O que é o marketing social senão o trabalho “para melhorar o mundo, criar mais oportunidades e ter um impacto positivo na sociedade que estamos construindo”? A definição é de Kelsey Flitter, estrategista de comunicação que usa o marketing como ferramenta de mudança social e ambiental, fortalecendo as conexões entre Estados Unidos e América Latina.
Apaixonada pela cultura latina, a estadunidense de 32 anos é formada em Estudos Latino-Americanos pela Universidade de Miami e já morou no Brasil e no Equador. Ao trabalhar com equipes do México, Argentina e Colômbia em agências de relações públicas, notou falhas na comunicação de organizações presentes na região.
“Muitas das ONGs que atuam na América Latina precisam de bons comunicadores, um bom marketing e melhorar sua presença nos Estados Unidos para ganhar mais fundos e gerar maior interesse econômico”, explica.
Combinando os interesses pela América Latina, comunicação e meio ambiente, em 2021, fundou o Rubi Group, uma consultoria especializada em estratégias de comunicação, relações públicas e gerenciamento de marcas para as Américas. O nome Rubi vem do beija-flor-de-garganta-rubi, que passa a maior parte de seu tempo viajando pelas Américas, fazendo paradas em diferentes países de acordo com a estação.
Ao lado da sócia Daniella Nunes, Flitter tem se dedicado ao marketing com propósito, usando suas habilidades em comunicação para elevar o perfil de causas e empresas de impacto social, sustentabilidade e causas sociais. Os cases incluem desde a comunicação do Kanua, o primeiro festival de cinema flutuante da Amazônia, até a divulgação da campanha #SíAlYasuní, que lutou pelo fim da exploração de petróleo na região.
“Sabemos que todo mundo precisa de relações públicas e essas causas e programas precisam ainda mais de nossa ajuda, então queremos realmente usar nossa voz, nossas habilidades e conhecimento para elevar o perfil dessas causas e empresas que têm propósito para trabalharmos com propósito.”
O trabalho realizado para a ONG Amazon Frontlines é outro destaque do portfólio do grupo Rubi. Flitter foi até o Equador fazer um media training com os jovens Alexandra Narvaez & Alex Lucitante, do grupo indígena Cofán, que venceram o Goldman Environmental Prize de 2022 por seus esforços para proteger seu território da mineração de ouro.
“A liderança deles resultou em uma vitória histórica em outubro de 2018, quando os tribunais do Equador cancelaram 52 concessões ilegais de mineração de ouro, que foram dadas sem o consentimento da comunidade Cofán”, declara a premiação.
A consultoria também foi responsável pela repercussão deste e outros casos parecidos na imprensa internacional, levando o acontecimento, que poderia ter ficado conhecido só regionalmente, para as páginas de alguns dos maiores veículos de comunicação do mundo, como a BBC e o jornal britânico The Guardian.
“Gostamos de usar esse caso como um exemplo do trabalho que fazemos porque parte dessa visão de criar conexões entre as Américas e muito dessa ideia é internacionalizar essas histórias locais”, revela. “Várias vezes tem muita coisa interessante acontecendo no Brasil ou na América Latina, mas não tem visibilidade o suficiente para que outras pessoas possam conhecer esses trabalhos.”
O caso foi o pontapé inicial da empresa na região amazônica. “Desde então, temos trabalhado com outros clientes alocados na Amazônia, que também estão sempre trabalhando nessa área de relações com a mídia e o desenvolvimento de mensagens chave a serem usadas pelos porta-vozes, criando uma linha de comunicação consistente.”
Há muitas empresas que cometem erros que a estrategista considera básicos no que diz respeito ao marketing com propósito. “Investir em modos sustentáveis já tem que fazer parte da visão empresarial das companhias”, alerta.
“Um erro que vejo algumas empresas cometendo é não investir o suficiente nas áreas de marketing ou de comunicação. Fazer o trabalho [elevar pautas sociais e ambientais] é muito bom e importante, mas não adianta nada se as pessoas não sabem que você faz esse trabalho.”
Outro tópico relevante é a forma de entregar essas mensagens ao público. Flitter acredita que a linguagem corporativa precisa de mais personalidade para ter maior eficácia, deixando de lado a ideia de fazer os executivos falarem coisas que simplesmente poderiam ter sido lidas em um release.
“Agora, mais do que nunca, a autenticidade é uma das coisas mais importantes no mundo. As pessoas querem ouvir histórias de outras pessoas. Muitas vezes o executivo chega falando e já perde a essência”, pontua. “Gostaria de ver a comunicação dessa indústria mudar para ser mais pessoal e autêntica, acredito que isso pode aprofundar conexões tanto com consumidores como atores chave.”
De acordo com a estrategista, nem sempre aqueles que desenvolveram um produto, por exemplo, são os melhores porta-vozes para uma empresa ou movimento, o que gera oportunidades para profissionais da comunicação e do marketing. “Existem tantas perspectivas dentro do mundo da sustentabilidade, vejo uma oportunidade grande de preencher esse vácuo e oferecer uma maneira interessante e engajante de abordar esses temas”, revela.
O momento atual também é de extrema importância para os comunicadores porque todos precisam de conteúdos interessantes. Kelsey Flitter sugere as seguintes reflexões para quem decidir cumprir essa demanda: “Como podemos melhorar a maneira como nos comunicamos? O que realmente queremos alcançar para ter um impacto maior e mobilizar as pessoas mais do que qualquer outra coisa?”.