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Economia circular, produtos mais duráveis e ética na cadeia produtiva. Conheça algumas tendências que estão transformando a indústria da moda

Por Lorena Borja*

Sustentabilidade é um termo amplamente usado no mercado de Moda para avaliar a relação entre o suprimento do mercado e a preservação de recursos para o futuro.  Inicialmente o termo era direcionado aos recursos naturais, no entanto hoje quando falamos em um negócio sustentável, pensamos para além dos naturais, nos referimos também aos humanos, no impacto social que a cadeia de moda oferece.  Portanto, para se ter um negócio sustentável, precisamos pensar em ecossistemas de funcionamento, em que proporcionamos ambientes propícios a gerar um futuro positivo para o meio ambiente e social. Afinal, tudo está conectado.

E você sabia que a indústria da moda é responsável pela emissão de 8% de gás carbônico no mundo, ficando atrás apenas do setor petrolífero, segundo dados da ONU?  O poliéster, que é uma das fibras sintéticas mais usadas na moda, produz emissão anual de 32 das 57 milhões de toneladas globais e não é biodegradável. Mas ele não é o único vilão no mercado, pois o algodão mesmo sendo uma fibra biodegradável é a que mais consome água em sua produção.

Há uma grande discussão em torno do fato de que é urgente desenvolver mudanças estruturais tanto na forma como produzimos quanto em como consumimos moda, para que futuramente tenhamos uma indústria com efeitos positivos para todos. Mas este ainda é um desafio gigante para o mercado da moda.

O relatório de 2024 do Business of Fashion State of Fashion mostra que os executivos de moda identificam sustentabilidade como o principal desafio para o futuro dos negócios mas também como a principal oportunidade.

O tamanho do desafio

Estamos na década em que começamos a cumprir os ODS, que são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Definidos para 2030, eles serão cada vez mais relevantes para as marcas que estão reavaliando suas prioridades para deixar um legado positivo para o planeta. Em 2015, a Assembléia Geral das Nações Unidas, composta por 193 Estados-membros da ONU definiu metas mundiais para um futuro sustentável. Partindo de quatro principais dimensões: social, ambiental, econômica e institucional, os ODS defendem que é necessário levar o mundo a um caminho sustentável com medidas transformadoras. Assim, foram definidos 17 objetivos e 169 metas globais interconectadas, a serem atingidos até 2030, como ficou conhecida, “Agenda 2030”.

A COP, Conferência das Partes, é a reunião atual que traz representantes de países que estão comprometidos a reduzir a emissão dos gases de efeito estufa. A cada ano se reúnem para discutir, medir e redirecionar ações que possam conter o aquecimento global, mediante os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODSs). Em 2025 a reunião da 30ª COP será no Brasil. A reunião fala sobre diversas ações e indústrias, com a moda extremamente representativa, devido ao seu nível de poluição e necessidade de mudanças. Estamos no caminho, mas ainda distantes de cumprir com o básico das metas traçadas. Mas por que é tão difícil cumprir com as metas e seguir rumo a um futuro mais sustentável para a moda?

Os desafios estão ligados ao fato de que somos uma indústria toda pensada em um modelo de economia extrativista, que retira os recursos naturais para processá-los industrialmente e então comercializá-los. É este modelo que precisa ser repensado, pois o extrativismo remove recursos sem pensar em como a natureza irá se regenerar após este processo. Os recursos naturais são limitados e o ritmo de extração tem sido acelerado.

À parte do sistema de extração, ainda há uma característica chamada “take-make-waste”, que significa em português “extrair-produzir-desperdiçar”. Segundo a Ellen MacArthur Foundation, é um “sistema em que os recursos são extraídos para fabricar produtos que eventualmente se tornam resíduos e são desperdiçados”.  O frequente estímulo ao consumo de produtos que têm um curto ciclo de vida, sem que se pense onde irão parar estes produtos após o uso, gera este excedente que será desperdiçado rapidamente.  Estamos justamente no ponto de virada, em que o mercado da moda tem visto a urgência de se reinventar para que possamos vislumbrar um futuro positivo para pessoas e planeta.

A principal questão com relação à Sustentabilidade é que ela acontece através de um ecossistema, ou seja, ações isoladas não farão o efeito necessário para que tenhamos um futuro mais sustentável na moda. Empresas e consumidores terão de fazer cada um a sua parte.  A solução está em reestruturar a forma como produzimos, comercializamos e também consumimos moda. As soluções são multidisciplinares para um mercado que é extremamente complexo. Grande desafio, mas também inúmeras oportunidades para quem deseja trabalhar para construir um futuro sustentável de fato.

