Liderar não é tão simples quanto se imagina, porque não se resume a dar ordens e designar tarefas. Chefiar tem a ver com estilo de liderança e isso se relaciona com autoconhecimento e com ter uma visão humanista que vá além do reconhecimento da capacidade técnica da equipe. Um chefe tem que ter habilidade para influenciar as pessoas para elas alcançarem o resultado desejado, mas essa influência nada tem a ver com manipulação. “Aqui estamos falando de influenciar no sentido de o líder fluir a ideia dentro da outra pessoa e ela fluir com o líder”, explica Fátima Therezinha Motta, psicanalista, mentora, palestrante, sócia-diretora da FM Consultores e professora de Liderança na graduação, na pós-graduação e no Dynamic da ESPM.
A afirmação pode parecer holística demais para alguns, mas há sentido na ideia de que o estilo de liderança diz muito sobre como a chefia lida com o time. Para a especialista, o líder tem que ter capacidade de estimular cada pessoa para abraçar um projeto e aceitar emprestar a sua energia para a sua concretização. Ele, portanto, precisa ter clareza quanto ao propósito do trabalho e identificar nas pessoas algo que as conecte individualmente ao projeto.
Nesse ponto, é necessário conhecer muito bem cada membro da equipe, entender onde eles estão conectados ao que o líder está pedindo ou se há a necessidade de ele criar essa conexão. Por isso a formação da equipe é importante, porque quando há coesão é mais fácil ela estar linkada ao propósito. “Num projeto, o líder convoca quem tem afinidade com o propósito, mas se ele não conhece a equipe fica mais difícil criar esse ponto de conexão”, diz Fátima.
Isso é muito diferente do estilo antigo de chefiar, em que muitas vezes as pessoas cumpriam tarefas só pelo salário e a liderança assumia uma postura autoritária. O líder de hoje tem que aprender a servir a equipe. Como isso se traduz na prática? Trabalhar questionando e refletindo sobre o que ele deve fazer para esse time funcionar melhor e o que pode oferecer para as pessoas. Isso não significa, porém, facilitar tudo para todos, mas entender com clareza o que falta para que um profissional cresça mais e seja melhor qualificado.
Fátima explica que o estilo de liderança depende de três fatores:
1. O conhecimento que o líder tem dele mesmo. Ou seja: o chefe tem que se conhecer para identificar se ele é centralizador e acompanha tudo de perto ou se delega tarefas e orienta quando necessário.
2. O conhecimento da maturidade das pessoas da equipe permite à liderança identificar habilidades e necessidades a serem trabalhadas.
3. O conhecimento da situação, que é ter noção real da importância do projeto para que o trabalho seja feito em tempo hábil e apresente os melhores resultados.
Esses fatores são variantes sobre as quais um bom líder se adapta conforme o cenário. Em uma crise, por exemplo, pode ocorrer de a liderança dizer para as pessoas fazerem as coisas de uma determinada maneira e, dada a necessidade da resolução rápida, a equipe acata e realiza. Em outras situações, a equipe pode ser madura o suficiente para tocar o projeto e, inclusive, propor revisões e soluções.
De acordo com a especialista, a chefia estabelece um estilo de liderança em função das pessoas e da situação, mas, de maneira geral, hoje os estilos são mais participativos e estabelecem oportunidades que estimulam a colaboração. “Não tem mais o “eu mando e você obedece”, isso não funciona mais. O que funciona é “precisamos chegar a um objetivo e ver como vamos chegar lá” e, para isso, a liderança precisa de flexibilidade e adaptabilidade.”
Em função da maturidade da equipe e da situação, a liderança pode ser mais diretiva, participativa ou pode dar mais autonomia para o time. Na liderança situacional existem quatro estilos de atuação:
1. Direcionar
O colaborador tem pouca experiência e está aprendendo a fazer o seu trabalho. O líder orienta com clareza e supervisiona a tarefa, fornecendo feedbacks sempre – de elogios a correções de erros.
2. Orientar
O funcionário está quase pronto, mas, por não estar totalmente autoconfiante, ainda precisa de orientação. O líder então supervisiona e dá feedbacks constantemente. É dele a palavra final, mas a equipe está mais envolvida no processo decisório.
3. Apoiar
Com um time bem formado, competente e com indivíduos confortáveis quanto a sua autonomia, a liderança monitora e apoia o trabalho para garantir a qualidade do resultado.
4. Delegar
Os colaboradores atingiram o topo da maturidade profissional, são muito competentes e comprometidos, tomam decisões e assumem responsabilidades e o líder delega tarefas e acompanha minimamente.
Para atuar bem nesses papeis é necessário a liderança se dedicar ao aprendizado contínuo de se estudar e se entender. O mergulho no autoconhecimento pode ser feito com a orientação de um mentor especialista em liderança ou carreira e também com terapia. “A liderança precisa se conhecer, porque quando não se conhece joga para os outros as suas questões emocionais – e esse não é o caminho”, diz Fátima.
Ao conquistar essa inteligência interpessoal fica mais simples e eficiente lidar com outras pessoas, ouvir, ter empatia e entendimento das necessidades de cada profissional. Tolerância, compaixão e resiliência para tratar das diferenças individuais é fundamental, já que a colaboração diversa funciona melhor e é necessário aceitar a diversidade e estimular as pessoas para que cada um dê o seu melhor.