Funcionários em home office, trabalhando de maneira autônoma em uma estrutura cada vez menos hierarquizada. A pandemia de covid-19 provocou essas e uma série de outras transformações nas empresas. Mas como ficou o papel dos CEOs neste “novo normal”? É o que debateram presidentes de organizações de diferentes segmentos em um painel digital promovido pela ESPM e pelo onono, Centro de Experiências Científicas e Digitais da BASF, nessa quarta-feira (1). O encontro foi mediado por Roberto Camanho, professor da ESPM.
Daniel Castanho, Chairman da Ânima Educação, acredita o papel do CEO neste momento é ser um “cara de design organizacional”, que redefine processos e organiza squads, dando autonomia aos colaboradores. “Acabou a ideia de tomar o controle. Estamos falando em empoderamento, confiança e autonomia.”
Para o executivo, o desafio agora é atuar em um ambiente em que as empresas não terão mais “funcionários, mas sim sócios”. “Estamos entrando na era do pós-emprego, as pessoas vão ser muito mais freelas e você vai ter que entender nesse novo cenário como vai ser o processo de contratação, do trabalhar em equipe, squads e tudo mais”.
Na opinião do presidente da Ânima Educação, as empresas precisarão investir em inteligência artificial e uma área de data Science para conhecer melhor esses colaboradores. “Isso é importante para entender quem são as pessoas que trabalham com você e como você vai desenvolver cada uma delas. As competências são diferentes e você precisa ter um data analytics muito mais forte.”
O argentino Enrique Garcia, presidente da Klüber Lubrication Brasil, acredita que o papel primário dos CEOs neste momento de pandemia é tranquilizar os colaboradores. “Uma palavra define nosso contexto atual: incerteza. Incerteza do que vai acontecer com minha saúde, dos meus entes queridos, do meu time. Incertezas político-sociais. E incerteza do negócio. Minha função primária como CEO é acalmar as pessoas.”
Garcia conta que sua atuação durante a crise levou em conta três prioridades. “Primeiro a segurança do time, da família e de todos que estão perto de nós. Segundo, manter a operação rodando mesmo com todos desafios financeiros. Terceiro, estarmos juntos e nos comunicando bem e com extrema transparência”.
Assim como Castanho, o presidente da Klüber Lubrication acredita que é hora de dar maior poder aos colaboradores. “Delegar mais do que nunca. O modelo de controle pode matar as organizações neste momento. É hora de empoderar o time”, comenta o executivo argentino. “O quanto vai ficar dessa experiência digital ou o quanto vamos voltar a ver os clientes da forma anterior eu não sei. Mas qualquer mudança que ocorrer estará relacionada a melhorar a experiência do cliente e do funcionário, e de construir essa mudança juntos.”
Quem também participou do painel foi Pierre Berenstein, presidente da Bloomin’ Brands Brasil, controladora do Outback Steakhouse. O executivo acredita que para atuar no novo normal o CEO terá que entender principalmente de “dados, algoritmos e sensores”. “E obviamente com essas tecnologias vamos olhar pessoas, entender clientes e os novos hábitos.”
Sobre a atuação de sua companhia durante a pandemia, Berenstein conta que do “dia para a noite” a empresa precisou fechar 115 restaurantes. “Nossa receita caiu a 10% do que faturávamos”. Neste cenário, a empresa precisou acelerar seu processo de digitalização que começou há dois anos. “Faltavam 10 meses para finalizar a implementação do nosso delivery. Em 10 dias, criamos squads e realizamos o nosso processo de treinamento usando plataformas digitais. No pré-covid, fazíamos 50 mil entregas por mês, ontem fizemos 500 mil”.
Para alcançar esse resultado, o executivo conta que criou três grupos de trabalho com seu time. Um focado na gestão da crise, que cuida do caixa da companhia. Outro focado no processo de retomada, que pensa na criação de protocolos para proteger funcionários e clientes na reabertura dos restaurantes. E um terceiro pensando no “novo normal”, uma equipe que trabalha com dados.
Transformação Digital
Para o presidente Bloomin’ Brands Brasil, ao contrário do que muitos imaginavam, o processo de transformação digital acelerado pela pandemia “aproximou as pessoas ao invés de afastá-las”. “Não tem mais espaço para empresas superhieraquizadas. Isso transformo a comunicação, hoje consigo falar com 100% dos sócios e da equipe com uma frequência e facilidade muito maior do que quando estávamos no escritório. Precisou de uma crise para entendemos a vantagem dessa integração.”
Para Berenstein, um dos maiores desafios das organizações quando a pandemia passar será repensar na função do escritório. “Não pode só ser um lugar que as pessoas vão para trabalhar 8 horas e ir embora. Precisa ter um papel, uma função”.
Já o Chairman da Ânima Educação, destaca que pandemia marca o início da uma nova era para as organizações e os colaboradores. “Nunca mais vamos voltar a ser os mesmos. Conversei com o Peter Diamandis, cofundador da Singularity University, e ele me disse que, assim como há milhões de anos caiu um asteroide na terra que dizimou os dinossauros, agora caíram dois, a inteligência artificial e o coronavírus.”