Oportunidades

Em busca de alternativas mais sustentáveis, o mercado procura reinventar-se e inúmeras oportunidades se apontam em um futuro mais positivo para a moda. A seguir, vamos falar de algumas.

A maior oportunidade está no desenvolvimento da economia circular em substituição à economia linear ou extrativista. Economia circular propõe que os produtos tenham um novo ciclo de vida após o primeiro descarte, eliminando assim, parte dos resíduos que seriam gerados para o meio ambiente. Para que isto aconteça, é necessário que os produtos tenham qualidade para que assim, seu ciclo de vida seja maior.

A ThredUp, uma empresa norte-americana de revenda de roupas usadas, elabora relatórios anuais para o setor e a previsão é que o mercado global de peças de segunda mão atinja a marca de US$ 350 bilhões em 2028. Em 2023 o resale, ou brechós, cresceram 15 vezes mais rápido do que o mercado tradicional de moda. E as marcas de luxo têm capitalizado com a tendência de aumento no consumo de peças de segunda mão, provando que peças com mais qualidade têm mais chance de ter mais do que um ciclo de vida. O mercado de luxo tem se beneficiado com este fator, e as peças vintage de segunda mão têm adquirido valor de peças de arte, pois a escassez faz com que os artigos vintage tenham um valor inestimável.

E você sabia que até 80% do valor do impacto ambiental de um produto é determinado na fase do design? Na Europa há uma nova regulamentação que entrará em vigor em 2025, que estabelece padrões mínimos de design para todos produtos individuais vendidos na UE. Isso inclui requisitos em volta reciclabilidade, durabilidade, reutilização, reparabilidade e uso de substâncias perigosas.

Há uma grande oportunidade para se repensar a durabilidade dos produtos de moda, assim como já imaginar na fase de ideação de um produto como ele será reutilizado ou reciclado. Com o produto já pensado e planejado nesta lógica da reutilização ou reciclagem desde seu início, é possível reduzir um dos grandes causadores do aquecimento global, que é o resíduo têxtil. Resíduos podem ser transformados em matéria-prima, ou seja, em valor novamente. Já existem start-ups especializadas em rastrear a cadeia têxtil no Brasil como a Ecotrace, que monitora a cadeia têxil, evitando o greenwashing e dando mais credibilidade a empresas que realmente querem fazer parte da transição para uma economia sustentável. Este tipo de rastreamento faz um monitoramento não só do que é produzido, mas também dos impactos gerados após a produção, por meio de sistemas que permitem a identificação dos produtos desde sua origem até seu descarte.

Ao falarmos em sustentabilidade, também é necessário mencionar que uma cadeia produtiva ética envolve não só o meio ambiente, mas as pessoas que estão envolvidas no processo de produção e comercialização. O movimento   que existe há mais de 10 anos busca relações mais justas de trabalho para quem está envolvido na indústria da Moda. É um movimento de educação e conscientização frequente do mercado. Ele sempre nos lembra em como é importante pensar e fazer acontecer um ecossistema produtivo mais justo para todos que nele estão envolvidos, assim poderemos ter um futuro sustentável e de oportunidades para a moda sustentável.

As oportunidades para reinventarmos este mercado são inúmeras, desde o desenvolvimento de novas matérias-primas biodegradáveis e reutilizáveis, à circularidade no sistema de produção e revenda, rastreamento, valorização das pessoas que estão no processo, comunicação sobre como fazer e comprar melhor. Cada um precisa encontrar sua forma de contribuir para este novo mindset de mercado.

* Lorena Borja é professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM e consultora em foresight estratégico, com foco em desenvolvimento de produtos e branding para Moda e Beleza .

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Hub Moda e Luxo

O Hub de Moda e Luxo surge como um laboratório dinâmico para potencializar ideias, carreiras, negócios e agregar valor para todos os membros do ecossistema brasileiro. Possui o propósito de impulsionar o futuro do mercado de moda e luxo ao criar um local onde estudantes, profissionais e empresas podem se conectar, aprender e cocriar valor individual e coletivo. Para saber mais, acesse: https://www.espm.br/modaeluxo/

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