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Diversidade e inclusão no setor de energia renovável: conheça desafios e oportunidades

Matheus Noronha
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Setor deve ter em seu escopo a capacitação inclusiva de profissionais para um futuro justo e equitativo, visando não só a valoração de atributos ambientais, mas também socialmente inclusivo

Por Matheus Noronha, Scarlet Melvin e Felipe Vieira

A transição energética e a modernização dos setores de energia ao redor do mundo carregam em seu cerne da discussão a inovação tecnológica e a descarbonização a partir de fontes renováveis. Não obstante da tecnologia e da pegada ambiental, a temática de cunho social e inclusivo tem sido responsabilidade central no processo de capacitação de profissionais de diferentes gêneros, objetivando a integração de tecnologias como eólica (onshore e offshore), solar fotovoltaica, biomassa, PCHs e até mesmo nuclear.

Os desafios de inclusão e diversidade visando atender critérios ESG – em português ASG (Ambiental, Social e Governança) – são a fronteira para um mercado mais inclusivo e capacitado, considerando a inclusão de gênero. Apesar dos debates e discussões terem recebido centralidade nos últimos anos, ainda existe um caminho longo a ser percorrido e institucionalizado pelas organizações do setor.

Segundo o estudo “Renewable Energy: A Gender Perspective” da IRENA (International Renewable Energy Agency) publicado em 2019, as mulheres ocupavam cerca de 32% dos empregos no setor de energia renovável global. Este número reflete que é imprescindível que a transição energética global vise uma agenda de transformação multisetorial para capacitação de jovens talentos femininos, para diversificar a estrutura do setor, imprimindo diversidade e inovação no setor de energia global. É necessário que esta agenda esteja alinhada com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) enraizando a importância da equidade de gênero e capacitação no desenvolvimento econômico, ao passo que mais capacidade instalada de energia renovável se consolide nas matrizes de energia elétricas internacionais, conforme orientado pelos ODS 5, 6, e 7[1]. Estas agendas contemplando a diversidade e inclusão devem perpassar os ODS citados, e ir além da formulação de políticas, mas também estarem presentes no cotidiano das organizações do setor promovendo igualdade e inovação social.

É notório que já existem inúmeros estudos e trabalhos que investigam a inclusão de mulheres no setor e podem colaborar com os caminhos estratégicos para a formulação de políticas e estratégias organizacionais que promovam a diversidade na área. Dentre estes podemos citar quatro materiais balizadores que apresentam a conjuntura e o contexto setorial:

  • Renewable Energy: A Gender Perspective – IRENA (International Renewable Energy Agency)
  • Wind Energy: A Gender Perspective – IRENA (International Renewable Energy Agency)
  • Women for Sustainable Energy: Strategies to Foster Women’s Talent for Transformational Change – GWNET (Global Women’s Network for the Energy Transition)
  • Women, Gender Equality and the Energy Transition in the EU – Policy Department for Citizens’ Rights and Constitutional Affairs – Parlamento Europeu

Os documentos supracitados são um guia orientador e conjuntural para os formuladores de políticas e empresas que buscam renovar suas estratégias, visando atender critérios ESG e promover a inclusão e capacitação de mulheres e de gênero nos setores de energia renovável ao redor do mundo.

Dentro do setor de energia renovável, ao observarmos como exemplo o setor eólico, o estudo “Wind Energy: A Gender Perspective” da própria IRENA (International Renewable Energy Agency) aponta que ainda existem uma série de desigualdades que precisam ser encaradas como desafios transversais do setor de energia. O material demostra que as mulheres representam apenas 21% da força de trabalho do setor de energia eólica global, sendo inferior ao de indústrias tradicionais como petróleo e gás, em que elas representam cerca de 22%. Neste sentido, observa-se que apesar da trajetória, as empresas e formuladores de política tem um longo trabalho de capacitação visando promover a equidade e possivelmente fornecer políticas de governança necessárias para estimular a inclusão setorial.

Para que essa agenda possa ser traçada estrategicamente e com apoio e colaboração dos agentes, organizações em prol da transição energética e inclusão de mulheres no setor de energia renovável global tem trabalhado consolidando uma série de informações e instituições que objetivam a capacitação e integração das mulheres no mercado de energias renováveis. O relatório “Women for Sustainable Energy: Strategies to Foster Women’s Talent for Transformational Change” do GWNET (Global Women’s Network for the Energy Transition)” apresenta uma série de iniciativas internacionais, visando a inclusão e diversidade no setor. Abaixo algumas das inciativas globais:

