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Professor de Relações Internacionais da ESPM avalia os benefícios que vão além das medalhas

A primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna aconteceu em 1896 em Atenas e de lá para cá as Olimpíadas deixaram de ser apenas palco de competições de atletas. Hoje, o maior evento esportivo do mundo também dá as mãos à diplomacia, abrindo caminho para a projeção mundial do país-sede.

Segundo Alexandre Ratsuo Uehara, coordenador da graduação em Relações Internacionais da ESPM, as Olimpíadas têm três perspectivas: o aspecto humanitário, o econômico e o diplomático.

O lado humanitário

Quando idealizou as Olimpíadas da Era Moderna, o Barão de Coubertin vislumbrava a união entre as nações. Esse é o lado mais nobre e humanitário que envolve as competições e a reunião de povos, corroborando a máxima de que o mundo para pra assistir as competições.

Portanto, em um primeiro momento as Olimpíadas têm o aspecto do congraçamento, de uma questão mais humanitária e mais esportiva, que é o lado de maior destaque. Não por acaso o símbolo dos jogos são círculos representando os cinco continentes e o fato de existir um evento em que podem participar todos os países é um ponto bastante positivo.

“Tivemos a participação da Coreia do Norte e da Coreia do Sul, por exemplo, com a mesma delegação [2018 nos Jogos Olímpicos de Inverno]. São países que desde a década de 1950 estão separados e têm governos diferentes, mas naquele momento houve a participação conjunta dos atletas e esse é um simbolismo que a gente percebe que as Olimpíadas é capaz de trazer”, explica Uehara.

O lado econômico

Não é raro haver questionamentos em relação ao custo de sediar grandes eventos esportivos como os Jogos Olímpicos ou a Copa do Mundo, e muitas vezes se argumenta que o investimento para preparar toda a infraestrutura muitas vezes acaba sendo maior que o retorno financeiro.

“O que eu acho importante é que os governos entendem esses investimentos como algo necessário para o lado da política e da diplomacia”, diz Uehara. “Mas a gente percebe também que a população nem sempre entende dessa forma, porque acaba vendo como um custo e não vê os benefícios, mas isso é necessário para negócios futuros”.

Pelo lado comercial, o primeiro efeito imediato é o turismo. Em todos os eventos há uma grande quantidade de público movimentando fortemente a economia das cidades que recebem os jogos.

Para além disso, as nações buscam projetar suas imagens mundialmente. O Japão, que sediou as Olimpíadas 2020, investiu em uma política para fazer os Jogos Olímpicos com baixas emissões de poluentes. Já a França, que realizará o evento em 2024, despoluiu o rio Sena em Paris para a realização das provas aquáticas. É algo que lança uma boa imagem e beneficia o país.

Outro aspecto é a possibilidade de apresentar produtos e tecnologias em um evento dessa magnitude, a exemplo do Japão e seus veículos elétricos e produtos sustentáveis. Durante o evento eles mostram seu potencial industrial e o que são capazes de fazer com relação a pautas atuais como as discutidas na COP, por exemplo. E o turismo fica ainda mais aquecido graças ao boca a boca de quem foi a uma Olimpíada e conta como é o país-sede, inspirando pessoas viajarem para lá.

O lado diplomático

O terceiro aspecto são as repercussões que as Olimpíadas podem trazer como elemento de soft power. Muitas vezes um evento esportivo como esse revela um posicionamento e melhora a imagem de um país.

Qualquer nação gosta de ser bem-vista internacionalmente e neste momento do século 21 uma das pautas é cuidar do meio ambiente. Portanto, nos bastidores de uma Olimpíada há um esforço grande para fazer um evento carbono zero.

Quando isso é percebido pelo público pode abrir mercados internacionais para os produtos dos países. “Hoje em dia, nós temos visto que os consumidores também no Brasil começam a olhar para os produtos e ver o rótulo e a história daquele produto. Então, o fato de você ter um país que é bem-visto como o Japão ou a França, depois das Olimpíadas pode aumentar o consumo desse produto bom”.

O professor dá um exemplo bem contemporâneo para ilustrar o soft power: o K-Pop que projetou a imagem da Coreia do Sul no mundo. Atualmente os brasileiros consomem carros, smartphones e alimentos coreanos, porque têm confiança a partir de uma construção de imagem que empresta o prestígio das novelas, da música e dos filmes.

Por isso o soft power é importante na diplomacia pública. O consumidor é mais consciente ou mais crítico e pode escolher um produto francês ou japonês porque sabe que essas nações estão cuidando do meio ambiente. Às vezes são essas sutilezas que acabam influenciando a decisão de compra.

Não se deve esquecer que a quantidade de medalhas ganhas por um país também tem poder sobre construção de imagem. “Os Estados Unidos é uma potência porque tem a maior quantidade de medalhas olímpicas do mundo. Independentemente da ideia de que é a principal economia mundial em poder militar, a gente tem um olhar também de admiração pelos Estados Unidos, pelos atletas e pelas medalhas que ganham e isso gera uma imagem positiva. Não por acaso, na época da guerra fria a ex-União Soviética e os Estados Unidos lutavam muito para ter a maior quantidade de medalhas, porque isso projetava uma imagem de poder, intangível, mas importante”, conclui Uehara.

Vale a pena sediar os Jogos Olímpicos?

“Na minha avaliação, é mais investimento do que de fato custo. Não é por acaso que muitos países buscam sediar, não é? Ninguém está rasgando dinheiro no meio da rua. Os governantes fazem porque tem um retorno grande”, afirma Uehara.

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Roberta De Lucca

Jornalista colaboradora do Trendings.

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