Uma área equivalente a dois Distritos Federais foi o total do desmatamento registrado na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os 11.088 km² desmatados representam um aumento de 9,5% em relação a igual período anterior — e um recorde em 12 anos. “Esse assunto, que já era muito importante na pauta nacional, ganhou uma relevância ainda maior na gestão atual justamente por não ser priorizado”, explica Marcus Nakagawa, professor da ESPM e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental. “Isso se refletiu em uma maior liberdade para aqueles que já praticavam essas ações.”
Apesar de a pandemia ter trazido à tona as questões sociais, ambientais e relativas à saúde, no caso do desmatamento da Amazônia e das queimadas no Pantanal, o impacto gerado sobre as pessoas das regiões mais distantes nem sempre segue o mesmo ritmo. “Esses biomas influenciam diretamente em vários aspectos do dia a dia no País como um todo, e qualquer alteração nesse ritmo gera desequilíbrios em todo o ecossistema”, avalia. “Nas grandes capitais, a muitos mil quilômetros de distância, não há uma percepção e relação muito clara de como isso se dá no dia a dia. Por exemplo, da importância dos rios amazônicos flutuantes para as lavouras de todo o país, com efeitos que se refletem nos insumos para a alimentação.”
Além disso, a reboque das queimadas e da derrubada de árvores, acontecem muitos outros problemas associados, que provocam a perda da fauna, da flora e de espécies raras, a poluição e o assoreamento dos rios, só para citar alguns.
Para o especialista, o problema do desmatamento deveria elevar ainda mais a discussão sobre o desenvolvimento sustentável. Não apenas do ponto de vista da questão ambiental, mas também do social — porque muita gente depende da floresta para sobrevivência ou de meios mais sustentáveis para a retirada dos insumos desses recursos naturais.
O modelo econômico, de acordo com Nakagawa, precisa ser repensado para absorver as questões sociais dessas populações que vivem às margens das florestas e dos grandes rios. “Não se trata apenas de visão economicista, mas de agregar valores nos quais se desenvolva uma boa relação com as florestas de pé, com os ribeirinhos, com todos os povos locais”, defende. Como um modelo positivo, ele cita o recolhimento de insumos raros e únicos para biotecnologia para a produção de fármacos, de cosméticos e de outros produtos.
Além disso, é preciso entender como as questões econômicas impactam diretamente consumidores que estão mais distantes: a partir do momento em que se consome o produto de uma empresa, de um frigorífico ou de um supermercado que está coadunado com esse desmatamento, há uma “cumplicidade e corresponsabilidade” nesse processo. “Tanto que já estamos observando o boicote de outros países em relação à origem de nossas matérias-primas e outros produtos, cuja consistência legal é muito mais forte e a questão ambiental não fica só no papel”, lembra. “Esse consumo consciente, muito ligado ao desenvolvimento sustentável, acaba sendo um dos valores pelos quais o próprio consumidor não elege determinado produto por estar envolvido com questões que, para ele, possuem um valor agregado fundamental.”
De acordo com a pesquisa “Vida Saudável e Sustentável 2020: Um Estudo Global de Percepções do Consumidor”, lançada em outubro do ano passado e desenvolvida em parceria no Brasil pela consultoria GlobeScan e o Instituto Akatu, esgotamento de recursos naturais é sério para 82% dos brasileiros (60% na média dos 27 países pesquisados) e escassez de água doce é preocupante para 81% (ante 52% na média dos países).
As questões ambientais se destacaram:
Uma das grandes dificuldades para as causas ambientais é a polarização. “As pessoas devem entender que não podem ficar esperando somente uma fonte, uma referência, especialmente neste momento em que as posições políticas vêm interferindo em várias temáticas”, alerta o professor. “É preciso ter um olhar mais diverso, buscar várias fontes — como fazem os pesquisadores e o Jornalismo de credibilidade, e não só as que se aproximam do seu pensamento ou modelo político-ideológico das discussões de redes sociais. É preciso furar essas bolhas de informações trazidas apenas pelos algoritmos e robôs.”
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Dica de leitura para ser mais sustentável
No livro 101 Dias Com Ações Mais Sustentáveis Para Mudar O Mundo — vencedor do Prêmio Jabuti, na categoria Economia Criativa — o professor Marcus Nakagawa enumera ações sobre como colocar a sustentabilidade em prática por todos os interessados em colocar a mão na massa, de verdade. “Esta é a década da ação para podemos atingir os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU.”
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