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Explorando as complexidades e desafios do papel do líder

Aos que se lembram desse tempo – uma fase da juventude de muitos dos caros leitores –, lado A e lado B são termos associados aos antigos discos de vinil, aqueles que eram tocados numa vitrola e que deviam ser virados para se ouvir as músicas de cada face.

Os discos de vinil se popularizaram nos anos de 1950, na era analógica, e eram muito conhecidos também como bolachões. O lado B não era, digamos, o mais prestigiado do produto.

O ouvinte tocava mais o lado A, geralmente o principal, com as músicas mais populares e de maior apelo comercial, as que representavam oportunidade mais concreta de sucesso.

O lado B reunia canções menos trabalhadas, nas quais a gravadora acreditava pouco. Estavam ali, em geral, para completar o pacote. Vez ou outra o artista incluía ali algo de seu repertório experimental, numa experiência underground das alternativas que explorava em sua carreira.

Com a popularização do streaming e das músicas em formatos digitais, essa noção de lado A ou B como duas possibilidades de um conjunto de canções perdeu um pouco do seu significado original. Mas o conceito continua sendo útil para analogias com diversos campos.

Lado B dos negócios

Nesse universo, a existência dos lados A e B se ajusta bem ao tema da liderança, da análise da atuação de pessoas que, agindo conforme valores e crenças de forma aberta e honesta, com objetivos bem definidos em mente, conquistam naturalmente credibilidade e tornam-se líderes.

Sabe-se que conquistar uma posição de liderança exige tempo e é, em qualquer situação, um exercício de superação. Quando se preenchem os quesitos necessários ao exercício desse tipo de cargo, todo o restante parece tornar-se simples, mera questão de detalhes a administrar.

Mas é relevante notar que a personalidade do líder tem dois lados.

Os dois lados do líder

A analogia serve para enfatizar a importância de o líder se conscientizar de seus dois lados para garantir que, embora lidando com momentos diferentes de sua ação, consiga fazer com que a face correta seja executada, e percebida, na maior parte do tempo.

Lado A do líder

Os comportamentos mais admirados e valorizados do líder – muito ensinados nas boas escolas de administração – são bem conhecidos do grande público. Representam em geral o lado A.

Compõem esse lado A as suas características pessoais, como disciplina, energia pessoal, automotivação, reputação, foco em resultados, capacidade de influenciar pessoas e formar equipes, entre outras. São essas as competências nas quais os líderes são postos à prova com frequência e que geralmente os tornam admirados pelos liderados.

Lado B do líder

Mas, num contrapeso a essa condição de influenciador positivo para a equipe, o lado B do líder pode impactar negativamente o time. Neste lado B estão aquelas atitudes ou comportamentos que, ainda que humanos e naturais, são, na maior parte do tempo, inadequados para a função de comando, com risco de produzir consequências negativas para o próprio líder e para a sua equipe. Podem gerar decisões equivocadas – e os erros tendem a criar ambientes de desconfiança e medo.

Nesse lado B se juntam também condições que expõem fragilidades e fraquezas, além dos evidentes ângulos escuros da liderança, que são oportunidade para decepções e descrenças.

Mas, num parêntese, cabe também recordar que uma música do lado B de um disco não poucas vezes surpreendia e fazia sucesso, o que é uma situação que também pode acontecer com o líder em certas condições. O lado de suas vulnerabilidades pode acabar, em alguns aspectos, contribuindo para melhorar o desempenho de seus comandados sem comprometimento ético ou de relacionamento.

Não é incomum, por exemplo, ouvir relatos recentes de líderes que, na condução de suas equipes durante a pandemia da Covid 19, enfrentaram situações complexas, nas quais revelaram vulnerabilidades e, apesar disso ou por causa disso, alcançaram resultados positivos como resposta dos liderados.

Ou seja, é como se houvesse um lado B do próprio lado B, o primeiro reunindo características que, bem administradas, resultam em ganhos corporativos e o segundo, mais evidente e mais perigoso, englobando comportamentos e detalhes de personalidade capazes de causar traumas e destruir valor.

Comportamentos inadequados para um líder

Começando pelo lado B predominante, como já se definiu, percebe-se que contempla os comportamentos muitas vezes inconscientes que podem provocar nuvens e trovoadas e reduzir a harmonia no clima organizacional. Sua consequência pode ser perda de foco e engajamento da equipe, com grave repercussão no desempenho.

Vale relacionar aspectos e atitudes desse lado B do líder, para materializar mais consistentemente o conceito, e alinhá-las a suas consequências.

1. Parcialidade

Resulta em ambiente tóxico, prejudicando a moral e a produtividade, trazendo à tona sentimentos de desvalorização e desmotivação na equipe.

2. Autoritarismo

Realça a cultura do medo e separação, desencorajando a iniciativa e a autoconfiança.

3. Falta de ética

Provoca a perda de reputação e integridade, numa condição nociva ao julgamento do que é certo e o errado.

4. Narcisismo

A insensibilidade em relação à opinião dos outros, aliada a um padrão persistente de grandiosidade gera sentimento de irrelevância.

5. Baixa empatia

Produz crises emocionais pela dificuldade do líder de administrar conflitos, estimulando comportamentos antissociais, de solidão ou isolamento.

6. Favoritismo

Cria sensação de injustiça, desmotiva os não favorecidos e acaba em perda de talentos.

7. Comunicação displicente

Leva a queda da produtividade, reduz o engajamento da equipe diante das tarefas, podendo levar a conflitos e até gerar violência.

8. Manipulação

Estabelece um ambiente de trabalho desonesto e de desconfiança e produz ampla insegurança.

9. Desrespeito às individualidades

Reduz as oportunidades de descobrir talentos e vocações e impede o surgimento de ideias novas.

10. Arrogância

Cega o líder para o aceite e valor de opiniões diversas, deixando a equipe distante e apática.

Em contrapartida a esse cardápio catastrófico, o que se pode chamar de lado B das vulnerabilidades pode, em algumas circunstâncias, transformar-se em pontos fortes quando esse líder demonstrar humildade, compaixão e vontade legítima de aprimoramento pessoal.

Dois lados em sintonia

Espera-se que o autêntico líder contemporâneo “toque” seu lado A quase todo o tempo – atendendo a audiência –, mas entregue à plateia também um lado B que seja o melhor possível, relacione-se harmonicamente com a outra banda do disco e contenha um repertório que, quando executado, surpreenda positivamente, por compatibilidade de rotação com o ecossistema e por estimular os liderados na direção certa.

Ou seja, um líder consciente de suas vulnerabilidades busca algo novo para tocar na vitrola da vida das pessoas graças a sua sensibilidade para perceber a necessidade do novo. Como numa sinfonia, com suas variações harmônicas, os liderados compartilham assim de sua história de vida, seus interesses pessoais, suas vulnerabilidades e principalmente seus desafios.

O bom maestro é o que conhece seu próprio lado B a ponto de usá-lo como elemento motivador e positivo. Como não lideramos coisas, mas pessoas, agir com cordialidade, alegria e entusiasmo é uma receita que pode compensar as fraquezas de qualquer líder.

Refletir sobre seu lado B contribui para se tornar um líder melhor e transformacional, mais útil à sociedade, e a si mesmo. O bom e efetivo líder procura fazer sucesso até com esse repertório complementar.

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Gilberto Cavicchioli

Gilberto Cavicchioli, é consultor de empresas, é professor na pós-graduação e MBA da ESPM e em grandes Escolas de Negócios do Brasil. Dirige a Cavicchioli Treinamentos.

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