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Por que as startups estão demitindo?

Patrícia Rodrigues
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Coordenadora da Incubadora e Aceleradora da ESPM analisa o contexto, o futuro e as saídas para esse modelo de negócio

Nas últimas semanas, diversas startups — já bastante consolidadas — realizaram cortes em seus quadros de forma repentina, como a Olist,  Kavak, Loft e QuintoAndar. “Esse movimento é geral e não só no Brasil”, explica Leticia Menegon, coordenadora da Incubadora e Aceleradora da ESPM. “Um mundo pós-covid e uma demanda represada de produtos levaram a um processo inflacionário global. Isso acendeu o alerta para que os investidores ficassem mais atentos sobre onde aplicar seu dinheiro”, analisa. “Isso acontece depois de um amplo período de muitos (e altos) aportes em startups, porque eles acreditavam que, mesmo sendo capital de risco, dariam certo.”

A especialista conta que, durante o auge da pandemia, muitas startups tiveram um grande boom —, mas cresceram de forma desorganizada. “Muitos empreendedores comentam que a empresa está crescendo, mas não têm noção de processos. É hábito nesse segmento trazer pessoas para trabalhar para realizar as entregas urgentes, dar conta do que está em andamento”, analisa Leticia.

No entanto, após a volta de uma “normalidade”, com processo inflacionário, a realidade aponta para outros caminhos: um deles é uma mudança nos hábitos de consumo. As pessoas estão revendo seus comportamentos, mesmo tentando retomar alguns hábitos do passado. “Por exemplo, acreditou-se que elas passariam a fazer supermercado online. Mas, agora, essa tarefa tornou-se até uma forma de socialização” observa a professora. “Depois de apostas grandiosas, agora é o momento de ajuste. Nestes dois anos, muitos perderam suas conexões, seus empregos, houve uma forte diminuição da renda e do poder de compra, pesquisa-se mais antes de comprar, foca-se nas questões essenciais, cortam-se gastos. Se isso afeta as grandes empresas, com certeza a sobrecarga é maior nas startups, já que todos fazem parte de um ecossistema.”

Receitas minguando

De um lado, o consumidor comprando menos; e, do outro, investidores cautelosos. Com menos receitas no caixa, essas empresas passaram a rever o momento e a organizar a casa: ou seja, com menos consumo, foi preciso enxugar as operações — inclusive para dar retorno aos investidores. Para a nova realidade, os quadros estão inchados e a “bolha” estouraria um dia.

Além disso, muitas startups não possuem uma gestão adequada, apenas uma contabilidade básica para controlar gastos. Há um desconhecimento da parte financeira, fiscal, tributária de cada tipo de negócio, especialmente os novos, que nem estão categorizados pelo Governo. “Muitos não sabem quanto ou se estavam lucrando de verdade ou se há um rombo nas contas mesmo que o dinheiro venha, ainda que em parcelas, para colocar os projetos em pé”, analisa Letícia. “Muitas estão deixando ainda de prospectar e aceitar novos clientes até mesmo para poder organizar o negócio.”

Isso significa que quem começa no empreendedorismo, até pelo desconhecimento das particularidades financeiras, tributárias e fiscais, precisa ter cautela redobrada, além dos custos fixos e variáveis — que, vendendo ou não, precisam ser pagos todos os meses.

Umas somem, outras surgem

Além do cenário econômico global, a instabilidade e polarização política no Brasil têm ganhado destaque negativo cenário mundial, dificultando a atração de investidores para expandir sua atuação aqui ou até mesmo apostar nas 100% nacionais.

Mas há ainda espaço para inovar.  Se por um lado a pandemia fechou muitos negócios, trouxe também a invenção e a expansão de outros. “Houve o florescimento de mercados que atualmente estão muito prósperos, como o das edtechs (educação), das healthtechs (saúde), agritechs (novas formas de agricultura)”, cita. “Foram criadas muitas soluções e ferramentas nesses segmentos, sendo algumas de grande sucesso. Afinal, os consumidores estão mudando seus comportamentos quando apostam em ensino à distância, telemedicina, trabalho híbrido e outras facilidades, inclusive para driblar o aumento dos custos de transporte e de combustível.”

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Patrícia Rodrigues

Jornalista colaboradora do Trendings.

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