Preocupar-se com a pegada de carbono, economizar água e papel, utilizar meios de locomoção menos poluentes são, sem dúvida, atitudes sustentáveis. Porém, falar em sustentabilidade não se restringe e vai muito além da questão ambiental. Esse é um erro clássico que as pessoas cometem no dia a dia em relação a esse tema. “Não só indivíduos, mas muitas empresas também, por desconhecimento ou motivos diversos que levam a consequências mais sérias, como o greewashing, que tenta dissuadir o público a crer que seus produtos são amigáveis ao meio ambiente”, explica Marcus Nakagawa, professor da Graduação e MBA da ESPM, nas questões de ética, empreendedorismo e responsabilidade socioambiental.
Há um movimento muito grande em relação a essa questão, parte importante do conceito ESG — em inglês, environmental, social and governance, os três principais pilares que analisam o posicionamento da organização e medem o seu índice de sustentabilidade e impacto social. A seguir, aprenda a identificar os 15 enganos mais comuns — muito importante para saber, de verdade, se a empresa que você aprecia, compra e segue nas redes sociais, está agindo dentro dessa conformidade.
Um erro clássico. Reciclar, cuidar de resíduos são, de fato, importantes para a questão ambiental. Pode-se até começar por aí para promover mais adesão, obter mais aderência aos projetos. Mas, mais uma vez, sustentabilidade não se restringe aos cuidados ambientais.
Especialmente se esses conceitos não são estratégicos e alinhados à missão, visão e valores da corporação. “Ambos tornam-se apenas projetos, que até são necessários para dar início ao processo. Mas o erro está em justamente achar que basta fazer um e acabou. Definitivamente, não é só isso.”
Projetos relacionados à sustentabilidade devem envolver todos os funcionários, fazer parte de todas as esferas do negócio, dos processos, da escolha de seus fornecedores e com todos os stakeholders.
Além de ser um estímulo, também mostra a importância desse tema para a empresa. A isso, algumas empresas ainda colocam a sustentabilidade como parte da meta individual.
Não bastam contratações e comitês, também muito importantes, mas essa pessoa precisa ter condições de se integrar. “Assistimos muito a isso com as cotas para pessoas com deficiência: não havia nem a questão física da acessibilidade, de plataforma, de elevadores. Nada era adaptado para recebê-las e ninguém à volta também era treinado para uma conduta de acolhimento.”
Aqui temos os extremos, o das empresas que adoram “aparecer” e de outras que não querem revelar suas ações e números em relação ao tema.
Por meio da comunicação e de várias outras ações, criar uma falsa aparência de sustentabilidade. São práticas conhecidas como greenwashing (“lavagem verde”, “pintura verde”, “maquiagem verde” de produtos e serviços), social washing (melhorar a reputação da empresa por meio filantropia ou ações não eficazes) e diversity washing (fala de diversidade e inclusão, mas esses grupos estão fora das empresas).
Não ter o controle dessas ações também não permite conhecer o real impacto delas na sociedade, além de aumentar (e muito) a probabilidade de comunicá-las de forma errada.
Acontecem uma vez por ano ou de maneira pontual, muitos sem continuidade.
Pode estar relacionada ao greenwashing, mas pode também não ter o peso suficiente. “Não deve ser a mais nem a menos, ser somente correta, transparente e com parcimônia. Por isso, o controle, os números e os indicadores são importantes para essa divulgação.”
Não necessariamente um funcionário específico, mas um comitê, um conselho, um grupo de trabalho multidisciplinar para poder liderar esses pontos. “É importante também envolver o alto escalão — muitas vezes essa questão é delegada a um departamento, uma área etc. e o CEO não está dentro ou a par do processo como um todo.”
Independentemente do porte, todas podem e devem desenvolver esse tipo de cultura, trazendo funcionários com essa mentalidade e com o treinamento dos que lá já estão.
Assim como acontece com as demais metas — qualidade, financeira, de gestão etc. — é preciso traçar as do ESG com engajamento, planejamento, bonificação e/ou conquistas para que elas também sejam “batidas”, dentro de um objetivo maior, do ESG da empresa.
Deve ser o contrário! Em sustentabilidade também entram questões sociais: a pandemia, por exemplo, escancarou muitos problemas com funcionários, relacionados à gestão, necessidade de acompanhamento médico para a saúde psíquica e emocional, entre outros. “Muitos fornecedores receberam apoio de organizações maiores para o seu desenvolvimento, principalmente as médias e pequenas empresas, como adiantamentos de seus fluxos de caixa. Sustentabilidade também é a parte financeira, a humana e a solidária.”
A má gestão dos recursos naturais, da fauna e da flora, o desmatamento, as queimadas e a pouca importância do tema na esfera governamental — inclusive no gerenciamento de crises e da própria pandemia — impactam (e prejudicam) nossos negócios a médio, curto e longo prazos. Hoje o mundo não está preocupado apenas com o aspecto financeiro, mas como você trata seus cidadãos e funcionários. “Os investidores estão cada vez mais atentos às questões ligadas ao ESG, entendendo que não adianta só ter o lucro a qualquer custo e qualquer preço, à base de vidas humanas, de trabalho infantil ou escravo, de não gestão de seus públicos e relacionamentos e o tratamento dado aos recursos naturais. Por isso, muitos priorizam investimentos em empresas e startups que levam em consideração não só os lucros, mas também os impactos positivos e negativos, ambientais e sociais do negócio.”