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A origem e o futuro das Ciências Sociais

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Coordenador do curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM explica como esse campo de estudo se desenvolveu e avalia seus desafios e oportunidades para o futuro

Por Tiago Pereira Andrade*

A diferença das Ciências Sociais para as Ciências Humanas está atrelada ao rigor metodológico. Influenciada pelo Iluminismo e Renascentismo a partir do século XVII e culminando nos estudos de Augusto Comte, Émile Durkheim e Karl Marx nos dois séculos seguintes, buscaram entender melhor as sociedades e eventualmente propor soluções para aquilo que entendiam como problemas sociais.

Karl Marx, um dos filósofos mais discutidos de todos os tempos, e sem dúvidas, grande gerador de polêmicas, inspirou ideologias em todo planeta, sendo idealizado ou demonizado. Bandeiras, pronunciamentos e políticas de todas as ordens, evidenciando conflitos e injustiças sociais, foram marcos de guerras, divisões, polarizações, jogos de interesses em inúmeras interpretações diferentes sobre sua obra.

Na América Latina, mais especificamente no Brasil, em São Paulo, há 88 anos, a primeira faculdade voltada aos estudos e pesquisas em Ciências Sociais surgiu. Vale lembrar que, no ano de seu surgimento, uma das consideradas maiores obras das Ciências Sociais brasileira também foi lançada. Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre em 1933.

Poucos anos depois, o mundo travava a Segunda Guerra Mundial. O Brasil caminhava em seu lento período de industrialização. O projeto nacional de modernização, após o fim da Segunda Guerra, se via dividido. De um lado o projeto liberal norte-americano e de outro o projeto socialista soviético. Para muitas pessoas, pouco interessavam as questões ideológicas, desde que nós nos desenvolvêssemos enquanto nação e economia.

Mas com o acirramento da Guerra Fria nos anos seguintes, as nações que não tomassem lado não conseguiriam apoio e negócios com algumas das maiores potências mundiais. Neste cenário, em 1964, a oposição do governo brasileiro, junto com grande parte da sociedade civil, e com apoio dos militares, toma o poder no Brasil. Vale lembrar que, sem o apoio da sociedade civil e o patrocínio norte-americano, os militares não chegariam ao poder.

Neste momento, o Brasil tomou lado definitivo pró Estados Unidos. Em 1968 é decretado o famoso Ato Institucional nº 5, cerceando a liberdade de expressão e dando poder absoluto ao Estado brasileiro. Vários crimes contra a liberdade e a vida foram cometidos em um regime muito parecido com outros países latino-americanos. As faculdades de Ciências Sociais automaticamente tornaram-se inimigas públicas do governo. Centenas de estudantes e professores desapareceram.

Conforme o tempo foi passando, e aos poucos o regime sendo cada vez mais questionado, os cursos de Ciências Sociais foram sendo cada vez mais procurados. O contexto histórico favorecia isso. Depois do fim do período militar, já na década de 1980, a nação passava por um período de reconstrução, e a Guerra Fria começava a apontar para a derrocada da União Soviética e os Estados Unidos tornava-se cada vez mais poderoso.

O projeto Neoliberal cravava estacas cada vez mais profundas em todos os cantos do globo, e as sociedades do consumo, do desempenho, da informação, do entretenimento e das culturas de massas tornaram-se cada vez mais delineadoras dos estudos nas Ciências Sociais. Mas, o nível de complexidade com o surgimento dos grandes blocos econômicos, e o desenvolvimento de tecnologias nos anos seguintes, colocam as Ciências Sociais em crise.

Os modelos econômicos e o intercâmbio cultural se globalizando, além do aumento da velocidade nas trocas de informações, ameaçam a permanência das culturas locais. O capitalismo se reinventa inúmeras vezes. A população mundial cresce muito, e hoje é quase o dobro dos anos 1980. A devastação do meio ambiente começa também a se tornar uma das maiores preocupações mundiais.

As Ciências Sociais começam a voltar seus estudos para a sustentabilidade e para as lutas por direitos. Com a percepção pública cada vez maior que os opressores e os oprimidos possuem: gênero, etnia, localização geográfica, sexualidade, idade, aparência física, religião – diversos debates públicos tornam-se então o âmago das Ciências Sociais. Entre eles, o consumo.

Há quem diga que vivemos uma época muito diferente do século XVIII em termos das estruturas sociais, outros dizem que não. Alguns que observam essa diferença nos contam que a teoria das lutas de classes não dá mais conta de interpretar a complexidade do mundo. Os que dizem que nossa essência pode ser comparada ao início da industrialização defendem que os clássicos deram e continuam dando conta de explicar quase tudo. Compactuo com as ideias do segundo grupo, mas entendo o primeiro. E você, o que pensa?

*Doutor em Ciências Sociais na PUC-SP. Mestre em Comunicação e Prática do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Possui graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor de Sociologia e Antropologia pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, além de coordenador do curso de Ciências Sociais e do Consumo.

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