A digitalização mudou o mundo e a maneira de estudar. Muitas instituições de ensino investiram no uso de notebooks e tablets, mas algumas estão voltando atrás para resgatar hábitos antigos, entre eles os benefícios de escrever à mão – claro que dentro de um esquema em que a tecnologia se mescla ao estilo old school.
“A partir de estudos que vão sendo feitos sobre aprendizagem, os resultados apontam para um certo equilíbrio entre o digital e o analógico. Aproveitar o que o digital oferece de benefícios, mas resgatar alguns processos fundamentais do analógico, como a escrita à mão e a leitura em papel”, comenta Danilo Torini, professor do Lifelab, conjunto de disciplinas optativas da ESPM para o desenvolvimento de soft skills.
A escrita é importante porque as pessoas estão perdendo a capacidade analítica e reflexiva decorrente da hiper exposição ao digital. Não bastasse isso, tendem a ficar preguiçosas e buscam informações no Google ou encomendam um texto para o ChatGPT e não pensam sobre aquilo porque a informação está à mão.
Por esses e outros motivos vale a pena repensar a maneira como você estuda. Confira 7 benefícios de escrever à mão e anote as dicas de Torini ao final do texto.
De maneira geral, os jovens escrevem como teclam e quando passam a anotar mais no papel vão percebendo que algo está errado. Com isso, abrem um canal de engajamento cognitivo, que é forçar, no bom sentido, a escrita manual e processam a informação de maneira mais profunda porque a escrita exige do cérebro uma atenção maior sobre que está sendo anotado.
A atenção fica mais refinada para a redação de um resumo com o que mais interessa sobre um tema e a mente começa a ser treinada para ser mais seletiva e focada. Afinal, escrever é mais lento do que digitar e é necessário ser mais seletivo, o que exige mais atenção. “Eu preciso pensar mais, inclusive criticamente, sobre aquilo que estou escrevendo para poder selecionar”, afirma Torini.
A escrita estimula a retenção das informações. “Se há uma grande descoberta científica com relação a isso, é que quando a gente escreve à mão ativam-se áreas do cérebro associadas à memória e à compreensão”.
O córtex pré-frontal é uma região do cérebro responsável por tudo que envolve planejamento, tomada de decisão, controle de impulsos e de emoções e atenção, e os aspectos ligados aos comportamentos se manifestam nessa região. Quando a pessoa escreve essa é uma das áreas mais estimuladas, ao contrário do que acontece na digitação. Portanto, do ponto de vista de redes neurais é mais rico escrever porque há uma ativação de circuitos cerebrais mais ricos, contribuindo com a neuroplasticidade.
Há uma questão motora envolvida na escrita que reforça a memória de longo prazo: o movimento da escrita ou a maneira de fazer as anotações pode criar memórias fotográficas que ajudam na retenção dos conteúdos.
Existem pessoas que fazem resumos ou tomam notas e criam códigos visuais como o uso de asteriscos e jogo da velha (#) para marcar o que é importante, e essa integração multissensorial aumenta as chances de criar memórias mais robustas e conectadas.
Como o ritmo da escrita é mais lento, reduz a chance de a pessoa ter sobrecarga cognitiva. Diante da tela a pessoa escreve ao mesmo tempo que recebe alertas e notificações e é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Como resultado, não pensa muito e fica mais no piloto automático porque o cérebro não acompanha essa rapidez. Ele tem uma capacidade de processamento invejável, mas para fazer uma coisa por vez. Quem escreve fica menos suscetível a ser afetado por estímulos externos.
A escrita traz maior riqueza do mapeamento visual e espacial. Torini explica que é mais rápido montar um mapa mental no papel do que digitalmente. Quem usa tablet com caneta pode pensar “ah, mas dá pra fazer tudo isso no tablet”. Sim, certamente dá, mas é mais trabalhoso e leva mais tempo.
“Eu tenho um tablet e uso muito, mas me vejo na situação de escolher cores, mudar as coisas e vou perdendo tempo com a ferramenta. No papel, você faz o que quiser e depois decide o quanto disso vai transportar ou não para uma plataforma”, explica Torini. Além da agilidade, o mapeamento é muito mais rico porque fazer mapas mentais ou mapas conceituais ativa outras áreas do cérebro que são fundamentais para organização espacial e a percepção do todo é maior no papel.
“Tem uma coisa que a ciência chama de ancoragem contextual. Quando escrevo à mão também tenho mais chances de criar uma memória mais rica do contexto”. O ambiente, a posição física do corpo e até a textura do papel podem servir de ancoragem contextual e o estudante tem mais elementos para ancorar sua memória do que a tela branca de um processador de texto. Em outras palavras significa que quando o aluno precisa puxar uma informação pela memória ele pode recordar o momento em que anotou aquilo.
Quando percebe que está perdendo a atenção à aula, o aluno que escreve muda sua postura e passa a buscar a informação ativamente. Além disso, ganha na capacidade de filtragem da informação, já que não dá para anotar tudo que o professor fala.
Torini traz outro elemento sobre a vantagem da escrita. “Não é à toa que na pandemia explodiram as vendas de livros para pintar. Escrever à mão pode ter efeito calmante e tende a reduzir o estresse e a ansiedade”. Isso tem a ver com ativação do sistema nervoso parassimpático e ajuda a baixar os níveis de cortisol, responsável pelos picos de ansiedade. Diminui o cortisol e a sensação de calma e a capacidade de concentração aumenta.
Se um processador de texto corrige palavras e pontuação automaticamente, a escrita ajuda no desenvolvimento de habilidades linguísticas como ortografia e gramática. Ao escrever a pessoa percebe o erro, checa a grafia de uma palavra e busca se informar sobre regência verbal, por exemplo. Entretanto, não pode ser uma cópia mecânica, uma escrita sem significado. Tem que ser uma escrita em que a pessoa tem consciência do que está escrevendo e reflete sobre aquilo.
O professor Danilo Torini elencou sete dicas para auxiliar você a explorar mais os benefícios da escrita. Confira: