Você consegue se lembrar de meados de março? Sim, faz pouco mais de dois meses – mas parece que foi em outra encarnação… Todo mundo tomado de ansiedade e pelo medo da doença e do desconhecido, pelo “como vai ser?” ou pelo “não sei se aguento…”. Pois bem: muita gente entrou em home office, viu sua rotina não só de trabalho, mas também as dinâmicas familiares e caseiras, mudar completamente. Há quem tenha se adaptado bem e quem ainda se sinta desconfortável. Mas uma pergunta começa a despontar no horizonte e precisa de nossa atenção: o que acontecerá quando pudermos “voltar”?
Seja você do tipo que adorou ou do que detestou a experiência do trabalho remoto e do isolamento, há coisas que unem essas duas correntes. Coisas tão básicas quanto não usar sapatos, abandonar roupas de trabalho, em favor das bermudas, não se preocupar em carregar carteiras, chaves e mochilas… Tantas coisas saíram de nosso radar, não?
Mas há aspectos bem específicos do mundo do trabalho, aos quais também nos desacostumamos: o ir e vir, o trânsito, a divisão do espaço com colegas, o olhar do establishment (em casa, ninguém repara quantas vezes você se levanta, vai ao banheiro ou para para tomar um café).
Por mais que sim, todos passaram a trabalhar mais em home office, borrando a fronteira entre trabalho e vida pessoal, talvez tenhamos nos acostumado com coisas que em princípio podem ter causado ansiedade – mas que foram assimiladas. E a volta, mesmo para algo que já conhecemos e ao qual estávamos acostumados, vai causar desconforto e… ansiedade. Sabendo disso, é bom começar a se preparar. Planeje sua volta (mesmo sem saber quando ela vai acontecer). Faça uma análise de ambiente, levante riscos e oportunidades e projete o que vai precisar fazer para encarar o retorno.
O ser humano se acostuma a tudo, dizia minha avó. E ela, que tinha atravessado duas guerras mundiais, imigrado para um país desconhecido e enfrentado agruras mil (quem nunca?), quando perguntada sobre se um dia gostaria de voltar à sua terra (a Itália), respondia sem pestanejar: prefiro visitar as minhas memórias a me desencantar com a realidade.
Pois bem: mais cedo (tomara) ou mais tarde (espero que não…), as coisas vão voltar. Talvez não como as conhecíamos. Mas, como para minha avó, talvez o grande dilema do futuro próximo seja: ficar com a memória do mundo que deixamos ou encarar o desencanto de como as coisas ficaram – e, mais uma vez, ter de se “acostumar”?
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