Sustentabilidade é um conceito que remete a questões ambientais e muitas pessoas acham que o empreendedorismo sustentável se resume a ser uma empresa com práticas e produtos e/ou serviços “ecologicamente corretos”, mas a questão não é só ambiental, porque também envolve as pessoas. “Quando se pensa em responsabilidade social e ambiental, se vê que muitas empresas não têm um propósito original de endereçar esses dois aspectos”, afirma Pedro Rivas, coordenador do Master ESG na Prática e do Hub ESG Change da ESPM.
O que ocorre na maioria dos casos são tentativas de mitigar os impactos negativos e melhorar os positivos, por meio de ações e campanhas para criar boa reputação e bom relacionamento com stakeholders.
Existem empresas que são referência em práticas de sustentabilidade e ESG porque demonstram genuíno esforço em evoluir em uma quantidade de práticas que são representativas dentro do todo. Muitas possuem a certificação do Sistema B, que mensura os impactos sociais, ambientais, econômicos e de governança da operação.
A Natura foi a primeira grande empresa do Brasil e a primeira de capital aberto no mundo a receber a certificação B, e é reconhecida por seu trabalho de manejo e práticas sustentáveis. Apesar desse empreendedorismo, o conceito exige mais do que ser um empresa verde ou que adapta o seu negócio para caber nesse nicho. Afinal, um mineradora sempre terá uma atividade muito impactante.
“A B3 analisa as empresas e avalia seus índices do ESG e seleciona as 40 melhores em Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Vimos no Brasil empresas do ISE envolvidas em escândalos financeiros e em catástrofes de severos impactos ambientais. São empresas engajadas com práticas gerenciais de ESG, mas isso não significa necessariamente que são modelo de empreendedorismo sustentável”, afirma Rivas.
Num modelo ideal, o empreendedorismo sustentável é uma transformação sistêmica radical que ainda não foi feita. Empresas que nasceram sob a égide do pioneirismo dos combustíveis renováveis deixaram a desejar em processos due dilligence relacionados à sua cadeia de produção.
O empreendedor que pretende trabalhar com um projeto sustentável tem que investigar exemplos consistentes do ramo em que pretende atuar e conhecer as referências desse segmento, estudar cases nacionais e globais e investigar as referências teóricas e gerenciais para se orientar nos princípios que regem os negócios sustentáveis.
Nesse sentido, é fundamental estudar a fundo o ESG e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. A partir desse conhecimento aumentam as possibilidades de uma nova empresa nascer baseada nas melhores escolhas de matéria-prima, em práticas sustentáveis internas e de fornecedores, e alinhada com a comunidade e o meio ambiente.
“Não tem empresa 100% (sustentável), mas existe uma margem de melhora gigante”, diz Rivas. Um pensamento consistente e verdadeiro de empreendedorismo sustentável contempla um crescimento gradual. É necessário observar os erros, as falhas e a incapacidade, porque esse modelo não deve se basear na hipocrisia e na mentira.
Não existe sustentabilidade onde uma pessoa ganha um salário mínimo e outra ganha 200 mil reais, isso faz parte da questão e é um problema a ser solucionado quando se pensa no S (social) do ESG. “É uma área fascinante e desafiadora, porque estamos tentando fazer uma transformação paradigmática da sociedade, mesmo dentro dos contornos do capitalismo. Os desafios são mais morais e comportamentais do quer técnicos e científicos”, afirma Rivas.