A procrastinação é um fenômeno universal. Pesquisas sobre o ato de procrastinar apontam diferentes vilões, como a autoestima, a incerteza e os prazos de entrega. As fontes variam em relação aos gatilhos, mas parece haver um consenso entre a maioria delas: deixar para fazer as coisas de última hora, seja a declaração do imposto de renda ou um relatório de trabalho, pode ter consequências desagradáveis.
“Como as tarefas podem virar uma bola de neve, podemos entrar num ciclo muito negativo de procrastinação e de ter que fazer tudo correndo. Isso tem um impacto muito grande no nosso bem-estar”, explica Claudia Silva, coordenadora de pesquisa pedagógica no Núcleo de Inovação Pedagógica (NIP) e professora do ESPM Life Lab.
Em entrevista ao Trendings, Silva explica as causas e consequências do ato de procrastinar e dá algumas dicas para quem quer deixar os dias de procrastinador para trás. Leia abaixo.
A palavra procrastinar vem do latim pro (à frente) e cras (amanhã) que, juntos, significam “para amanhã”. Segundo a professora, na prática, procrastinar é adiar intencionalmente tarefas e atividades que precisam ser realizadas. “Isso acontece mesmo a gente estando consciente das possíveis consequências negativas desse adiamento.”
É comum que as tarefas adiadas sejam substituídas por outras que dão mais prazer ou que oferecem uma recompensa a curto prazo. Ela usa como exemplo a arrumação da cama: “Não é algo tão desafiador, então penso ‘daqui a pouco arrumo’, daí vou lavar a louça, escrever um e-mail, resolver uma tarefa que já sei mais ou menos como é. Fico procrastinando essas atividades de forma consciente”.
Diversos fatores podem levar alguém a procrastinar. A professora lista os principais deles:
A procrastinação pode ter consequências de ordem emocional, psicológica e prática. Para Claudia Silva, pode haver um aumento do estresse e da ansiedade, pois os prazos de entrega ficam apertados e imprevistos podem acontecer.
“Como essas tarefas podem virar uma bola de neve, posso entrar num ciclo muito negativo de procrastinação e de ter que fazer tudo correndo”, afirma. “Isso tem um impacto muito grande no bem-estar. O estresse é muito prejudicial à nossa qualidade de vida.”
A procrastinação pode ainda afetar a qualidade das entregas de um indivíduo que, ao deixar para a última hora, perde a chance de fazer a atividade e avaliar o trabalho com calma. Silva destaca ainda a deterioração da reputação: “[A pessoa] pode passar uma imagem de alguém com quem não se pode contar, que pode entregar de última hora ou nem entregar”.
A professora aponta que nem sempre procrastinar é algo negativo. “Em alguns momentos, se representa uma pausa necessária para que eu reflita e possa encontrar soluções mais criativas”, indica. “Essa procrastinação tem um limite, já é bem refletida e não atrapalha o progresso ou a entrega do trabalho.”
Trata-se de um momento de reorganização e descanso, que ela não considera um procrastinar, e sim uma pausa criativa.
Com tantas causas e comportamentos relacionados à procrastinação, como é possível largar esse hábito? “Ter autoconsciência, reconhecer quando essa procrastinação está ocorrendo e identificar as causas”, indica Silva. “A procrastinação fala muito sobre nós.”
Reconhecer e entender o motivo de se procrastinar algo — seja fazer uma ligação ou marcar uma consulta — pode trazer outros benefícios além da adoção de hábitos mais saudáveis. “É importante ter esse olhar para si porque essa procrastinação está tentando te dizer alguma coisa”, diz a professora.
Outra estratégia recomendada é quebrar tarefas grandes em pequenas etapas. Para isso, é necessário se organizar, de forma a ter tempos para pesquisar e refletir. “Não dá para fazer tudo de uma vez só, vou dividindo em pequenos momentos e vou organizando minha agenda e rotina, o que pode dar uma sensação de estar fazendo o trabalho, diminuindo o sentimento de sobrecarga.”
A dica é estabelecer pequenas recompensas: depois de concluir uma etapa, vale fazer uma pausa ou comer algo gostoso. “Se recompensar sem dúvida vai ajudar na motivação para continuar o trabalho”, ressalta Silva. “A ideia é que as etapas sejam realistas, o que realmente cabe na minha programação e consigo fazer.”
A professora sugere o uso de ferramentas de organização e controle de tempo, como o Trello e o Notion, além do método Pomodoro. Independente da escolha, uma coisa é certa: “A melhor técnica é aquela que funciona para você”.
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