Se você pretende entregar um produto ou serviço utilizando qualquer tipo de tecnologia, seja bem-vindo ao mundo das techs. Afinal, essa é a base de negócio de milhares de empresas que pipocam no mundo (especialmente nos Estados Unidos e Israel desde os anos 2000 e no Brasil com mais força a partir de 2010) para oferecer novos modelos e soluções para tudo o que se pode imaginar.
Mas o que caracteriza esse modelo? De acordo com a professora Letícia Menegon, coordenadora da Incubadora ESPM-SP, as techs não possuem apenas a entrega de produto com base nesse conceito primordial, mas todo um relacionamento com o cliente feito também por meio da tecnologia. “Pode até acontecer de outras formas, mas o maior volume utiliza essas ferramentas”, acrescenta. “As techs conseguem quebrar barreiras de forma mais barata que os serviços convencionais, com mais facilidades e para um público específico, aquele que já lida muito bem com a tecnologia.”
Um bom exemplo desse modelo em alta são as fintechs que, apesar de “navegarem” nos mesmos mercados dos bancos, trazem vários diferenciais: facilitam e agilizam processos, reduzem uma cadeia hierárquica a partir da automatização de atividades antes feita por humanos e se concentram em funcionários mais dedicados ao coração do negócio, os chamados especialistas. “O fato de não possuírem agências físicas, gerentes, segurança, pessoal de apoio também representa uma grande economia, o que diminui os custos operacionais e isenta os clientes de muitas taxas”, explica a especialista. “Além disso, as fintechs atuam com um público que faz questão de um relacionamento simples, direto, sem muita burocracia, aquela que mais impede do que possibilita o fluir do processo.”
Cada vez mais próximas e pessoais
Também estão em alta outras techs cujo foco são as pessoas — caso das HR techs, empresas de recursos humanos que facilitam e aceleram todas as etapas de recrutamento, seleção e contratação ao utilizar machine learning e outras tecnologias para conectar os melhores candidatos às melhores vagas. “Dessa maneira, muitas HR techs automatizam processos e aproveitam o uso da Inteligência Artificial e de Big Data para conseguir entregar o melhor candidato para uma vaga em pouquíssimo tempo”, exemplifica a professora. “Se antes esse processo demorava três meses, hoje acontece em um ou até duas semanas dependendo da vaga”. Além do treinamento de forma virtual, atividade muito comum, as HRTechs utilizam a gamification, ferramenta com base em jogos “sérios” e cada vez mais comum para selecionar, treinar e/ou avaliar os funcionários durante os processos.
O treinamento também é uma das muitas atuações das edtechs, empresas voltadas à educação. “Elas podem gerenciar muitas atividades, incluindo a vida escolar o currículo dos alunos, dando todo suporte para que escolas e faculdades não necessitem tanto de secretarias. Há outras ainda mais específicas que oferecem uma gestão de secretaria”.
A saúde tem sido outro foco das techs. E não só de aplicativos que nos lembram a hora de beber água, de tomar o remédio, de se exercitar ou nosso desempenho durante os treinos. As healthtechs vão além e prestam um serviço muito mais personalizado, monitorando a pessoas diariamente. Glicemia ok? Pressão ok? Todos esses dados e outros vão compor uma base e, caso algum critério não esteja dentro dos parâmetros, a tech aciona o médico para que ele entre em contato. Um exemplo é Biosensing, a startup de Ribeirão Preto (SP), cujo aplicativo coleta e monitora dados dos usuários em tempo real, utiliza inteligência artificial e internet das coisas (IoT) para prevenir e identificar doenças e, se preciso, avisar a necessidade de consulta ou acionar um serviço de emergência.
Sempre vem mais por aí!
As retailtechs também revolucionam o varejo de diferentes formas. Algumas delas focam em melhorar operações de loja, tarefas como horário de funcionários, agendamento de pagamentos e controle de estoque. Outras oferecem robôs para abastecimento, coletam e armazenam dados para melhorar e automatizar os processos e até mesmo diminuir os funcionários nas lojas. “Em uma loja da Amazon, ainda em fase de testes, já existe uma série de dispositivos que fazem a leitura de quem é a pessoa e o seu cartão de crédito, permitindo que ela realize uma compra sem que ninguém a atenda”, comenta Letícia. “Em alguns países pode dar certo e em outros não, como é o caso de lugares em que não se usa muito o cartão de crédito. Depende da faixa etária, do perfil, da aderência à tecnologia, se faz ou não sentido nesse mercado”.
A questão da mobilidade é um assunto promissor para o surgimento de novas techs — já tem até pizza sendo entregue por drone. Já existem ferramentas bastante avançadas para o rastreio de mercadorias, que não apenas fazem a geolocalização, mas também traçam as melhores rotas e agilizam as entregas. “Será cada vez mais comum o uso de embalagens inteligentes, rastreadas do momento que saem da fábrica até a entrega ao consumidor final, sem que seja necessário um entregador para dar baixa nesse processo, além da maior rapidez”, revela a professora. “Obviamente que são mais caras, mas os chips instalados em diferentes lugares diminuem o roubo de cargas, favorecendo o mercado legal, mesmo que os rastreadores sejam removidos dos caminhões”.
Conheça outras techs:
Foodtechs: oferecem soluções tecnológicas para o setor alimentício com a prestação de serviços de forma disruptiva, inovadora e diferenciada. Atuam não apenas na entrega (como muita gente pensa), mas em toda a cadeia alimentar (produtores, fornecedores e consumidores, soluções para otimizar processos, evitar desperdícios de alimentos, promover a sustentabilidade, reciclagem de embalagens etc.).
Agritechs: startups voltadas para o sistema agropecuário, em que a tecnologia adequa, por exemplo, novos modelos de produção, reduz custos, tempo e mão de obra; melhoram a produtividade, a qualidade dos produtos, evitam desperdícios e facilitam a vida do profissional rural. As soluções englobam a agricultura de precisão (variabilidade do solo e do clima), monitoramento de lavoura e a modernização de equipamentos (sensores, drones, GPS, entre outros).
Govtechs: a tecnologia traz modernização e soluções de problemas internos e de administração pública. Entre os objetivos estão a desburocratização, a transparência (exemplo: softwares de gestão de documentos e andamentos de processos), e a implementação de políticas públicas para beneficiar seus “clientes”, ou seja, os cidadãos.
Cleantechs: aqui a preocupação do negócio escalável também engloba a sua função social, com o bem-estar das pessoas, o meio ambiente e a sustentabilidade. Sendo também chamadas de startups verdes, essas empresas priorizam fontes de energia sustentável (vento, luz, calor e força das marés) e reduzem o uso de recursos não renováveis (petróleo, o gás natural e o carvão). Utilizam a tecnologia para melhorar o desempenho dos negócios, otimizando processos, reduzindo desperdícios e custos, além de poluir menos e diminuir a produção de rejeitos.