Na vida política, não basta ser eleito e trabalhar para a sociedade. É importante investir na comunicação política, ou seja, contar para o eleitor o que vai ser feito e depois voltar a ele para explicar o que e como foi feito. Entretanto, o tema é mais complexo do que simplesmente bater na porta do cidadão e fazer um relato. Existe todo um trabalho por trás. “A comunicação política vai além da política institucional, porque tem a ver com como as pessoas debatem assuntos de interesse comum”, explica Gabriel Rossi, coordenador do Master Comunicação Política e Sociedade da ESPM.
Segundo o especialista, a comunicação política está fundamentalmente relacionada com poder, pois coloca alguém e o consolida em uma posição de influência. E, assim como em um posicionamento de marca, a maneira como essa pessoa fala e interage com seu público exige planejamento. Para que seja efetivo, Rossi aponta algumas etapas:
Todo político tem um plano de poder, que é uma construção de carreira na esfera pública. Há um planejamento de atuação que define aonde ele quer chegar e o que é necessário fazer para percorrer esse caminho, e a comunicação política ajuda nesse processo.
De acordo com o professor, existem quatro arquétipos que podem ser explorados por um político que almeja o poder:
A partir da escolha do arquétipo, deve-se fazer um plano de comunicação, que inclui a escolha da linguagem e como o político vai se conectar com o eleitor. Para isso, é necessário entender o espírito do tempo, o que impacta a vida do eleitor e o que ele espera da sua vida. É comum fazer pesquisas para perceber e entender o ambiente externo. Segundo Rossi, isso é a essência do marketing e da comunicação política e traz a solução para a demanda. “A pesquisa qualitativa traz profundidade e nuances”.
Pensar no investimento financeiro e no tempo de concretização de um projeto também é parte do planejamento da equipe de comunicação. Contabilizar os custos e fazer um cronograma de execução é fundamental, porque as pessoas vão ser comunicadas sobre o que vai ser feito e em quanto tempo, e elas vão cobrar esse comprometimento.
Existe uma gama de meios e possibilidades de falar com o cidadão e isso não se resume ao digital. Ao contrário. “No interior do Brasil, o rádio tem centralidade na vida das pessoas, assim como a TV”, diz Rossi. “Tem que usar diferentes canais para diferentes públicos e talvez a oralidade seja diferente, de acordo com situação, a mídia e o público. A internet não resolve tudo no Brasil, que é continental, complexo e com muita gente usando mídias analógicas”.
Quem busca se manter no poder sabe que precisa estar próximo das pessoas e criar uma relação de intimidade. Significa sair do contexto do algoritmo dos seguidores nas redes sociais e buscar alternativas para passar a sua mensagem sem essa interferência da “plataformização da vida que modula os comportamentos”, enfatiza Rossi.
A equipe tem que sair do gabinete e ir para a rua conversar com os moradores para saber o que está acontecendo, entender o seu cotidiano e depois ir na casa das pessoas e contar o que foi feito, porque elas vão espalhar isso no bairro. Essas pessoas são influenciadoras por natureza, assim como os líderes comunitários.
Política se faz com alianças, portanto, é preciso definir quais serão as estratégias que o político vai orquestrar para se associar a aliados, a fim de desenvolver e colocar um projeto na rua. “Até quem não foi eleito pode ser trabalhado, porque é um projeto contínuo”, explica Rossi. “Quem não está no poder tem que fazer aliança com ONGs e associações de classe, por exemplo”.