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O que é salário emocional?

Isabela Moreira
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Tendência propõe que ser bem pago vai além do valor monetário. O salário emocional é um conjunto de benefícios que valorizam o conhecimento e as habilidades dos colaboradores 

O salário emocional é uma tendência silenciosa. Segundo o Guia Salarial 2025 da consultoria Michael Page, trata-se de “um coquetel de ambiente de trabalho, flexibilidade, propósito, desenvolvimento e bem-estar”, ou seja, é um complemento ao salário fixo. 

Isso quer dizer que o salário emocional engloba os incentivos não financeiros que permitem que os colaboradores tenham qualidade de vida, o que inclui manter um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e preservar a saúde tanto física quanto mental.

O cálculo do salário emocional

Ao fazer a composição de uma remuneração, as empresas mexem com os salários fixo e variável. O salário variável é a parte da remuneração que não é fixa, dependendo do funcionário e da empresa, como comissões e bônus, por exemplo. Dentro disso, há dimensões: para curto ou médio e longo prazo.

Giancarlo Alcalai, professor do MBA Executivo em Marketing da ESPM, explica a diferença entre as duas opções: “Se você faz para médio e longo prazo, está convidando o profissional a partilhar do seu propósito para o futuro. Isso exige que o colaborador esteja alinhado com a estratégia e a missão, e vá trabalhando com a empresa ao longo dos anos”.

Atualmente, no entanto, as corporações estão dando mais atenção para o curto prazo. “Quando você tem uma remuneração de curto prazo, que é o bônus, tem que fechar o ano e ponto”, afirma o professor. “Os salários são um pouco mais achatados e o variável é até robusto. Só que você sofre uma pressão violenta para atingi-lo.”

O que constitui o salário emocional

O salário emocional é subjetivo: cada pessoa valoriza diferentes incentivos de acordo com seus próprios interesses. Enquanto um colaborador se preocupa em ter um horário flexível, outro quer participar dos programas de mentoria que a empresa oferece.

“Temos casos aqui na empresa em que buscamos um alto executivo e ele abre mão”, cita Alcalai. “O salário é legal, o cargo pode ser legal, mas ele olha e fala ‘esse convênio não é bom’. Então, se você for ver, o convênio também faz parte disso. Vimos também as empresas começando a dar foco em programas e investindo em saúde mental.”

A Academia para Inovação do RH (AIHR, na sigla em inglês) levanta outros aspectos que configuram o salário emocional. Veja abaixo:

  • Trabalho flexível: permite que o profissional equilibre melhor as tarefas do trabalho com a vida pessoal. O trabalho híbrido e remoto também oferecem mais autonomia aos trabalhadores.
  • Reconhecimento e recompensas: apreciar e reconhecer as contribuições dos profissionais da empresa por meio de programas e prêmios.
  • Desenvolvimento pessoal: oferta de oportunidades onde os colaboradores possam desenvolver suas habilidades, como programas de treinamento, mentoria e avanço na carreira.
  • Programas de bem-estar: acesso a iniciativas voltadas para o bem-estar dos funcionários. Exemplo: serviços de terapia, aulas de fitness e exames médicos. 
  • Ambiente inclusivo: promoção de um ambiente de trabalho diverso e inclusivo, criando uma atmosfera na qual os colaboradores se sintam aceitos e valorizados.

“Tem companhias que acabam tendo uma visão um pouco mais definida sobre isso. Então procura ter um trabalho flexível, 4×1, quatro dias no escritório e um em casa, por exemplo”, aponta o professor. “As companhias, de certa maneira, começam a estruturar um outro pacote para poder gerar essa atração.”

A atração, no caso, é mais voltada para os jovens, principalmente os millennials e a geração Z: “Os mais maduros ainda querem estar em um ambiente legal, ter um propósito, ganhar bem e ter uma remuneração variável também interessante. O restante é importante, mas pode vir, não é o que vai atrair a pessoa”.

Mas é o que pode atrair os millennials ou a geração Z. “Talvez o salário emocional seja um atrativo mais importante para eles.” Com isso, empresas passam a oferecer ambientes diferentes, permitem a presença de pets, não têm dress code e dão diferentes tipos de vales, ingressos etc.

Pesquisas sobre salário emocional

O salário emocional é um tema que só nos últimos anos começou a ser pesquisado por acadêmicos, principalmente no Brasil, onde essa discussão ainda está surgindo. Um exemplo disso é o estudo “Salário emocional como ferramenta de gestão: importância atribuída por profissionais de enfermagem”, que foi publicado na plataforma SciELO Brasil em 2023 e realizado com 172 funcionários de um hospital oncológico de São Paulo.

Os participantes responderam a um questionário contendo 40 componentes do salário emocional. “Enfermeiros destacaram a oportunidade de progressão na carreira e sentir-se respeitados; e os técnicos e auxiliares se sentiram respeitados pelos colegas.” A pesquisa também revelou que a atuação colaborativa e a importância social do trabalho são fatores que eles consideram fundamentais.

A conclusão foi de que a maioria dos componentes do salário emocional é valorizada, principalmente aqueles relacionados às relações profissionais e condições de trabalho. “Os achados podem direcionar políticas de pessoal nas organizações, favorecendo a satisfação laboral, a qualidade assistencial e os resultados organizacionais.”

Um estudo da empresa de pesquisa Gallup estima que mais de 75% da força de trabalho global não está engajada com o trabalho, o que custa US$ 8,9 trilhões para a economia mundial anualmente. Segundo a Fox Business, o salário emocional tem sido uma medida adotada pelas empresas para mudar esse panorama.

A pesquisa revela ainda que, quando são reconhecidos pelos seus esforços, os profissionais tendem a ficar na mesma empresa por mais tempo.

Realidade

Já uma outra investigação conduzida por especialistas da Universidade Católica Luis Amigó, na Colômbia, traz um contraponto. Publicada no periódico Indian Journal of Science and Technology em 2019, a pesquisa tinha como objetivo determinar as dimensões que justificam a criação de um modelo de salário emocional.

O questionário foi aplicado em 175 empresas da cidade de Medellín que têm entre 51 e 200 funcionários. Neste caso, os empreendedores afirmaram que já pagam um salário que satisfaz seus colaboradores. 

“Até a implementação de um salário emocional como parte da política não é relevante, já que não haviam evidências empíricas para medir a relação entre emoção e salário no contexto que considera o aumento de salário uma forma de aumentar a produtividade”, diz o estudo.

O Guia Salarial 2025 da Michael Page define o salário emocional como “uma nova dimensão na física da compensação”. “Mas atenção: uma estratégia de remuneração não pode ser construída apenas sobre o salário emocional. Especialmente em economias voláteis como a brasileira, onde a inflação é como uma maré que constantemente ameaça engolir o poder aquisitivo”, ressalta o relatório.

“Ninguém vai sair de casa buscando salário emocional, porque o cara tem que pagar as contas dele”, analisa Giancarlo Alcalai. “Tem muita gente desempregada, por isso falo que [o salário emocional] é importante, mas quando o bicho pega, isso vai ficando para trás.”

O professor retorna à questão geracional: “Não adianta você ter um salário bacana, mas um ambiente tóxico. Essa geração jovem prefere abrir mão, ou até tenta, mas depois não vai continuar”.

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Isabela Moreira

Repórter do Trendings

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