O dress code empresarial está muito mais flexível do que há 15 anos. É claro que, em algumas companhias, ainda é comum o uso de ternos, por exigência do cargo (expressão de poder, por exemplo) ou por ser comum em determinados segmentos, enquanto existem outras onde o funcionário pode se apresentar de chinelos.
Para Lorena Borja, professora da ESPM e especializada em tendências, desenvolvimento de produtos e branding para indústrias criativas, o movimento de tornar a vestimenta de trabalho mais casual está atrelado à necessidade de se criar um bem-estar dentro desses ambientes. “Empresas que ainda não dão essa abertura, especialmente em relação às diferenças climáticas de um país como o nosso, precisam entender de que modo isso também reflete na imagem ela quer passar”, acrescenta.
As companhias estão atentas de como e do quanto a roupa influencia na saúde mental e emocional do funcionário, já que ela faz parte de um conjunto maior de diferentes políticas. “O dress code também vai além das relações pessoais e está diretamente ligado à forma de se expressar nesses espaços”, observa a especialista.
O modelo que um funcionário escolhe para ir ao trabalho também mostra o quanto ele está mais confortável, mais acolhido, mais visto e ouvido. “Ele sente que pode ter sua identidade, mesmo dentro desse mundo corporativo. Também passa pela questão de inclusão, especialmente porque o trabalho ocupa muitas horas das pessoas.”
Mesmo que algumas empresas já flexibilizassem seu dress code em alguns dias da semana, com “devidos cuidados”, o modelo de trabalho remoto ou híbrido pós-pandemia de covid-19 estabeleceu novos parâmetros para a vestimenta. “Foi um acelerador para mais informalização do guarda-roupa”, acrescenta Lorena. “Houve também uma queda na venda de tecidos de base sintética, muito utilizados na confecção de uniformes e peças para baladas, que não faziam sentido naquele momento.”
Com isso, as pessoas experimentaram o conforto da malharia e de muitos modelos até então nunca usados nesse ambiente. Voltar para uma realidade anterior passou a ser sinal de retrocesso e perda de conquistas, pois a fronteira entre ‘roupa de trabalhar’ e ‘roupa de ficar em casa’ já havia sido rompida. “Muitas já não abrem mais mão de usar tecidos naturais, outros muito mais confortáveis ou peças com modelagens mais amplas. E não é mais só para ir ao escritório, mas o de se vestir de um modo geral, não importa a ocasião”, analisa a especialista.
Por outro lado, mesmo com essa maior liberdade, resultado de ambiente mais diverso (com possibilidade de ir de um extremo ao outro), é preciso ainda manter alguns códigos para colocar limites estéticos e que sejam bons para convivência de todos.
A cultura de vestimenta de uma organização normalmente não precisa ser “ensinada”, pois é percebida visualmente pelo funcionário. “É mais fácil você tratar a exceção do que elaborar regras, tomando medidas que possam ser interpretadas como forma de opressão”, alerta. “No fundo, proibir algumas expressões no dress code está mais relacionado a outras políticas internas, e é algo que hoje soa como desatualizado.”
O jeans e as camisetas, por exemplo, já estão naturalmente incorporados ao dia a dia — algo impensável há alguns anos, especialmente em alguns setores. “Hoje existe a moda que fica entre o casual e o formal”, avalia a professora. Na prática, para trabalhar é possível usar elementos de moda, associados a cortes mais clássicos e tecidos mais nobres, além das peças mais básicas, sem tantos detalhes.