Ao pensar a causa de determinado processo mobilizador, seja um projeto de uma organização ou o movimento de um grupo de pessoas, é importante se basear no que o grupo percebe e também no que é atingido pela situação-problema, além das pessoas que, de certa forma, terão contato com a situação apresentada.
Levando isso em consideração, é importante se atentar à maneira com que as causas se formam, com isso, é possível compreender como um problema que pode afetar apenas um grupo ou pessoa, de maneira particular e individual, torna-se algo considerado de interesse coletivo e público. Esse movimento que perpassa do individual ao coletivo é chamado de coletivização.
O mestre Márcio Simeone Henriques, que me inspirou muito no processo da minha pesquisa de mestrado, considera:
“a coletivização como o sentimento e a certeza de que aquilo que eu faço, no meu campo de atuação, está sendo feito por outros, da minha mesma categoria, com os mesmos propósitos e sentidos”.
O processo de coletivização acontece quando as percepções e ações se deslocam todo o tempo do interesse individual para o coletivo, quando os problemas são percebidos e tratados como de todos e quando se permite visualizar um entendimento comum desses problemas.
Para o autor, é a coletivização que dá estabilidade a um processo de mobilização social, princípio tão necessário para a manutenção dos vínculos criados com o projeto.
Para os pesquisadores José Bernardo Toro e Nisia Maria Duarte Werneck, o que distingue a coletivização da simples divulgação é seu compromisso com os resultados. A divulgação, muitas vezes, possui caráter promocional ou simplesmente informativo. O resultado esperado com essa ação é que as pessoas tenham conhecimento de determinada informação. Já a coletivização, o foco principal é no compartilhamento da informação, não somente na sua circulação por si só, e o resultado que se deseja é que o público forme diferentes opiniões, que sejam próprias de cada indivíduo e se disponham a agir e ajam diante da causa divulgada e, além disso, possam se sentir donos da informação a ponto de a repassarem, utilizá-la e serem considerados fontes de novas informações sobre o projeto.
Para ocorrer qualquer projeto de mobilização, o processo de coletivização é considerado o alicerce, pois é neste processo em que os públicos conhecerão de forma mais clara e profunda a causa proposta.
A seguir, é possível compreender as principais condições de coletivização, de acordo com Henriques, considerando a formação e manutenção de um grupo atuando em prol de uma causa. As causas sociais necessitam de sujeitos que as defendam e contribuam para a sustentação do que se propõe. As condições essenciais são:
Concretude: o problema percebido pelo movimento ou organização precisa se apresentar como algo concreto. As pessoas, que possuem diferentes repertórios e vivências, devem ser capazes de reconhecer a situação como problemática.
Caráter público: reconhecer o problema por si só não é condição suficiente para que ele seja compreendido considerando sua dimensão coletiva, pública. Mesmo que determinados sujeitos não estejam inseridos na situação-problema, é necessário que estejam convencidos do caráter coletivo da causa defendida. Essa é a essência do processo de coletivização, temos de ver as temáticas das causas como possível ponto de partida para a formulação de políticas públicas e como algo que contempla a união de esforços de um grupo e, com a cooperação, possam surgir soluções.
Viabilidade: após tornar pública a situação-problema, é necessário que tenha a geração de argumentos que elucidem a viabilidade de lutar pela solução. Trata-se de um convencimento dos sujeitos de que é possível alcançar alguma mudança, apesar das dificuldades, e que agir em conjunto é compensador.
Sentido amplo: uma determinada causa não pode ser apresentada somente com as particularidades imediatas do problema a ser tratado. Ao pensar a construção de um problema coletivo e de um processo mobilizador, é preciso inserir o objeto principal de trabalho em relação à causa em um quadro de valores mais amplo, assim, facilita o compartilhamento de ideais, além de aumentar a compreensão do impacto global que ações mais específicas podem alcançar.
Com isso, é possível verificar um novo olhar diante da comunicação estratégica, pois trazem para o debate caminhos que contribuam para além da utilização de ferramentas e mídias para organizações públicas ou privadas. Esses conceitos apontam para a criação de planejamentos e processos participativos com objetivos claros que contribuam para a atuação de projetos de mobilização criados no terceiro setor.