamentos para o futuro sustentável do segmento.
Com tudo isso, o mercado de segunda mão promete ultrapassar o fast-fashion em menos de dez anos. Se conseguir desbravar os principais desafios, como a demanda das consumidoras plus-size, será um passo importante para atingir consumidores que recorrem ao fast-fashion por falta de opção. Por outro lado, o preço também é algo a se atentar, se a ideia é que a revenda de produtos seja tão popular quanto as lojas de departamento, bem como o incentivo à revenda de peças pelos clientes, para gerar uma economia cada vez mais colaborativa e circular.
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