Grande parte dos conflitos vivenciados tem sua origem no modo como nos expressamos muito mais do que pelas nossas diferenças de opinião. Essa é apenas uma das várias observações do psicólogo Marshall Rosenberg, criador do conceito de Comunicação Não-Violenta (CNV). “A CNV parte também da perspectiva de que podemos reagir às situações de forma não-agressiva e não-violenta e, portanto, mais compassivamente, em qualquer contexto, transformando-as para potencializar um encontro de interesses”, avalia Júlia do Couto e Silva Freitas, professora em cursos de atualização da ESPM, explicando o que é comunicação não-violenta.
“E, por meio de exercícios práticos, mostrar que o que antes entendíamos como divergências ou conflitos como algo sempre negativo podem ser oportunidades de mudança e de crescimento”, acrescenta Márcia Resende Araújo Santos, que dará um curso sobre Comunicação Não-Violenta na ESPM com Júlia e Ângela Martins Rorato.
A escuta é um desses elementos, uma vez que cada um reage de forma diferente à determinada mensagem. É um pedido ou uma ordem? Uma bronca ou um toque? Como envio ou recebo um e-mail ou uma mensagem no WhatsApp? “A tendência das pessoas é não entenderem e se tornarem mais reativas, darem uma resposta desmedida ou rebater algo”, explica Marcia. “Isso porque não existe um desenvolvimento da escuta de empatia, aquela que não abre espaço para o diálogo, que detecta as necessidades e os interesses da conversa e de quem conversa”, avalia.
Para a especialista, no mundo polarizado em que vivemos, há a tendência de conviver apenas com quem “pensa parecido”. A situação reprime os espaços de diálogo por não aceitar as diferenças de pensamento. “Por outro lado, ouvem-se muitos discursos de inclusão de grupos, mas não incluímos a do pensar”, completa a professora.
Não é só ter um grupo com diferentes tipos de pessoas, mas aceitar o ponto de vista de cada um: nessa etapa, você não precisa concordar ou discordar. “Os espaços de diálogo valem para a vida de um modo geral. Espaço é entender que, por trás de um conflito, pode haver aprendizado”, revela Júlia.
“A violência na comunicação é muito sutil. Não é porque falo baixinho que não posso ser violenta, que se expressa na postura corporal, no tom de voz e na medida em que não olho para o interlocutor com a vontade de genuína de escutá-lo ou de abrir espaço para que ele também se expresse, no interesse que demonstro pela pessoa, pela falta de retorno”, explica Marcia.
A CNV exige que todos (e não apenas as lideranças) façam um trabalho de autoconhecimento. Como eu reajo em determinadas situações? O que sinto? “Quanto mais as pessoas se conhecem, mais elas conseguem se conectar e estar atentas às reações do outro, desenvolvendo inteligência e habilidades socioemocionais”, acrescenta a especialista.
“Hoje, observamos um perfil de liderança mais horizontal, mais comunicativo, mais colaborativo, que vem sendo introduzido na gestão das empresas até mesmo pela chegada de novas gerações. E a CNV é uma dessas ferramentas que atenta para essa nova realidade para desenvolver essas habilidades cada vez mais importantes nas relações humanas — não só de chefe para subordinado, mas entre todos.”
Além disso, no momento em que uma pessoa muda o seu jeito de comunicar e de agir, todo aquele sistema tende a se readequar a uma nova habilidade. “Claro que se todas as pessoas puderem ser capacitadas, melhores serão os resultados. Afinal, é uma das boas práticas da gestão e de relacionamento”, finaliza a professora Júlia.