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Desbancarizados e o acesso ao auxílio emergencial: esperança e ansiedade na pandemia

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Pandemia de Covid-19 revela milhões de brasileiros invisíveis ao governo. Sem conta bancária ou CPF, essas pessoas se arriscam em filas nas agências da Caixa em busca do auxilio emergencial

Por Carolina Bernardi e Lucas Davi Bertol*

“Entre morrer de fome e morrer de barriga cheia acho que prefiro morrer de barriga cheia, né?” A frase contundente exibida no programa Fantástico, da Rede Globo, foi dita por Lucas Silva Nunes, ajudante de pedreiro que aguardava em uma longa fila da Caixa em busca do auxílio emergencial. O dilema vivido por Nunes é o mesmo de milhões de brasileiros durante a pandemia de Covid-19, doença que até o dia 23 de maio já tinha matado mais de 21 mil pessoas no Brasil.

O novo coronavírus surgiu na cidade de Wuhan, China, no final de 2019. Em apenas dois meses e meio, já havia se espalhado por vários continentes. E no dia 11 de março, foi classificado como pandemia pela OMS.

As principais medidas tomadas, até agora, para combater o vírus são o distanciamento social e o isolamento de doentes ou suspeitos, em suas casas ou hospitais. Por isso, várias cidades fecharam comércios, permitindo apenas o funcionamento de serviços essenciais, como hospitais, farmácias e supermercados. Mas essas medidas de proteção também tiveram grande impacto econômico. Milhões de brasileiros sentem no bolso os resultados, principalmente os mais vulneráveis economicamente, como trabalhadores informais, autônomos, desempregados e microempreendedores individuais (MEI), que segundo o Sebrae totalizavam em janeiro mais de nove milhões de brasileiros.

Frente a esta situação, o Congresso Federal aprovou um auxílio emergencial de três parcelas de R$ 600, valor bem abaixo do salário mínimo, mas que pode ajudar muitas famílias a se alimentarem durante a pandemia. O governo federal espera atender 54 milhões de brasileiros com o benefício.

Desbancarizados

Entretanto, conseguir acesso a este auxílio se tornou um problema antes de ser solução para boa parte da população, pois muitos não possuem contas em banco ou nem mesmo CPF. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, de 2019, mostrou que o Brasil tem, aproximadamente, 45 milhões de desbancarizados, sendo destes 59% do sexo feminino, 62% interioranos e 39% nordestinos. A proporção, estimada pelo instituto, é de 1 brasileiro desbancarizado para 2 que possuem contas em banco. Isso fez com que o Governo Federal tivesse de tomar medidas para tornar o chamado “coronavoucher” acessível.

Números que iludem  

Os anos de 2018 e 2019 foram marcados por recorde de investidores na Bolsa de Valores brasileira, que, segundo a B3 (antiga Bovespa) atingiu a marca de 1,4 milhões de brasileiros. O ano de 2020, em contrapartida, mostra como otimismo em relação a esta adesão, na verdade, invisibiliza ainda mais as camadas populares e oculta as suas necessidades: enquanto se imagina que as finanças e os investimentos estão dominando o país,  64% dos indivíduos da classes C/D/E não poupam seu dinheiro, e 26% da população sequer tem acesso à bancos.

Desburocratização

Para possibilitar o acesso dos desbancarizados e sem CPF ao auxílio, o governo facilitou a emissão do cadastro de pessoa física durante a pandemia e a criação de contas bancárias. É possível realizar a inscrição por e-mail, e as contas em banco podem ser abertas pela internet, o que agiliza o processo e evita aglomerações.

Porém os empecilhos para conseguir o auxílio são muitos, passando também por problemas para finalizar o cadastro no site ou no app. Além disso, a conclusão do cadastro não garante o acesso ao dinheiro, que pode ser negado sem grandes explicações. Por estas complicações, muitas pessoas se veem obrigadas a irem até unidades da Caixa Federal, resultando em extensas filas.

Os “invisíveis”

As longas filas nas unidades da Caixa Federal em todo o Brasil escancaram a existência de um grupo social de “invisíveis”. O estado não possui registros de 11 milhões de brasileiros que compõe o grupo que pode pedir o auxílio. Essas pessoas não recebem nenhum auxílio e não estão no Cadastro Único (iniciativa do Governo Federal para identificar e conhecer as famílias de baixa renda).

O cenário atual escancara a situação agonizante dos desbancarizados e seus esforços em busca de inclusão no setor bancário para obtenção do socorro do governo. A crise de saúde por assim dizer, fez saltar aos olhos algo constitutivo, de longa data, na sociedade brasileira – a desigualdade.

*Alunos do Curso de Ciências Sociais e do Consumo ESPM – SP

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