fbpx
LOADING

Digite para procurar

Deep fake: o falso pode ser legal?

Patrícia Rodrigues
Compartilhar

Usada para criar vídeos falsos de celebridades e políticos, técnica polêmica também é aplicada para proporcionar novas experiências na ficção e no entretenimento

Uma ferramenta de vídeo que recria sons, imagens e trejeitos humanos para fabricar aparências cada vez mais “reais” de pessoas e colocá-las em situações que não aconteceram. Assim é o mundo das deep fakes, que utiliza a inteligência artificial para incluir celebridades em vídeos de conteúdos pornográficos ou então simular um discurso do ex-presidente norte-americano Barack Obama, só para citar os exemplos mais famosos que viralizaram na rede a partir de 2017.

Em ambos os casos, são hiper-realistas e convincentes. “É algo que já vem com uma valoração negativa por tornar real como alguém se apresenta para o mundo, mas sem ser essa pessoa”, explica Luiz Peres Neto, professor e pesquisador do PPGCOM – ESPM-SP, que estuda questões relacionadas à ética na comunicação e suas inter-relações com o consumo. “Como a tendência é sempre o aprimoramento dessas técnicas, também cresce a dificuldade em separar o que é o fake e que é o real. Sempre será fake pela tentativa de se passar por algo que não é.”

Espaço para criação

Do ponto de vista da arte, interagir em uma exposição virtual, atuar com seu ídolo e até mesmo trazer de volta ao cenário de Star Wars uma jovem Carrie Fischer pode ser um bom uso desse tipo de ferramenta para o espectador. “Deep fake pode oferecer um grande espaço para a criação artística, mas existe um pacto e o espaço é controlado, uma vez que o público está ciente de que é ficção ou entretenimento e de que o conteúdo passou por algum tipo de intervenção da inteligência artificial”, reforça o professor.

Porém, isso não acontece em outros casos, especialmente na política e na ciência, sendo mais preocupante quando pode afetar nossa sobrevivência enquanto sociedade. “Existem verdadeiras máquinas de informação e milícias virtuais influenciando a construção de determinadas opiniões do público. Isso acontece em todos os países”, avalia Peres. “Mas estamos preparados para entender que o que vemos e ouvimos não seja necessariamente real?”, questiona. “Nesse contexto, o jornalismo tradicional se faz cada vez mais relevante para que as pessoas possam reforçar a leitura crítica dos meios de comunicação e entender as diferentes plataformas como parte da ‘ecologia’ onde convivem as diferentes esferas midiáticas, incluindo as redes sociais”.

Para refletir

Mesmo na arte, do ponto de vista do direito do uso de imagens e da ética, quais seriam os limites para o uso de ferramentas de inteligência artificial — como no caso de atores que já morreram e, portanto, seu próprio corpo não é mais seu instrumento de trabalho? “Ainda não temos uma resposta, mas sabemos que é um grande problema. Uma pessoa que já não dispõe de sua própria imagem simplesmente não pode deliberar eticamente sobre o que ela quer ou não fazer. E, de alguma maneira, sua imagem será explorada como produto audiovisual ou em mais de um produto comercial, como no caso da publicidade”, completa o especialista.

Tags:
Patrícia Rodrigues

Jornalista colaboradora do Trendings.

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *