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Como a pandemia afeta os negócios internacionais e o que esperar da retomada

Patrícia Rodrigues
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Diego Bonaldo, coordenador do Observatório de Multinacionais da ESPM, avalia os impactos da pandemia sobre os negócios entre nações e aponta as perspectivas para a retomada

A pandemia de coronavírus — sem precedentes no último século, com fortes e severos impactos, tanto nas dimensões humanitárias (mortes) quanto nas econômicas — necessita de um enfrentamento eficaz em diferentes frentes, algo que não ocorreu no Brasil, segundo Diego Bonaldo, coordenador da Pós-graduacão em Negócios Internacionais da ESPM. “Ao falar de Brasil, são muito evidentes grandes problemas: muito tempo patinando em negar a situação, colocando-a em outra dimensão da realidade e, no enfrentamento, dificuldade de combater de uma maneira efetiva, ou seja, com eficiência e eficácia.”

Mas com a vacinação finalmente avançando, como fica a retomada do Brasil no comércio internacional? O que podemos esperar dos negócios entre nações no mundo pós-pandemia? E quais impactos os novos hábitos de consumo devem ter sobre o mercado? Confira as respostas para essas e outras perguntas na entrevista com o professor da ESPM:

Como a pandemia afeta os negócios internacionais e o que podemos esperar da retomada pós-pandemia no Brasil?

Durante a crise de coronavírus, os negócios internacionais são impactados porque a pandemia desestabiliza os campos humanitários e econômicos. Isso é algo que não dá para separar. O mundo inteiro sentiu isso, principalmente em 2020. Mas, agora, observamos uma leve retomada porque outros países estão retornando, de forma gradual, às suas atividades econômicas e os preços das commodities estão subindo. E, como o Brasil é exportador de commodities, nosso comércio exterior vê, por exemplo, uma recuperação com a perspectiva de exportação e importação, inclusive de maneira acelerada. Com commodities a preços elevados, há uma demanda internacional e empresas perceberam essas janelas de oportunidades de exportação para alguns mercados — especialmente porque o nosso cai de forma muito rápida. Então, essa recuperação é puxada principalmente pelo aquecimento da demanda internacional.

Daqui para frente, como devem ser os novos negócios?

Não dá para pensar nos negócios de hoje com os parâmetros de antigamente. Um exemplo: não trabalhar com estoque zerado com a produção contínua, mas ter algum tipo de estoque para contingências, tendo em vista as variáveis não controladas, como, por exemplo, uma pandemia! Os modelos de previsão, de cenário, estão passando todos por novos ajustes com nível maior de complexidade. E os negócios devem incorporar isso com o objetivo de mitigar riscos, trabalhando em outros patamares. Os impactos serão nos modelos, em cadeias e redes de valor, e as lideranças executivas que não estiverem pensando sobre isso estão fora de contexto.

A pandemia também mudou a expectativa de consumo das pessoas. Como isso se reflete nesse novo cenário?

No modelo de negócio. Não se trata de uma situação econômica em que se cai e retorna-se, simplesmente, ao mesmo patamar. A pandemia não é só uma desaceleração abrupta da economia com “a volta ao que se fazia antes”. Ela é tão avassaladora que reflete nos problemas já existentes dos clientes, que podem ser governos, empresas ou consumidor final. Muda a maneira como vemos o mundo, como vivemos e manifestamos. Tudo isso demandará outros tipos de soluções. Nós já tínhamos Skype, WhatsApp e fazíamos reuniões presenciais. Qual será a probabilidade de fazermos dessa maneira daqui para frente? Creio que muito pequena, em casos emergenciais e só. As tecnologias já existiam, os comportamentos vão mudar, assim como os problemas. Logo, os modelos de negócio devem monitorar esse cenário para fazer os ajustes. Quem não fizer isso vai declinar, fechar o seu negócio independentemente da situação econômica e do setor em que atua.

E no âmbito internacional?

A pandemia vai modificar negócios como um todo e os países tendem, no curto prazo, a adotar medidas mais protecionistas para assegurar o seu próprio mercado, mas isso não é sustentável ou sustentado com o tempo. Sempre defendo que não existe saída que não passe pelo mundo. A vacina é exemplo: não existe nada 100% nacional, precisamos do mundo. Em maior ou menor grau, podemos ter insumos, mas não existe algo de ponta a ponta feito dentro de um país. Por isso que o Brasil precisa “se abrir mais”.

Por que isso ainda não acontece?

Existe uma confusão muito grande entre interesse nacional e nacionalismo. No último, achar que seu país dá conta de tudo sozinho, um erro gigantesco. O interesse nacional é posicionar-se no mundo, com o mundo e apesar do mundo, fazendo valer os seus interesses em diálogo e promover o consenso. A secretaria de comércio exterior defende uma inserção internacional brasileira mais intensa e competitiva. O problema é a retórica política que empobrece muito o debate: vivemos um momento social e político no qual se discutem soluções comprovadamente ineficazes com pessoas morrendo, fora de um contexto pragmático e com uma guerra cultural nas redes sociais, com memes esquerda comunista versus direita libertadora. O prédio está pegando fogo e o cidadão pensando em trocar a cortina.

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Patrícia Rodrigues

Jornalista colaboradora do Trendings.

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