Claro que todo mundo espera poder, em 2021, acelerar resultados, recuperar tudo o que perdeu ou não alcançou em 2020, resolver absolutamente todas as pendências e “mudar tudo” na carreira, na vida… Afinal, não foi nada fácil o isolamento, o home office, o estudo remoto – e a casa e um mundo de telas, telinhas e telonas sendo o resumo da existência.
Nada mais natural do que querer “recobrar o tempo perdido”. Mas eu sugiro um pouco de parcimônia. Vale lembrar do viajante que, depois de muito caminhar pelo deserto, estava quase morto de sede e cansaço – mas eis que, de modo milagroso, encontrou uma bilha, espécie de pote de barro, cheinho de água fresca. Uma recompensa mais do que merecida, não? Seria, se não fosse o fato de, na afobação própria de sua sede, descuidar de como segurou o pote – que caiu ao chão, desperdiçando toda a água.
De forma alguma estou pregando modéstia ou timidez nas projeções futuras – mas um pouco de cuidado. Em vez de querer “tirar a diferença” de 2020 em apenas um ano, talvez criando para si e seu negócio uma pressão ou uma obrigação inexequível, que tal pensar em dois anos? Claro que, se o ambiente de negócios e sua estrutura permitir, nada e ninguém te impede de rever seu planejamento (planejar com excelência é permitir espaço de revisão, não?).
Apenas para ilustrar, quem nunca planejou 32 atividades diferentes para “aproveitar o final de semana”? Separou 2 livros para ler, programou de maratonar uma série com três temporadas, correr no parque, almoçar naquele restaurantezinho novo da vizinhança, encontrar os amigos para um cineminha e um jantarzinho, visitar a família, brincar com os filhos – e, claro, tudo isso dormindo até mais tarde e indo dormir mais tarde. Qual é o resultado (previsível) desse planejamento ousado? Arrisco um palpite: uma paralisia que, se rolar duas dessas atividades – pela metade – já será lucro…
Nisso, então, recorra à velha receita do planejar como um pessimista, torcer como um otimista e agir como um realista. Como? Se precisa gastar em dólar, por exemplo, projete de forma pessimista a moeda custando (hipoteticamente, numa eventual crise, ok?) R$ 6,00. Torça muito como Poliana para que ela não passe muito dos R$ 5,00, mas trabalhe com o valor de R$ 5,50. Se o pior acontecer, você tem fôlego para sobreviver. Se o melhor acontecer, você vai economizar R$ 1,00 a cada dólar que tiver de investir – o que cai para R$ 0,50 se o cenário que vingar for o mais próximo da realidade sem solavancos. E dá para ter água para matar uma sede de qualquer tamanho…
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