Conversa de corredor, no elevador ou em um evento pode ser o início de um bom contato profissional, mas existem maneiras de quebrar o gelo para se aproximar do interlocutor sem colocar tudo a perder. Afinal, isso é networking puro e uma oportunidade como essa tem que ser bem aproveitada porque é o momento em que uma pessoa pode se fazer presente para outra e mostrar suas qualidades.
“Networking é uma vitrine para que as pessoas possam me conhecer e reconhecer com o que eu posso contribuir”, explica Fátima Therezinha Motta, psicanalista e consultora especialista em gente e gestão e professora de cursos de graduação, extensão e pós-graduação da ESPM. “À medida que eu converso com os outros, independentemente de ocupação e até da experiência, posso acrescentar algo para um executivo. Essa construção de relacionamentos é importante em qualquer momento, porque as pessoas sempre contribuem e se complementam”.
Esse reconhecimento gera visibilidade, aprendizado, crescimento e oportunidades de carreira. Outro benefício é o desenvolvimento da marca pessoal. A cada novo contato o profissional lapida sua maneira de mostrar quem é e como é a sua postura, e abre caminho para ser conhecido e ganhar visibilidade.
Para algumas pessoas é fácil quebrar o gelo e engatar uma conversa que pode render frutos, mas para outras não é tão simples. Para ajudar quem tem mais dificuldade, Fátima listou 11 dicas sobre como iniciar uma conversa informal no ambiente corporativo. Confira:
Construir relacionamentos parte de uma vontade real de estabelecer um contato. Quem entra no elevador com o celular na mão e nem olha para as pessoas ao redor não vai abrir portas. O mesmo vale para um evento. Quem fica mais preocupado em fazer reels e posts nas redes sociais perde boas chances de conexão porque pode deixar passar oportunidade de falar com alguém interessante que está livre. A dica é observar o ambiente e se perguntar quem ali é importante e o que eu quero desse relacionamento.
Uma maneira eficiente e leve de começar uma conversa é elogiar algo que o interlocutor está usando. Pode ser uma bolsa, um par de óculos ou uma gravata. Comente que gostou ou que combina com a pessoa, destaque alguma qualidade do objeto, mas saiba que essa técnica só funciona se o elogio for sincero e a conversa não tiver tom de bajulação. “Tudo parte de dentro para fora, é preciso estar predisposto ao encontro, ter um olhar diferenciado para as pessoas, ter curiosidade e estar aberto”, ensina Fátima.
Se estiver no elevador, o que que tem nele que pode servir de pretexto para iniciar uma conversa? Às vezes aquele monitor com notícias pode criar um gancho para um diálogo. “Olha que interessante, você viu isso?”. Mas para iniciar qualquer tipo de contato é necessário observar a pessoa. Se ela está tensa, de cara fechada ou nem está te olhando talvez não seja o caso de puxar papo.
Mas se estiver receptiva aproveite a oportunidade. E se você fizer um comentário e ela ficar quieta é sinal de que não há interesse em falar com você, então é melhor desistir. Essa tática vale para qualquer situação. Num congresso o comentário pode ser sobre uma palestra. Nesse caso, pergunte o que ela achou e o que mais chamou a sua atenção, por exemplo.
Estar presente não é marcar presença física. É prestar atenção ao que está acontecendo, ao movimento das pessoas e estar aberto. “Hoje as pessoas nem falam ‘bom dia’ quando entram no elevador. Se eu não digo nem ‘bom dia’, como posso puxar uma conversa? Perde-se a oportunidade de um networking exatamente porque não falo ‘bom dia’ e não olho as pessoas nos olhos”, afirma Fátima.
Funciona muito bem quando se compartilha algo pessoal com o outro na hora certa e no lugar certo. Evidentemente o elevador não é o local ideal, mas quando se está em um evento, num almoço ou numa festa corporativa, você pode comentar com um executivo algo como “eu quero te dizer que fico muito feliz em trabalhar nessa empresa, porque me proporcionou crescimento profissional, eu consegui fazer o Projeto X e depois dele ingressei em um curso de especialização e isso tem colaborado com o desenvolvimento das minhas habilidades”.
Um comentário desse tipo pode ser feito até mesmo para o presidente da empresa, se você chegar nele da maneira correta (veja o item 10) e falar a verdade. Bajulação é facilmente percebida e um comentário real bem colocado tem efeito positivo.
Estar minimamente por dentro do que está acontecendo no mundo, no Brasil e no segmento de atuação é fundamental para começar uma conversa. Evite expor posições partidárias ou pontos de vista sobre assuntos polêmicos, especialmente se não tem uma relação de proximidade com o interlocutor. O ideal é fazer algum comentário sobre o mercado ou a área desse profissional, mas é necessário conhecer o assunto para manter um diálogo que faça com que o outro se interesse por sua fala e por você.
