Quando pensamos nas tendências de marketing para o próximo ano, não existe algo absolutamente novo ou que apareça do nada. Muitas das “inovações” que ganharão destaque em 2025 já começaram a dar sinais em 2024. Algumas crescerão e se consolidarão, enquanto outras perderão força e desaparecerão.
No mundo contemporâneo, também reconhecemos que as tendências não apontam para uma direção única. Por exemplo, ao mesmo tempo que vemos uma busca maior por uma alimentação mais saudável, também cresce o consumo de produtos que proporcionam prazer imediato, como doces, álcool e fast food. Há mais pessoas consumindo quinoa e outras mais consumindo bacon; mas, em muitos casos, é a mesma pessoa que opta por quinoa durante a semana para se entregar ao bacon no fim de semana.
Essas dualidades refletem a complexidade do comportamento humano e das escolhas de consumo. Como preconiza Malcolm Gladwell – autor reconhecido por analisar como ideias aparentemente pequenas podem crescer e transformar o comportamento de massas -, os modismos que estouram “do nada” já estão, na verdade, alicerçados em tendências e megatendências.
Alicerçado na preocupação com o planeta, veremos o crescimento do consumo consciente manifestado por meio do aumento no número de brechós, sebos e grupos de desapego, tanto digitais quanto físicos. Por outro lado, o mercado de fast fashion e ultra-fast fashion continuará forte, mostrando que os dois extremos coexistem.
Na prática: profissionais de marketing de moda precisam entender a essência de suas marcas e o comportamento de seus consumidores para, mais do que nunca, se posicionarem de forma clara e estratégica.
As colaborações entre marcas – conhecidas como collabs – começarão a perder força em 2025, enquanto empresas retardatárias começarão a fazer ações de licenciamento com cara de collab. O aumento das associações de marcas crescerá e, com isso, a percepção de inusitado reduzirá.
Pensando no consumo “newstálgico” – uma combinação das palavras novo (new, em inglês) e nostálgico – e na busca de diversão, veremos ainda algumas ações de colaborações relevantes. No entanto, também poderemos observar o fracasso de ações sem relevância e tardias. O mundo descobrirá que collab não é tendência, mas sim um modismo, semelhante à febre das paletas mexicanas.
Na prática: profissionais de marketing devem avaliar cuidadosamente os objetivos e os resultados esperados antes de investirem em ações porque “todo mundo está fazendo e nós precisamos fazer também”. Esse cuidado pode ajudar a manter o foco, economizar recursos e proteger a imagem da marca, evitando ações que não produzam efeito.
Como reflexo de movimentos conservadores nos Estados Unidos, é provável que vejamos no Brasil o enfraquecimento das ações de inclusão e diversidade. Também poderá haver uma aceleração do retorno ao trabalho 100% presencial, justificada por ganhos de produtividade e competitividade, embora isso também revele desafios de liderança em mobilizar equipes por propósito e exemplo. Por outro lado, empresas que mantiverem avanços em inclusão e diversidade e adotarem regimes híbridos poderão reforçar sua visibilidade ao demonstrar compromissos consistentes.
Aumentará a lacuna salarial entre as empresas mais e menos preocupadas com ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa, em português), inclusão e diversidade e bem-estar dos colaboradores. Ao mesmo tempo, veremos a geração Z preocupando novamente os gestores tradicionais com o aumento da adoção do polywork, modelo no qual profissionais atuam em múltiplos projetos ou trabalhos simultaneamente.
Com o reaquecimento do pensamento conservador, as ações de ESG voltarão a ser questionadas como penalidades para o crescimento. Na perspectiva do consumidor consciente, a adoção de práticas sustentáveis será menos revertida numa capacidade de cobrar mais, mas sim percebida como um qualificador para a adoção. ESG diferenciará cada vez menos.
Na prática: profissionais de marketing corporativo e marca empregadora devem avaliar os impactos dessas mudanças em seus colaboradores, potenciais funcionários e stakeholders. Ajustar a comunicação para reforçar valores alinhados ao posicionamento corporativo pode ser uma estratégia eficaz para fortalecer a reputação e a conexão com diferentes públicos.
À medida que fazer imagens de políticos lutando, bebês desfilando, fotos lindas de perfil de LinkedIn são normalizadas, aumentará a discussão sobre o uso consciente de Inteligência Artificial (IA), segurança de dados, direitos autorais e limites éticos.
Na prática: profissionais de marketing, desenvolvedores de produtos, comunicadores e designers precisam compreender o comportamento do consumidor, as curvas de adoção e as soluções tecnológicas disponíveis para entregar real valor em suas ofertas.
Tempo, silêncio e espaço seguem sendo recursos escassos e, por isso, são cada vez mais vistos como verdadeiros luxos. Com o aumento da conectividade, o uso constante de telas e os atendimentos automatizados por IA, crescerá a prática de buscar momentos desconectados da rede e conectados consigo e com poucas pessoas queridas. Cozinhar, jogos de tabuleiros e cartas, refeições com amigos, artes, práticas de esportes e o pertencimento a comunidades por interesses ganham destaque nesse cenário. O tempo para si e com seus queridos será cada vez mais valorizado.
Na prática: profissionais de marketing devem considerar a experiência pretendida ao consumidor como um todo, reconhecendo que, em muitos momentos, simplificar é a melhor solução. Por exemplo, evitar recursos digitais desnecessários, como apps ou cardápios online, pode criar experiências mais fluídas e agradáveis. Parafraseando Barry Schwartz, autor do livro O Paradoxo da Escolha, às vezes é melhor oferecer menos.
Com a evolução da conectividade e dos sistemas tecnológicos, rumaremos para experiências realmente omnichannel, uma estratégia de negócios que integra todos os canais de comunicação e venda de uma empresa. Cada canal desempenhará um papel estratégico na jornada do consumidor, desde a busca inicial, passando pela compra, até o consumo e o descarte do produto ou serviço.
Na prática: Cabe aos profissionais de marketing e de experiência do usuário mapear os pontos de atrito ao longo dessa jornada e identificar oportunidades para aumentar a integração entre os canais. Investir em ferramentas que conectem dados e personalizem as interações será essencial para oferecer uma experiência fluida e consistente ao consumidor.
Concluindo, não há nada de muito novo ou revolucionário, mas evoluções de movimentos que já observamos em 2024. O desafio está em identificar quais tendências fazem sentido para cada negócio e escolher qual onda surfar e qual deixar passar.
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