CRIATIVIDADE. A atividade de criar. Criar a partir do vazio.
Pensar fora da caixa, pensar além da caixa, pensar dentro da caixa, pensar a própria caixa.
Mas que caixa é essa? Onde está essa caixa? Do que ela é feita? Do que se alimenta?
O ser humano, como Yuval Harari comenta no livro Sapiens, é um ser social, que deseja pertencer a um grupo, uma tribo, a uma sociedade. E logo cria uma série de mecanismos psicológicos para agregar pessoas e compartilhar narrativas – ou seja, criações. Sim, estamos perto de afirmar que vivemos para conceber e trocar ideias e principalmente tirá-las do papel. Sem ideias, não conseguimos estabelecer uma cultura, algo que una e dê um direcional ao povo.
Porém, nos dias de hoje, a criatividade está meio surrada, desgastada e batalhando para continuar livre. Refletindo sobre o desenvolvimento social, a era industrial, tecnológica e das convergências, a atividade de criar está canalizada para identificar problemas em contextos complexos, definir e redefinir desafios e conceber (imageticamente e fisicamente) projetos que respondam aos problemas. Hoje já temos uma série de metodologias para resolução de problemas, mas continuamos procurando novas fórmulas formas de achar respostas. O que me faz pensar que: ou não sabemos identificar direito os problemas, ou as metodologias que utilizamos não são assim tão eficazes. Sim é polêmico, mas a reflexão é válida!
Ao direcionarmos nosso pensamento para PROBLEMAS, tudo que buscamos são falhas no sistema, coisas erradas, itens para arrumar, melhorar, escalar, difundir e assim por diante. A nossa percepção converge para somente uma categoria de insights, que por sua vez, nos conduzirá para caminhos de ideação já conhecidos, mas que não necessariamente levam ao que precisaria ser criado. Ao adotar apenas essa perspectiva da criatividade limitamos seu potencial e o do próprio criativo. Hoje encontramos vários livros apresentando e recomendando tipos diferentes de mindset, porém vejo que o segredo não seja mudar de mentalidade, mas sim expandir a consciência sobre como interagimos com o ambiente ao nosso redor.
A criatividade, antes de ser solução para uma pergunta, é a própria pergunta! É o convite de expressão da nossa autenticidade, a resiliência frente às opiniões alheias e, principalmente, o entusiasmo de questionar a sociedade e a si mesmo. Criatividade requer coragem. É clichê, mas pura verdade.
Criatividade é um dos conceitos mais estudados pela ciência e, acredito, um dos mistérios mais gostosos da humanidade. Como o cérebro cria? Como posso ensinar criatividade? Como as criações impactam o mundo?… Essas questões têm sido alimento para várias reflexões, de madrugada, ao criar minhas aulas.
Ao expandirmos o olhar para novas perspectivas do criar, ampliamos nossa manifestação criativa, enriquecemos nossa interação com as outras pessoas, objetos e organizações e nos desenvolvemos como seres humanos. Em minha pesquisa recortei 13 perspectivas sobre o que viria ser criatividade: potencial, hábito, imaginário, obra, instrumento, estados mentais, experiência, a novidade, economia, técnicas, abordagens, a mudança e o próprio fenômeno de interação com o mundo. Claro que não são deterministas e nem as únicas, mas mostram a pluralidade de possibilidades que está ao nosso alcance, que muitas vezes negligenciamos pela busca extrema por respostas e resultados.
Criar, como ação, parte do encontro da nossa essência com um novo discurso excitante (ideia nova) e vai rumo a um diálogo mais significativo entre pessoas, objetos e contextos. Criar é, além de resolver problemas complexos, ter conversas despretensiosas no bar.