Ser criativo não está relacionado com se basear em técnicas e métodos para ter boas ideias, e sim com a maneira como o indivíduo interage com o mundo e como vê o que está ao seu redor. Mas isso também não tem nada a ver com se sentir no dever de consumir informação e estar por dentro dos trending topics da vida, aumentando a bagagem para desenvolver a criatividade.
Todo mundo tem um repertório herdado da sua educação, dos valores familiares e do que faz no decorrer da vida, dos filmes, livros, músicas e todas as outras fontes de informação que consome. Porém, essa munição não é suficiente para despertar a criatividade. O mais importante é observar. Observar dentro de si e fora para perceber as sutilezas que acontecem o tempo todo.
“Nascemos criadores e somos criativos quando aproveitamos as ‘janelas de oportunidades’, que é um termo da neurociência. Uma criança tem janelas de oportunidade de explorar o mundo. Se o contexto que ela está favorece experiências, isso a ajuda a desenvolver uma confiança com relação às respostas que vão surgindo. Então, criatividade é muito mais sobre interação do que sobre o resultado”, explica o professor de Criatividade e Inovação da ESPM, Thiago Gringon, que dá 7 pistas para você desenvolver atitudes que ajudam a ser mais criativo.
Um contexto de vida limitador, como uma família que não estimula os filhos ou uma sociedade muito fechada, muitas vezes não permite que a pessoa tenha experiências abertas, e provavelmente ela vai desenvolver uma fobia criativa, um medo de explorar, de ver a folha em branco e de pensar diferente. Daí ser tão importante se permitir explorar novidades, fazendo coisas diferentes.
Deveria ser tão comum quanto escovar os dentes. Olhar para o céu e ver o movimento das nuvens, acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de uma planta, investigar o formato de vegetal que está cortando te conectam com a naturalidade das coisas e com você mesmo. Ao acompanhar as estações do ano talvez seja possível perceber como o seu corpo reage à mudança do tempo, e essa interiorização te deixa menos direcionado com os apelos externos e mais atento a detalhes.
Conversar com pessoas mais velhas e com crianças pode descortinar uma nova dimensão de pontos de vista. A criança exerce a sua liberdade embasada na curiosidade e na experimentação de saber como as coisas funcionam e o que acontece se ela assoprar uma flor dente de leão. Alguém mais velho conta a sua experiência, como enfrentou determinado desafio e como ele vê determinadas situações, apresentando um olhar mais maduro da vida.
Mas o que isso realmente significa? É pensar muito além do nosso repertório, porque a caixa somos nós. Um exemplo é o funk. Tem gente que diz que é uma música ruim, mas esse pensamento crítico pode ser questionado. Existe algum funk com uma letra boa? Para descobrir é preciso ouvir vários funks e de repente se dar conta de que alguns são bons. Um exemplo dessa flexibilidade necessária é o MC Fioti, que saiu da caixa ao ouvir outras músicas além das da quebrada e compôs o Bum Bum Tam Tam usando como base um acorde do compositor barroco Johann Sebastian Bach (1685-1750).
O passado jamais deve ser ignorado, porque é a partir dele que o mundo é como é atualmente. É preciso conhecer o que foi criado e ter em mente que o que criamos agora será instrumento para alguém no futuro. Por isso é importante respeitar o repertório de quem já fez e o que já foi feito. O que você criar não vai parar na sua geração, fica para a posteridade.
É importante saber se adaptar aos recursos que estão à mão. A pessoa precisa conhecer os processos de saber, por exemplo, buscar informação sem recorrer à internet e aceitar o quanto precisa ser flexível. Se não tem o que julga importante para tocar uma ideia, deve usar a criatividade e fazer de outra maneira. Entenda que não é necessário ter toda uma estrutura. O filme O Menino que Dominou o Vento (Netflix) é um ótimo exemplo. A partir da observação do movimento do vento um garoto de Malawi construiu uma turbina eólica usando objetos encontrados no lixo.
Segundo Gringon, as pessoas deveriam estar em um lockdown de conteúdo para viver o ócio e poder meditar, a fim de conquistar a capacidade de aquietar a mente e devanear. Fique com um bloquinho de notas do lado, caso seja necessário anotar alguma ideia que surgir, e priorize abrir um espaço interno.
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