Você está navegando pela internet quando uma vaga de emprego chama a sua atenção. Você então se candidata àquela vaga, envia o currículo, recebe um chamado para a entrevista e… não consegue o emprego. Quase todo mundo que vive o mercado de trabalho já passou por essa situação. E, por mais compreensível que seja a frustração em um caso de feedback negativo, entender que o “não” faz parte do processo é muito importante para o bem-estar da sua saúde mental.
Para descobrir como lidar da melhor forma possível e transformar essa negativa em aprendizado, conversamos com Marcia Portazio, psicóloga clínica, orientadora de carreiras e professora da ESPM, sobre alguns pontos centrais nesse processo.
Antes de mais nada, é importante entender que o “não” em uma entrevista de emprego é natural, especialmente em um contexto atual onde os profissionais passam, em média, menos tempo na mesma empresa.
Isso quer dizer que, ao longo de suas carreiras, a maioria das pessoas vai passar por diversos processos seletivos. É até natural, pensando por esse lado, que recebam mais vezes “não” do que “sim” como resposta.
Para Marcia, é necessário ter cuidado para não receber a negativa como uma rejeição pessoal:
“É importante não se sentir desqualificado como pessoa. Tentar entender a situação como ‘não fui escolhido’, ao invés de ‘fui rejeitado’. Entender também que o currículo e a entrevista refletem o seu perfil profissional. É preciso entender que somos muito mais que isso. Quando você não é escolhido, não é a sua pessoa que não está sendo escolhida, mas sim o seu perfil profissional.”
Marcia acrescenta ainda que não ser escolhido não necessariamente desqualifica as suas capacitações profissionais:
“Não ser escolhido significa que tinha alguém no processo seletivo que apresentou um perfil profissional melhor que o seu. Mas esse melhor não é absoluto. O candidato escolhido tinha um perfil melhor que o seu para aquele contexto, para aquela empresa, para aquela vaga”.
A psicóloga fala ainda sobre a dificuldade e a alta concorrência em muitos processos:
“No processo seletivo, eu estou concorrendo com um número grande de pessoas. É muito mais um processo de escolha que um processo de rejeição. É importante ter em mente que, muitas vezes, para chegar à entrevista, houve várias etapas anteriores. E você passou por todos elas”.
Além de compreender que não conseguir determinada vaga de emprego faz parte da carreira de qualquer um, é importante transformar essa experiência em uma oportunidade de aprender e estar mais preparado para as próximas entrevistas.
Para Marcia, o autoconhecimento é um recurso imprescindível nesta etapa:
“A partir do momento em que entendemos que não fomos escolhidos, o próximo passo é refletir: ‘Por que não fui escolhido? O que eu posso fazer para que, na próxima vez, eu tenha mais chances de ser escolhido?’. É fundamental que eu tenha uma capacidade de realizar uma autoavaliação realista, tanto das minhas competências quanto da minha performance na entrevista.
A psicóloga também reforça a importância de pesquisar sobre a vaga e sobre o que a empresa em questão espera do candidato no processo:
“É preciso também pesquisar e saber quais são os pré-requisitos para as vagas que buscamos. Esse autoconhecimento me leva a essa avaliação realista. Talvez eu identifique, por exemplo, que precise fazer algum curso, algum treinamento ou simplesmente demonstrar melhor na entrevista que eu possuo essas competências.”
Da mesma forma que uma empresa pode não te escolher, você pode participar do processo seletivo e chegar à conclusão de que aquela não era a vaga ideal para você.
“Se eu tenho segurança e maturidade profissional, posso usar o processo seletivo pra conhecer um pouco sobre a empresa e chegar à conclusão que eu não quero trabalhar lá. Posso perceber, por exemplo, que a empresa é desorganizada, tem um RH imaturo ou uma gestão de pessoas ruim. É possível perceber isso no processo seletivo”, explica Marcia.
Para a psicóloga, entender que o “não” é uma via de mão-dupla já pode transformar a maneira com que encaramos o processo e lidamos com uma possível rejeição. E ela ainda ressalta a importância de identificar problemas na empresa durante a entrevista:
“Depois que eu estiver dentro da empresa, eu vou ter que conviver com aquilo por um tempo e por um período muito longo no meu dia-a-dia.”
Marcia Portazio falou também sobre a relação das expectativas de carreira com as transformações da era digital. Como praticamente tudo hoje em dia, é preciso ter equilíbrio:
“O acesso à informação, a tudo que está na televisão, na internet, nas redes sociais, traz um ‘ideal’ de carreira. Isso pode ser positivo, porque posso me questionar sobre onde quero chegar. E, a partir daí, estabelecer metas. Só não posso esquecer que pra eu atingir essas metas, existe um caminho que precisa ser percorrido. E que, nessa trajetória, vão surgir problemas, desafios, frustrações e contrariedades. É importante ter um objetivo, mas também é importante curtir ao máximo o processo.”
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