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A era dos carros autônomos é o fim ou o recomeço para montadoras tradicionais?

Júlia Zillig
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A chegada de carros autônomos não vai apenas revolucionar a mobilidade: vai transformar a indústria automotiva e criará novos players. E pesquisas mostram: o consumidor está pronto para embarcar nessa corrida

Os carros autônomos certamente encantam por não precisar de motoristas. Mas isso se torna apenas um detalhe tecnológico diante do potencial de transformação de todo um setor: esses veículos prometem ser a mudança mais disruptiva vivenciada pela indústria automotiva desde seu surgimento.

A transferência da responsabilidade de condução para o veículo abre espaço para várias discussões, incluindo a busca por soluções para reduzir o risco de acidentes, aceitação do mercado, tecnologia acessível ao bolso do consumidor e até mesmo o impacto na mão de obra da indústria. Mas o pesquisador José Carlos Rodrigues dá mais algumas voltas nesse parafuso.

Autor da dissertação do estudo “O Impacto da Confiança na marca e do Technology Readiness Index (TRI 2.0) na Disposição de Uso de Carros Autônomos”, dissertação de mestrado em Economia do Consumidor pela ESPM, Rodrigues aponta desdobramentos desses eventos. O principal é a chegada dos AVs (autonomous vehicles) com maiores níveis de autonomia (vide tabela abaixo). Isso vai colocar frente a frente indústrias que, até então, ocupavam espaços e mercados distintos – e se relacionavam apenas como clientes e fornecedores umas para as outras: as montadoras e as empresas de tecnologia.

Traduzindo: ultrapassamos o ponto em que tecnologia embarcada era um chip de controle de injeção eletrônica ou um computador de bordo para navegação. A novidade, aponta a pesquisa, é que empresas da geração atual de Tecnologia da Informação (TIC – Technology Information Companies), como Google, Uber, Intel, Apple, entre outras passam a atuar como competidores ou parceiros estratégicos no desenvolvimento de soluções de transporte individual que passará a incorporar cada vez mais tecnologias de dados em sua essência.

Esta tecnologia trará consideráveis impactos não apenas no mercado automotivo, mas em indústrias correlatas à mobilidade urbana e que, de alguma maneira, são impactadas pelo deslocamento e bem-estar das pessoas, como mercado imobiliário e de saúde, por exemplo”, explica o autor.

Os projetos de desenvolvimento de AVs estão sendo conduzidos tanto por empresas com foco em inteligência de software quanto pelas próprias montadoras, como BMW, Ford, Toyota, GM, entre outras, assim como parcerias estratégicas entre empresas destes diferentes setores. Um banquete a ser servido ao consumidor de veículos e mobilidade do futuro. Mas como ele está vendo essa revolução?

Levando o estudo para o âmbito do consumidor, José Carlos procurou entender se a confiança na marca, definida como a forma de reduzir a sensação de complexidade, incerteza e risco, influencia o grau de inovatividade do potencial consumidor (o quanto este consumidor está aberto a novas tecnologia). Medido por meio do Technology Readiness Index (TRI 2.0), esse índice indica a propensão das pessoas em adotar novas tecnologias para a vida pessoal e profissional.

A pesquisa indicou que, embora os consumidores estejam mais ávidos por experimentar AVs de marcas de empresas de tecnologia, há maior confiança, no geral, nas montadoras tradicionais de automóveis, como Toyota e Tesla, sendo que esta última acaba até por confundir os entrevistados se deveria ser considerada uma montadora de automóveis ou uma empresa de tecnologia.

Tesla Model S em Paris, França

Do sonho à realidade

Segundo os levantamentos feitos por Rodrigues, os AVs de nível 4 devem estar disponíveis no mercado mundial a partir de 2022, devido à redução crescente dos preços dos componentes e do ganho em escala. Em 2035 podem representar um quarto das vendas de veículos novos, com forte potencial de adoção em regiões como Europa Ocidental e Japão.

A análise desta adoção, bem como explicações sobre o funcionamento desta tecnologia, pode ser encontradas no livro “O carro que decide por mim: estamos preparados para a era dos carros autônomos?”, derivado do estudo e publicado pela empresa de consultoria em transformação digital Neuremotion.

No entanto, para dar força a esse mercado, um dos principais desafios é adequar a legislação e criar condições de infraestrutura urbana para colocar esses veículos trafegando nas ruas.

Até 2025, estima-se que o mercado de AVs registre US$ 42 bilhões em âmbito global até 2025 e que os benefícios serão enormes, principalmente porque, conforme estudos anteriores apontam, cerca de 90% dos acidentes ocorrem por imprudência ou imperícia humanas, como cansaço, consumo de bebidas alcoólicas e distrações, como usar o telefone celular enquanto dirige, situações nas quais as máquinas não estão sujeitas.

Graus de independência dos AVs

Ao redor do mundo, várias iniciativas já se mostram em estudo avançado, rendendo protótipos que podem ganhar as ruas no futuro próximo.  No Salão do Automóvel do ano passado, a Renault apresentou o Symbioz, – no qual o volante até pode ser retirado para seu interior virar uma sala. Ele é considerado um carro autônomo de grau 5 – o mais alto em termos de autonomia dentro da escala de “independência” do veículo, segundo a tabela com níveis de automação da SAE Brasil.

SAE – Society of Automotive Engineers
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Júlia Zillig

Formada em jornalismo pela Cásper Líbero, Júlia é especialista em jornalismo econômico pela PUC-SP, mestranda pela ESPM.

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