Especialista em IA explica como funcionam algoritmos e revela segredos desses sistemas

Google, Waze, Netflix, Uber, Spotify, Facebook e Instagram são empresas que fazem parte do dia a dia de milhões (ou em alguns casos bilhões) de pessoas de todo o mundo. Por trás do sucesso dessas gigantes da tecnologia, estão poderosos algoritmos que transformaram o mundo que conhecíamos. Mas, afinal, o que são algoritmos, como funcionam e por que são tão viciantes? As respostas para essas perguntas foram dadas por Alex Winetzki, CEO da Woopi, consultoria especializada em tecnologia e inteligência artificial, em palestra no Social Media Week São Paulo 2020 – FuTeCH. O evento tem apoio da ESPM.

O especialista iniciou sua apresentação explicando que um algoritmo é um conjunto de instruções que tem por objetivo realizar uma tarefa específica. “Pode ser te levar do ponto A ao ponto B, como fazem o Waze e o Google Maps ou te recomendar um livro, uma canção ou um filme, como fazem a Amazon, Spotify e Netflix.”

Winetzki comentou que essas tarefas também poderiam ser executadas por seres humanos, mas um algoritmo consegue as realizar com uma capacidade muito maior. “Quando falamos de levar do ponto A para o ponto B, por melhor que você conheça sua cidade, você vai saber algumas dezenas de ruas e caminhos. Mas um algoritmo vai saber todas as ruas de sua cidade e portando uma variedade infinita de caminhos e possibilidades.”

É por essa praticidade que estamos terceirizando nossas decisões para os algoritmos. “Isso vem com um preço, você elimina a ‘randomicidade’ (aleatoriedade) da sua vida. Deixa de andar livremente e começa a seguir decisões específicas que são trazidas por esses algoritmos. Eles começam a ditar as coisas que você vê, os livros que você lê, as compras que você faz”, alerta o especialista.

E é justamente aí que mora o perigo. Os algoritmos de redes sociais, por exemplo, têm o poder de espalhar mensagens que influenciam decisões das pessoas. E, com explica o CEO da Woopi, esses sistemas costumam dar “maior destaque para mensagens radicais”. “Imagine que você está em um supermercado e todo mundo está ali pagando as compras. Você não vai dar muita atenção para o caixa ao lado. Mas se alguém começa a gritar, você vai dar muita atenção a essa pessoa que está falando mais alto. Quando a gente fala de algoritmos de redes sociais, eles funcionam exatamente da mesma maneira”, explica Winetzki. “Eles tendem a espalhar com mais eficiência mensagens que contenham elementos passionais”.

De acordo com o especialista, isso tem levado entidades e atores políticos a radicalizarem cada vez mais seus discursos. “Porque quanto mais alto você fala, mais a sua mensagem é vista”, afirma Winetzki. “Você acaba tendo que se radicalizar cada vez mais na maneira que faz o seu discurso, mesmo que ele não seja radical.”

Para piorar a situação, os algoritmos de redes sociais tendem a te colocar junto com outras pessoas que pensam exatamente como você. “Primeiro, agrupo pessoas em grupos baseados em mensagens mais estridentes. Em segundo lugar, dentro desses próprios grupos existe uma seleção natural que o que vai ser mais ouvido é o elemento que chama mais atenção. E o que chama mais atenção são nossos sentimentos mais primários: medo, sexo, violência. E temos uma radicalização de discurso sempre andando nessa direção por causa desses algoritmos que decidem o que vamos ver.”

O CEO da Woopi também apontou alguns truques usados para capturar a atenção dos usuários, que explicam o motivo pelo qual não conseguimos nos desgrudar do smartphone e das rede sociais. Confira a seguir:

FOMO

“A primeira coisa é um sentimento típico que chamamos de FOMO, sigla para feeling of missing out. Temos um medo grande de estar perdendo alguma coisa. Os apps e redes sociais conseguem te trazer um fluxo continuo, de maneira que sinta que está acompanhando a maioria das coisas relevantes. E se você tentar fechar o seu Facebok e Instagram, ele vai dizer olhem tudo o que está perdendo, olhe todos os amigos que você vai deixar de acompanhar.”

Falsas alternativas

“Outra coisa que se usa muito em redes sociais e sites de ecommerce é o que chamamos de falsas alternativas. Quando você olha o que quer comprar, outras três ou quatro alternativas adicionais são apresentadas. Parece que são todas as alternativas que você buscava ou procurou. Mas não são. Provavelmente, existem centenas de outras opções que não são aquelas. Mas por razões comerciais, aquelas são apresentadas para você. Isso acontece também quando você vê notícias ou busca seus amigos em uma rede social. Por alguma razão não ditada por você, as coisas que são mais ‘relevantes’ são colocadas em primeiro lugar.”

Incerteza premiada

“O terceiro elemento para conseguir capturar a nossa imaginação ou fazer nosso cérebro ficar grudado em alguma coisa é um truque muito antigo, que chamamos de incerteza premiada. É a mesma armadilha mental usada em máquinas caça-níqueis: você roda algo e tem uma surpresa. A maneira que faço com que vocês permaneçam comigo é fazer com que a cada novo giro de imagens, você receba algo que te dá prazer. Quando somo isso ao temor de perder algo, faço com que você perca muito tempo, com que queira ficar com a gente mais um pouco.”

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