Por Caio Henrique Decicco de Carvalho, Larissa Luz Raposo e Rosemeire de Souza Vieira Silva (MPCC ESPM) e Matheus Eurico Soares de Noronha (PPGA ESPM)
O nicho de moda evangélica é também conhecido no mercado como “moda comportada”: comprimento da saia sempre próximo ao joelho ou abaixo, ausência de decotes, e ampla presença de mangas – geralmente acompanhados de cintos ou cortes para demarcar a cintura. E ele se tornou o objeto principal de uma pesquisa conjunta de quatro alunos dos programas do Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor (MPCC) e do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA), da ESPM de São Paulo. O objetivo: entender como a religião influencia o consumo de moda das mulheres evangélicas, visando oferecer contribuições para profissionais de marketing da indústria da moda.
O público evangélico compõe um poderoso segmento da indústria da moda: afinal, entre os cerca de 92% dos brasileiros praticantes de alguma religião, 40% se declaram evangélicos. E eles têm um alto potencial consumidor. A Associação de Empresas e Profissionais Evangélicos do Brasil (ABREPE) estima que o mercado consumidor evangélico represente R$ 21,5 bilhões/ano no mercado varejista em geral – que movimenta R$ 1,4 trilhão/ano. E pesquisas do Sebrae ainda apontam que 10% do mercado consumidor de moda evangélica é formado também por mulheres não evangélicas.
A pesquisa contou com entrevistas de mulheres da comunidade da Assembleias de Deus de Embu das Artes. Foi adotada uma abordagem que abrange a convivência e observância participante dos comportamentos e costumes culturais dessas consumidoras. Foram realizadas entrevistas, estímulos com imagens e com palavras – incluindo fotos de seus guarda-roupas.
A moda comportada não é uma restrição: o efeito cultural faz com o que essas mulheres não entendam essa escolha como restrição e criem cada vez mais possibilidades de diversificação dentro dos padrões de “usos e costumes” aceitos pelo grupo;
A roupa não é uma imposição: essas mulheres se identificam com a religião, possuindo senso de pertencimento e motivação para aderir aos usos e costumes da comunidade das assembleianas;
Separação clara entre roupa do dia a dia e roupa de ir à igreja: a calça jeans, por exemplo, foi um item de muita discussão na pesquisa. As consumidoras mais jovens apontam não ver problema em seu uso nos cultos – no entanto, as mais velhas repreenderam essa prática.
Os rituais são motivadores: maior motivador de compra são os rituais religiosos denominados “cultos” e todas as suas variações;
Cultos são oportunidades: os cultos são momentos nos quais essas mulheres demonstram sua devoção e respeito ao seu Deus, e usam essa oportunidade para vestir suas melhores roupas;
Não buscam lojas especializadas: a compra é definida pelo estilo e essas mulheres não buscam lojas especializadas em moda evangélica;
Quer saber mais? Clique aqui para conferir a pesquisa completa.
Eu fico me perguntando que quem patrocina a moda evangélica deveria analisar que estamos num país de mistura de raças. Sou negra e evangélica e a maioria das modelos não representam a raça negra. Gostaria que usassem também as modelos negras na apresentação da moda evangélica. Estou até pensando em fazer uma pesquisa nesse sentido.
Boa idéia Alice! Pode contribuir e muito, já que no Brasil nossos corpos são miscigenados e quase todos nós temos dna afrobrasileiro. Além dos modelos os moldes também precisam refletir esses corpos.