Quando observamos o contexto brasileiro, visualizamos que algumas fontes têm crescido exponencialmente nos últimos dez anos. Um exemplo deste crescimento e espelho da diversificação da matriz de energia elétrica é a fonte eólica onshore que representa atualmente 12% da energia elétrica gerada no Brasil, com a capacidade instalada de 22 GW. Esse crescimento, acompanha algumas iniciativas que vem se desdobrando na defesa multifacetada entre novas tecnologias e diversidade e inclusão no setor de energia renovável. Dentre estas iniciativas é possível citar os seguintes grupos e organizações que visam promover a inclusão e diversidade no setor:

  • Sim, elas existem: Projeto criado em 2018 e conduzido por lideranças do setor para promover a representatividade feminina em posições de liderança no setor de energia. O grupo foi criado a partir de debates em um curso de Harvard, visando atender sugestões do mercado, academia e sociedade civil para promover mulheres a assumirem posições centrais nas pautas de energia, visando a equidade setorial.
  • EmpodereC: Programa de mentoria criado em parceria com a FGV Energia e “Sim, elas Existem” para promover a diversidade brasileira e fornecer apoio a talentos femininos. O grupo organiza webinares e desafios, visando a mentoria de gênero nas áreas de atuação de engenharia, geologia, economia, direito, jornalismo e relações internacionais.
  • Mulheres na Energia: Grupo criado e idealizado pelo escritório de advocacia Tozzini Freire com o escopo de fortalecer lideranças femininas no setor e aumentar a representatividade das mulheres no setor elétrico brasileiro.

Do ponto de vista de comunicação e institucional, alguns eventos e iniciativas tem indicado os caminhos para a inclusão e diversidade no setor. O podcast “Mulheres na Engenharia” traz uma série de debates visando o engajamento feminino e de gênero no setor de energia. “Webinares” e eventos como o “Mulheres de Energia – A modernização do Setor Elétrico após a Pandemia” e até mesmo o Brazil Wind Power, evento conhecido no setor, tem tratado a temática sobre a perspectiva da transformação energética sobre os pilares da diversidade e ESG, visando a integração de mulheres para um setor mais diversificado e inovador.

Sob esse prisma, visualizamos as organizações reestruturando seus conselhos de administração e recriando estratégias objetivando ambientes mais inclusivos e disruptivos no espectro de gênero. Segundo a pesquisa “Mulheres na Liderança” realizada pelo jornal Valor Econômico, visualizou-se que de 162 companhias analisadas, 30% das possuem indicadores de performance relacionados a questão de gênero na avaliação de desempenho dos executivos. Destaca-se por exemplo a iniciativa da empresa AES em que o complexo eólico Tucano na região da Bahia é operado 100% por um time feminino. A ação foi desenvolvida em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), que qualificou 28 profissionais para o trabalho de especialização técnica em manutenção e operação de parques eólicos. A empresa que tinha como meta chegar a 15% do quadro funcional preenchido por mulheres, alcançou o percentual de 32%. Além disso, a AES também estabeleceu a meta de ter 30% dos cargos de alta liderança compostas pelo público feminino até 2030.

Outro caso expressivo na indústria eólica, foi a Engie, que assumiu o compromisso com o tema D&I (Diversidade & Inclusão) e estabeleceu uma meta de 50% de mulheres ocupando seus cargos de gerência até 2030. Para eles é importante que, cada vez mais, se criem ações que fomentem a entrada de mulheres para a organização ao passo que se construa uma cultura inclusiva, onde todos estejam engajados com a pauta. Entre as ações, destaca-se a adesão aos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs), criado em 2010 pela ONU Mulheres e o Pacto Global, com o intuito de oferecer orientações sobre formas de empoderar as mulheres e promover a igualdade de gênero dentro das empresas, na cadeia de valores e nas comunidades onde atuam.

Segundo matéria veiculada no jornal Valor Econômico de maio de 2021, a Equinor, uma das maiores operadoras offshore do mundo, também assumiu o compromisso com o tema, traçando metas globais para aumentar a diversidade de gênero, um marco, considerando que o setor de óleo e gás é predominantemente masculino. Para isso, foi criado pela empresa um indicador corporativo de diversidade e inclusão, composto por duas partes: Índice de Diversidade de Equipe e Índice de Inclusão, com o objetivo de tornar tangível a ambição de ter todas as equipes inclusivas e diversas até 2025.

Iniciativas como essas mostram que as energias renováveis e as novas tecnologias complementares como hidrogênio, soluções de armazenamento, eólica offshore e demais inovações energéticas devem ter em seu escopo a capacitação inclusiva de profissionais para um futuro justo e equitativo, visando não só a valoração de atributos ambientais, mas também socialmente inclusivo.

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Matheus Noronha

Analista Técnico de Energia Eólica com foco em inovação e energia eólica offshore (ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica) e doutorando da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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