Ser positivo conta pontos na largada, porque é chato quando alguém inicia uma conversa com uma crítica ou negatividade. Em vez de dizer “nossa, que frio horroroso!”, comente “esfriou, hein?! Chegou aquela época do ano de tirar os casacos do armário e organizar o guarda-roupas”. “Uma coisa que eu sempre falo é que a gente precisa ter um olho bom, ter positividade na vida. Não é simples, porque a gente vive uma vida caótica e complexa. Eu posso começar a conversa falando de todas as minhas mazelas e das mazelas do mundo ou de uma forma positiva. É importante ser positivo e confiante na forma de falar”, orienta Fátima.
A técnica de espelhamento é a escuta ativa. Se pergunta para o interlocutor o que ele está achando do congresso você tem que ouvir a resposta inteira em vez de interromper e engatar outra pergunta ou dar a sua opinião sobre a palestra. Isso é muito importante especialmente hoje em dia, porque as pessoas têm uma dificuldade imensa de ouvir os outros e a interrupção acaba com o networking. “Se eu uso a técnica de espelhamento, o que que eu faço? Eu pergunto, escuto olhando nos olhos e repito o que o outro falou: “que legal, então você tá gostando da palestra. O que você gostou mais?”.
Você faz outra pergunta em vez de levar o assunto para si”, explica a especialista. Como resultado, a escuta ativa pode criar ganchos importantes. Para exemplificar, imagine que a conversa é sobre diversidade. Você pode perguntar se a empresa onde a pessoa trabalha tem algum programa de inclusão e comentar que atua nessa área e sinalizar interesse em marcar um café ou almoço para trocar conhecimento.
É fundamental estar muito atento ao feedback que a pessoa dá, porque às vezes ela olha para você com interesse e isso é um sinal para você continuar a falar. Por outro lado, às vezes a pessoa está com pressa ou irritada e demonstra desinteresse e esse é o código para encerrar a conversa. Para perceber sinais sutis é preciso estar presente e esse é o ponto mais sério e importante de qualquer contato – perceber se o outro está de fato receptivo. Se ele estiver, aproveite para trocar número de celular ou pelo menos dizer que vai adicioná-lo no LinkedIn.
Uma vez que o contato foi estabelecido, deve ser cultivado regularmente. Afinal, não faz sentido empenhar energia para criar networking e não dar continuidade. De vez em quando vale enviar um link de uma reportagem ou artigo, uma dica de livro ou algum conteúdo relevante relacionado ao universo corporativo. Isso vai fortalecendo a relação e abre espaço para as pessoas se conhecerem melhor.
“Trabalha também a nossa humanidade, que está cada vez mais dissociada. As pessoas não se olham, não conversam e vivem com máscaras o tempo todo. Reconhecer a importância do networking é também restabelecer um pouco a humanidade que está cada vez mais escassa”, afirma Fátima.
Quando admira uma pessoa, não a aborde dizendo isso diretamente. Não se aproxime se a pessoa estiver conversando seriamente com outra. Fique por perto até que ela esteja liberada. Chegue de uma forma educada e gentil, peça licença e pergunte se ela tem disponibilidade de conversar dois ou cinco minutos. Se houver abertura fale, mas sem tom bajulador. Comente algo como: “eu quero te dizer que reconheço a sua competência, reconheço tudo que você tem feito. O seu trabalho contribui com o seu segmento e você sabe disso, mas eu queria te dizer que o admiro e tenho muita vontade de conhecer mais de perto a empresa, se um dia for possível”.
Uma fala como essa é muito mais adequada do que dizer “eu sou fã do seu trabalho e meu sonho é trabalhar com você”, que tem um tom mais infantilizado e de tietagem. Se o interlocutor demonstrar interesse há uma brecha que pode até se transformar no agendamento de um encontro. O que não se deve fazer jamais é “colar” na pessoa e insistir.
“Uma coisa importante é que você precisa estar preparado para contribuir e ter falas inteligentes e enriquecedoras. Às vezes, apesar de ter conseguido chegar na pessoa, a conversa enfraquece porque você não fala algo que acrescente”, explica Fátima.
É importante prestar atenção porque o networking é uma ponte para relacionamentos, parcerias e contratações e se faz todo um movimento para chegar em quem te interessa, você tem que mostrar o que tem a contribuir. Sempre se pergunte como pode acrescentar e criar uma boa impressão. Isso está diretamente relacionado com confiar na própria força e competência.