Imagine que um dos fundos de investimento onde está parte do seu dinheiro caia mais de 35% em um único dia, resultando numa queda de 50% em uma semana. Agora imagine que pouco mais de 12 meses depois uma unidade desse mesmo investimento tenha passado de 58 mil para 61 mil dólares em uma semana. Emoções dignas de uma mega montanha russa, não? Isso é o que pode acontecer com quem investe em criptomoedas, modalidade financeira surgida em 2009 com o Bitcoin, que abriu caminho para uma série de moedas digitais como Ethereum, Tether, Ripple e Litecoin, entre outras.
Para pessoas de perfil arrojado pode ser interessante apostar nas criptomoedas, mas sempre tendo a consciência de que esse ambiente é muito volátil. Nessa entrevista, a economista Paula Sauer dá pistas para quem quer entrar nessa onda e explica porque ela, particularmente, não gosta de criptomoedas. E, acredite você, Warren Buffett, um dos maiores investidores do planeta, também não.
O interesse pela criptomoeda é frequente e a pandemia acelerou o que já era uma tendência. Para o investidor de diversos perfis eu diria o seguinte: entenda seus planos e prazos e, antes de pensar em investir, é preciso entender como funciona, quais são as formas seguras de armazenamento e a sua tolerância (do investidor) a riscos. O investidor precisa ter muito claro qual é o seu objetivo em relação àquele recurso que está sendo aplicado e comprar uma quantidade de criptomoedas que seja compatível com o seu perfil. Precisa identificar também como ele próprio reage lidando com ativos de alta volatilidade. É adequado não ultrapassar o limite da sua tolerância a risco, não brincar com prazos arriscados e tampouco expor a risco o seu patrimônio.
A volatilidade é inerente ao mercado de moeda digital e o preço das criptomoedas é regido pela lei básica da economia, que é a da oferta e demanda. O indivíduo que compra preocupado com essa oscilação claramente não tem perfil para esse mercado. A oscilação de preços sabidamente faz parte desse jogo e é considerado normal ocorrer alta e baixa de preços de até 30% em poucas horas. Como tudo que se relaciona ao digital, há uma certa previsibilidade sobre seu potencial, mas não há uma demanda mínima ou que garanta seu preço mínimo ou máximo. Existe ainda a possibilidade de que em alguns países leis regulatórias inibam ou até mesmo proíbam a circulação das criptomoedas, o que levaria o detentor das moedas a vender maciçamente, fazendo despencar seu preço. Há também a possibilidade de ver surgir uma moeda mais atraente, o que pode levar uma criptomoeda à depreciação.
Tudo isso afeta, porque há a lei da oferta e da procura. Instabilidade política, eleição, guerras, crises econômicas e a própria crise sanitária que estamos vivendo afeta a tomada de decisão do investidor. Somos avessos à perda e um cenário repleto de incertezas como o que estamos vivendo também reflete no apetite do investidor, impactando diretamente na demanda e preço do ativo.
Principalmente para quem está começando a recomendação é buscar exchanges ou corretoras conhecidas e com boa reputação. Em hipótese alguma compre de um desconhecido ou em um fórum de discussão, por exemplo. Existe um mercado paralelo, chamado peer to peer, no qual indivíduos tratam diretamente entre si, mas, principalmente para iniciantes, não me parece a melhor alternativa. Um dos riscos ao administrar sozinho a sua carteira é o de perder ou esquecer a chave de segurança (é o número de cadastro do investidor), e nas exchanges esse risco é minimizado. Em corretoras é mais fácil comprar, sem contar que você terá à disposição várias criptomoedas e não só o Bitcoin. Por outro lado, deixar nas corretoras há certo risco pois são mais visadas por cyber criminosos.
O blockchain, que é a tecnologia por trás da criptomoeda, tem se mostrado bastante seguro. Com o objetivo de mitigar riscos, os bancos centrais ao redor do mundo buscam promover inovação nos meios de pagamentos, requerida pela transformação digital em andamento na economia global. Além disso, as discussões sobre a emissão de moedas digitais pelos bancos centrais ganharam proeminência ao longo dos últimos anos. Tenho uma visão particular e talvez até “careta” sobre as bitcoins, porque nem moedas são. Não possuem as principais características de uma moeda, não são consideradas unidades de conta, não são meio de pagamento escalonável e não são reserva estável de valor. Não estou sozinha nessa, “monstros” dos mercados de capitais corroboram. Nouriel Roubini, economista turco-americano e professor da Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque é um crítico, Warren Buffett, considerado um dos maiores investidores do planeta, também não se mostra muito fã e se refere as bitcoins como “veneno de rato”. Para Charles Muger, sócio de Buffett, as criptomoedas não possuem lastro e são um produto financeiro criado a partir do nada.