A moda é uma indústria em constante transformação, que reflete mudanças sociais, culturais e comportamentais no presente, enquanto já está de olho no futuro. Dinâmica e efêmera, ela não apenas acompanha tendências, mas também acaba mobilizando questões como sustentabilidade, inovação e consumo consciente. Porém, essa evolução acontece de maneiras distintas em diversas partes do mundo, o que traz desafios únicos para quem atua no marketing de moda.
Como comunicar de forma ágil em um setor tão volátil e com tantas nuances? Como alinhar práticas sustentáveis às expectativas do consumidor? Em um mercado que exige criatividade, tecnologia e conexão com o público, o marketing de moda precisa ser tão visionário e antenado quanto as coleções que as marcas lançam.
O tema foi abordado no episódio #80 do Lifelong Cast, podcast da ESPM sobre o futuro do trabalho e dos negócios, que contou com a participação de Katherine Sresnewsky e Andreia Meneguete. Kathe é coordenadora do curso de Comunicação e Publicidade da ESPM e curadora dos Hubs de Luxo, Moda e Beleza e Moda e Luxo da ESPM. Andreia é coordenadora de pós-graduação em Negócios e Marketing Digital para Moda e Beleza da ESPM
Atualmente, a sustentabilidade é um dos temas mais relevantes no mundo da moda. Conceitos como guarda-roupa inteligente, consultoria de estilo e moda circular estão conquistando espaço entre os consumidores. Destaca-se também o slow fashion – movimento que prioriza a qualidade e a durabilidade das roupas em detrimento da quantidade.
Porém, como explica Katherine, a adoção destas práticas acontece de maneira distinta ao redor do mundo. Na visão da especialista, essa adoção vem ocorrendo em três níveis:
1) No primeiro estão os países escandinavos, onde vimos os primeiros varejistas de fast fashion – modelo caracterizado por peças baratas, com qualidade inferior e tempo de vida reduzido – levantarem a bandeira da sustentabilidade, como o grupo H&M.
2) No segundo, que inclui Europa e Estados Unidos, também há iniciativas importantes, mas ainda não tão difundidas em larga escala.
3) Já no terceiro, onde se encontra o Brasil, há um grande distanciamento dessa conscientização, e o consumidor ainda exige muito pouco essa responsabilidade das marcas. “Isso dificulta a atuação do marketing de moda quanto a essa temática no mercado brasileiro”, explica a coordenadora.
Na contramão, vem uma tendência que faz conexão com outros públicos. “Hoje temos uma nova classificação chamada ultra fast fashion, que é muito mais rápida do que o fast fashion tradicional, com uma produção em altíssima escala “, declara Andreia.
Os dois modelos coexistem, atendendo a públicos diversos. Esse paradoxo reflete os diferentes nichos que o marketing de moda precisa abordar, trazendo desafios significativos, especialmente no Brasil, ao comunicar e engajar o público em torno da sustentabilidade.
Com o público presente em plataformas como TikTok, Instagram e Pinterest, o marketing de moda precisou se adaptar, trazendo uma comunicação rápida, impactante e alinhada às novas linguagens digitais. “Os algoritmos hoje demandam que a mensagem capte a atenção do consumidor em poucos segundos. Esse é o maior desafio: entender as dinâmicas efêmeras da comunicação atual”, observa Andreia.
Outra destaque são as live shops, um formato de vendas ao vivo que combina interatividade e conveniência, e ganhou força durante a pandemia de 2020. Segundo Kathe: “elas têm uma taxa de conversão até cinco vezes maior que o e-commerce tradicional. Elas oferecem ao consumidor uma experiência em tempo real, onde ele pode tirar dúvidas e comprar imediatamente”.
Entretanto, no Brasil, a adoção dessas inovações ainda enfrenta desigualdades. Enquanto grandes grupos de moda possuem recursos para acompanhar e implementar essas tendências, marcas menores encontram dificuldades até para estruturar o básico, como integração de estoques e ferramentas digitais. Essa disparidade representa mais um desafio significativo para o marketing de moda no país.
A tecnologia é uma aliada cada vez mais essencial para o marketing de moda. Ferramentas como a inteligência artificial estão sendo usadas para personalizar campanhas, identificar e prever comportamentos de consumo e até criar cenários de shooting (ambientes físicos e visuais onde são feitas fotos ou filmagens).
No segmento de luxo, a tecnologia está à frente, com empresas integrando seus estoques no mundo inteiro e personalizando o atendimento, mas no Brasil a realidade é outra. “Muitas marcas brasileiras ainda não conseguem implementar sistemas básicos de CRM (Customer Relationship Management ou Gestão de Relacionamento com o Cliente), por exemplo, e ainda enfrentam dificuldades operacionais que limitam sua capacidade crescer e competir”, finaliza Kathe.
Quer saber mais sobre o assunto? Assista ao episódio completo do Lifelong Cast #80 sobre as Tendências do Marketing de Moda: