Delegar tarefas é uma parte fundamental do trabalho de um líder e pode impactar tanto a dinâmica da equipe quanto os resultados alcançados por ela. O ato de delegar tarefas não se restringe aos gestores ou ao ambiente de trabalho. Delegar é parte do nosso dia a dia: em casa, por exemplo, isso acontece na divisão de tarefas, como quem vai tirar o lixo ou a louça.
Mas qual é o significado da palavra delegar e como funciona no trabalho em equipe?
“Delegar é distribuir parte ou todo o trabalho para uma pessoa ou um grupo de pessoas”, diz Gabrielle Viegas Foletto, professora de pós-graduação e in-company da ESPM e consultora de RH estratégico. “É compartilhar a responsabilidade para fazer um trabalho.”
Folletto ressalta que é importante não confundir delegar com delargar. Apesar de similares, as palavras têm significados bem diferentes:
A presença, delegação e encorajamento de um líder influenciam a performance de uma equipe. É o que sugere um estudo publicado no periódico Frontiers in Psychology em janeiro de 2025. O contexto analisado foi do impacto da liderança no modelo de trabalho híbrido em empresas de TI na Coreia do Sul.
Segundo a pesquisa, funcionários veem a delegação da autoridade como um sinal de confiança e reconhecimento e buscam reciprocar, mantendo uma atitude positiva e engajando em comportamentos benéficos para a empresa.
A delegação exige cuidado da parte do líder. De acordo com Gabrielle Viegas Foletto, é importante considerar fatores como a senioridade da equipe. Ao delegar uma tarefa a um estagiário, por exemplo, o gestor terá que fazer um acompanhamento mais frequente enquanto o mais jovem aprende. Já um colaborador mais experiente pode receber maior autonomia para completar a atividade.
“Um líder que sabe delegar está fazendo bem seu papel”, explica a professora. “O papel da liderança não é estar no operacional. Ela deve saber fazer o operacional para ensinar se for preciso, mas deve estar pensando na estratégia.”
A prática pode fazer com que todos, gestores e colaboradores, tenham bons resultados e cresçam profissionalmente. Um estudo de 2017 da Dinamarca, publicado na National Library of Medicine, revelou que, em alguns casos, a boa delegação pode fazer bem até para a saúde. Após analisar as respostas de 621 funcionários de clínicas gerais a um questionário, pesquisadores chegaram à conclusão que a delegação de tarefas deixou as equipes médicas mais satisfeitas e relacionaram esse resultado a um melhor tratamento dos pacientes.
“Se tenho uma liderança que consegue delegar e confiar na equipe, já suponho que naquela equipe haja confiança, o que é um excelente indicador de que é uma equipe que funciona bem.” Com isso, a liderança adquire mais tempo livre para aprender e assumir novas funções, movimento que pode levar à evolução profissional.
Mas e quando a liderança tem dificuldade em delegar tarefas? Entre os perfis comportamentais, o centralizador tende a ser exigente e rápido nas entregas.
“O líder que sabe que faz a tarefa de forma rápida e com qualidade geralmente acha que as outras pessoas não farão com a mesma qualidade ou rapidez”, exemplifica Foletto. “Entre eu delegar para alguém e precisar ensinar a pessoa ou ficar tirando dúvidas, prefiro fazer eu mesmo porque eu me garanto, sabe?”
Para a especialista, a principal dor para quem tem dificuldade de delegar é a capacidade de compartilhar a responsabilidade. “Essa dificuldade, pela pessoa ser muito centralizadora, mostra também a dificuldade de confiar no outro.”
A desconfiança pode surgir também a partir da preocupação de que o trabalho não será feito da forma que o gestor faria — ou de que o colaborador faça melhor: “O que barra, muitas vezes, é o próprio ego da liderança”.
“O bom líder é aquele que se torna indispensável porque a equipe consegue funcionar sem ele para que possa crescer para outras áreas e desafios”, aponta Foletto.
Outro perfil que pode ter dificuldade em delegar tarefa é o dos que acabaram de ser promovidos a um cargo de liderança ou chefia. Veja algumas dicas que podem ajudar nessa nova etapa da carreira:
Busque autoconhecimento
“Qualquer pessoa que está assumindo um cargo de liderança, ela precisa saber quais são as suas próprias tendências de comportamento, que muitas vezes são nossos pontos cegos”, indica a professora. Conhecer o próprio perfil pode ajudar a liderança descobrir quais são suas tendências — centralizadora, descentralizadora etc.
Descubra quais são seus pontos fortes e fracos
Essas tendências de comportamento podem revelar pontos que a pessoa precisa trabalhar, quais são suas forças e onde pode melhorar. “Nossas tendências de comportamento nos trazem consciência”, diz. “Eu recomendo, sem sombra de dúvidas, autoconhecimento para buscar entender as suas tendências e daí poder atuar naquilo que precisa melhorar.”
Terapia
Segundo a especialista, o processo terapêutico é interessante para quem tiver interesse em explorar suas questões mais a fundo.
Testes e ferramentas de análise de perfil comportamental
Há diversos testes virtuais, geralmente pagos, onde profissionais fazem uma interpretação dos seus resultados. Gabrielle Viegas Foletto também é autora do livro A Arte de Melhorar a Vida, que se inspira na ferramenta A Roda da Vida, que ajuda a avaliar e identificar áreas da vida que precisam de mais atenção, para propor um exercício de autorreflexão e autoconhecimento.