No ambiente profissional, seguir dicas de oratória pode trazer bons resultados. A habilidade é colocada em prática o tempo todo, mesmo quando não percebemos. Seja em uma reunião rápida com o chefe ou em uma grande apresentação, saber expressar e comunicar as ideias de forma eficaz abre caminho para conversas importantes e bom desempenho para o colaborador e a empresa.
“O ser humano é um ser social e o que o torna social é o processo de comunicação. No mundo corporativo, temos inúmeras formas de nos comunicar, apresentar ideias, argumentos e posicionamentos. E precisamos fazer isso, especialmente se quisermos nos desenvolver dentro deste ambiente”, afirmou Renato Avanzi, criador e professor da pós-graduação Master em Comunicação Empresarial Transmídia da ESPM.
Segundo ele, ter conhecimentos técnicos para exercer uma profissão não é mais o suficiente para garantir o desenvolvimento de um profissional: “O que ajuda e impulsiona o seu desenvolvimento de carreira são os relacionamentos, e eles dependem de você expor suas ideias, o que conhece, mostrar que está de acordo ou em desacordo com alguma coisa”.
Para isso, técnicas de apresentação são necessárias. O professor destacou as principais dicas de oratória que podem ajudar uma apresentação a ser um sucesso. Confira abaixo:
No geral, o profissional que conduz uma apresentação domina o assunto sobre o qual está falando, fazendo com que o emocional demande uma grande ansiedade. “As pessoas ficam muito preocupadas com aquilo que os outros vão julgar a respeito dela”, explicou Avanzi. “O medo do julgamento dos outros é o principal fator para desestabilizar uma boa presença.”
A respiração é um importante meio para se acalmar. O professor deu como exemplo a respiração pausada. Veja como o método funciona:
Mantenha a concentração no conteúdo a ser apresentado e não se preocupe com as reações e gesticulações das pessoas que assistem a apresentação. “Não há a possibilidade de administrar a reação dos outros. A única coisa que realmente podemos administrar é a nossa apresentação e como nos apresentamos”, apontou Avanzi.
De acordo com ele, não basta apenas o conteúdo técnico, a apresentação precisa ser interessante. Vale contar uma história, seja a sua ou de alguém, e conectá-la ao tema, fazer analogias e perguntar se os presentes já viveram situações semelhantes. Isso funciona ainda como uma forma de prender a atenção do público.
Em uma apresentação, o conteúdo não verbal é tão importante quanto o verbal. O não verbal se manifesta de várias formas, da postura à gesticulação, gestos que chamam a atenção do público. Por isso, a sugestão do especialista é que o profissional se movimente no espaço em que está.
“Ao ficar totalmente parado, o apresentador gera uma certa sonolência, porque fica olhando o público, para um ponto fixo”, esclareceu. “Quando se movimenta, a pessoa ajuda o público a movimentar o pescoço e a prestarem atenção nela.” Dependendo do tamanho do local, é interessante que o condutor da apresentação se movimente no meio do público e dê uma volta na sala enquanto fala.
Para o professor, fazer contato visual com o público — seja online ou presencial — é uma parte importante de toda apresentação. A falta disso faz com que o apresentador não desperte a confiança do público que, por sua vez, se sente mais à vontade para dispersar e não prestar atenção no que está sendo apresentado.
“A modulação da voz é uma comunicação não verbal”, definiu Avanzi. Ele deu alguns exemplos de como a modulação pode ser utilizada: em alguns momentos, eleve o tom de voz, em outros, fale mais baixo, variando a voz para que as pessoas prestem atenção. “Tanto um sussurro quanto uma voz mais forte chamam a atenção e acordam as pessoas.”
Mesmo com bastante preparo, todos correm o risco de esquecer uma palavra, o próximo tópico ou se perder por alguns instantes durante uma apresentação. O especialista recomendou o uso do PowerPoint, com slides com tópicos do que é essencial.
Caso não haja essa possibilidade, a sugestão é fazer uma colinha à moda antiga. “Coloque um papel em cima da mesa e, caso se esqueça de algo, tenha calma, respire e vá até ela. Pegue um copo d’água e, enquanto bebe um gole, olhe o tópico, retome seu pensamento e se lembre do que esqueceu. O público aceita isso normalmente, não é um problema.”
Além disso, ele incentivou a interação com o público, trazendo questões como “Me falhou a memória, como é mesmo aquela palavra? O nome daquele inventor?”. “Posso contar com a participação da audiência, que está interessada. É mais uma maneira de chamar a atenção e a participação é natural.”
Fique tranquilo em relação a deslizes: é importante que o condutor saiba que o público está torcendo para que aquela seja uma ótima apresentação. “Porque é o tempo da audiência que está valendo neste momento. Ela está sentada ali, deixando parte do tempo dela à sua disposição, e ela quer que você faça a melhor apresentação”, disse Avanzi.
Ele apontou ainda que, caso o apresentador se esqueça de algum detalhe da apresentação, o público não tem como saber. E não tem problema, desde que não se esqueça do essencial. “Nós não decoramos o texto, nós interpretamos uma ideia, tentamos apresentar um conceito não decorado. Então, pode esquecer alguma coisa, não tem nenhum problema.”
Mesmo quem faz apresentações com frequência deve se preparar. Uma das preparações é para as perguntas, o momento de maior exposição do apresentador, que não tem controle dos questionamentos do público.
A indicação de Renato é fazer um questionário para se preparar para as piores perguntas que podem surgir sobre o assunto tratado na apresentação. Para isso, pense no perfil do público e quais são as expectativas dele e, a partir disso, quais são as questões que podem surgir.
No caso de uma pergunta que foge do tema, eis a sugestão do especialista: “Basta dizer que esse não é o contexto da sua apresentação e que o novo assunto pode ser tratado em outro momento. É importante que o apresentador sempre traga o foco do público, da discussão e das perguntas para o assunto proposto. Aquilo que não faz sentido, a gente deve cortar”.
Regra geral para apresentações: não ultrapasse o tempo que foi dado para a sua apresentação. “Isso é um erro gravíssimo, porque as pessoas perdem a atenção em progressão geométrica depois do tempo combinado”, alertou o professor. Ou seja, no primeiro minuto que ultrapassa o tempo delimitado, o público já está com a cabeça em outro lugar.
Segundo Avanzi, em vez de deixar de se apresentar, quem tem medo de se comunicar mal ou vergonha da exposição deve fazer mais apresentações.
“Treine em situações informais. Frequente um bar com karaokê, por exemplo. Não importa se você canta, e sim se candidatar a cantar, pegar o microfone, subir no palco e se apresentar diante das pessoas”, explicou. “É um treino informal para você estar diante do público, isso vai te descontraindo cada vez mais.”