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Floresta de pé: ‘É preciso agregar valores nos quais se desenvolva uma boa relação com os povos locais’

Patrícia Rodrigues
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Para Marcus Nakagawa, coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS), modelo econômico precisa ser repensado para absorver as questões sociais de quem vive às margens das florestas e dos grandes rios

Uma área equivalente a dois Distritos Federais foi o total do desmatamento registrado na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os 11.088 km² desmatados representam um aumento de 9,5% em relação a igual período anterior —  e um recorde em 12 anos. “Esse assunto, que já era muito importante na pauta nacional, ganhou uma relevância ainda maior na gestão atual justamente por não ser priorizado”, explica Marcus Nakagawa, professor da ESPM e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental.  “Isso se refletiu em uma maior liberdade para aqueles que já praticavam essas ações.”

Apesar de a pandemia ter trazido à tona as questões sociais, ambientais e relativas à saúde, no caso do desmatamento da Amazônia e das queimadas no Pantanal, o impacto gerado sobre as pessoas das regiões mais distantes nem sempre segue o mesmo ritmo. “Esses biomas influenciam diretamente em vários aspectos do dia a dia no País como um todo, e qualquer alteração nesse ritmo gera desequilíbrios em todo o ecossistema”, avalia. “Nas grandes capitais, a muitos mil quilômetros de distância, não há uma percepção e relação muito clara de como isso se dá no dia a dia. Por exemplo, da importância dos rios amazônicos flutuantes para as lavouras de todo o país, com efeitos que se refletem nos insumos para a alimentação.”

Além disso, a reboque das queimadas e da derrubada de árvores, acontecem muitos outros problemas associados, que provocam a perda da fauna, da flora e de espécies raras, a poluição e o assoreamento dos rios, só para citar alguns.

Ampliar o desenvolvimento sustentável

Para o especialista, o problema do desmatamento deveria elevar ainda mais a discussão sobre o desenvolvimento sustentável. Não apenas do ponto de vista da questão ambiental, mas também do social — porque muita gente depende da floresta para sobrevivência ou de meios mais sustentáveis para a retirada dos insumos desses recursos naturais.

O modelo econômico, de acordo com Nakagawa, precisa ser repensado para absorver as questões sociais dessas populações que vivem às margens das florestas e dos grandes rios. “Não se trata apenas de visão economicista, mas de agregar valores nos quais se desenvolva uma boa relação com as florestas de pé, com os ribeirinhos, com todos os povos locais”, defende. Como um modelo positivo, ele cita o recolhimento de insumos raros e únicos para biotecnologia para a produção de fármacos, de cosméticos e de outros produtos.

Consumo consciente

Além disso, é preciso entender como as questões econômicas impactam diretamente consumidores que estão mais distantes: a partir do momento em que se consome o produto de uma empresa, de um frigorífico ou de um supermercado que está coadunado com esse desmatamento, há uma “cumplicidade e corresponsabilidade” nesse processo. “Tanto que já estamos observando o boicote de outros países em relação à origem de nossas matérias-primas e outros produtos, cuja consistência legal é muito mais forte e a questão ambiental não fica só no papel”, lembra. “Esse consumo consciente, muito ligado ao desenvolvimento sustentável, acaba sendo um dos valores pelos quais o próprio consumidor não elege determinado produto por estar envolvido com questões que, para ele, possuem um valor agregado fundamental.”

O brasileiro está mais consciente?

De acordo com a pesquisa “Vida Saudável e Sustentável 2020: Um Estudo Global de Percepções do Consumidor”, lançada em outubro do ano passado e desenvolvida em parceria no Brasil pela consultoria GlobeScan e o Instituto Akatu, esgotamento de recursos naturais é sério para 82% dos brasileiros (60% na média dos 27 países pesquisados) e escassez de água doce é preocupante para 81% (ante 52% na média dos países).

As questões ambientais se destacaram:

  • 56% dos brasileiros dizem ter mudado opções de compra e 54% afirmaram ter expressado sua opinião online sobre as atitudes individuais adotadas para fazer frente aos problemas econômico, social, ambiental e político do seu interesse;
  • 44% dizem ter recompensado as empresas socialmente responsáveis comprando seus produtos ou falando positivamente. Esse número revela-se bastante consistente, pois praticamente repete o índice do ano passado, de 41%.
  • Enquanto 4 entre 10 consumidores recompensam empresas responsáveis, outros 34% já consideraram fazer e que, portanto, apenas 25% dos consumidores brasileiros (1 em 4) mostram-se desconectado das atitudes socialmente e ambientalmente responsáveis das marcas.

Polarização de ideias

Uma das grandes dificuldades para as causas ambientais é a polarização. “As pessoas devem entender que não podem ficar esperando somente uma fonte, uma referência, especialmente neste momento em que as posições políticas vêm interferindo em várias temáticas”, alerta o professor. “É preciso ter um olhar mais diverso, buscar várias fontes — como fazem os pesquisadores e o Jornalismo de credibilidade, e não só as que se aproximam do seu pensamento ou modelo político-ideológico das discussões de redes sociais. É preciso furar essas bolhas de informações trazidas apenas pelos algoritmos e robôs.”

QUIZ: De 0 a 10, qual o seu grau de consciência de consumo?

Você procura informações e conteúdos de fontes consolidadas e reconhecidas?
Sim
Não

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Toma cuidado com o greenwashing, uma estratégia de marketing enganosa presente em muitos produtos e serviços para induzir o consumo?
Sim
Não

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Confere se os selos de sustentabilidade ou sociais são reais ou criados pela própria empresa?
Sim
Não

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Os produtos que costuma escolher atendem realmente a alguma questão social e/ou ambiental?
Sim
Não

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Toma atitudes no dia a dia que diminuam o seu impacto ou espera que as iniciativas partam apenas de grandes empresas e órgãos governamentais?
Sim, tomo atitudes
Não, só espero a ação dos órgãos governamentais e empresas

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Ensina outras pessoas (mais velhas ou mais novas) sobre atitudes sustentáveis?
Sim
Não

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Quando o assunto é sustentabilidade, responde uma coisa, mas na prática faz outra?
Sim
Não

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Procura comprar algo que é revertido para alguma causa, mesmo que isso signifique pagar um valor um pouco mais alto?
Sim
Não

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Apoia, de alguma maneira, ONGs e projetos sociais que já existem?
Sim
Não

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Faz doações ou atua como voluntário doando seu tempo e conhecimento para alguma causa?
Sim
Não

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Dica de leitura para ser mais sustentável

No livro 101 Dias Com Ações Mais Sustentáveis Para Mudar O Mundo — vencedor do Prêmio Jabuti, na categoria Economia Criativa — o professor Marcus Nakagawa enumera ações sobre como colocar a sustentabilidade em prática por todos os interessados em colocar a mão na massa, de verdade. “Esta é a década da ação para podemos atingir os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU.”

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Tags:
Patrícia Rodrigues

Jornalista colaboradora do Trendings.

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