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O que é ser criativo?  

Roberta De Lucca
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É fazer coisas incríveis que mudem o mundo ou algo simples, mas de uma maneira diferente? Conversamos com um expert no tema para responder a essas e outras perguntas 

“O que é ser criativo? Eis uma definição complexa, porque a criatividade é encarada de maneiras diferentes ao longo da história”, afirma Thiago Gringon, coordenador da Pós-Graduação em Criatividade e Ambiente Complexo da ESPM. Há quem relacione criatividade a dom, mas na visão do professor isso não tem a ver com “dom divino”, porque todas as pessoas possuem o dom da criatividade e quando descobrem quem são têm a oportunidade de responder ao mundo e participar dele. 

“O Ford T, o primeiro automóvel do mundo, o iPhone e Orkut foram inovadores. Para que eles chegassem à sociedade foi necessário trabalho constante e diferente das outras pessoas, visão do contexto e das oportunidades do momento e, principalmente, coragem para dar a cara a tapa e não se preocupar com agradar todo mundo”, afirma Gringon. 

Criatividade já foi associada a habilidade, no sentido de que uma pessoa dotada de alguma habilidade manual era considerada criativa. O sufixo “tivo” se refere a qualidade e quando se afere qualidade a alguém frente à sua produção técnica, ela é vista como sendo criativa.  

Em um mundo complexo, a resolução de problemas a partir de uma visão fora da caixa faz com que alguém competente seja encarado como criativo, porque é um indivíduo que observa o mundo de outras maneiras, tem grande adaptabilidade e desenvolve soft skills; então a competência se transforma em sinônimo de criatividade. A neurociência, por sua vez, define a criatividade como uma função executiva do cérebro. Portanto, todo mundo é criativo e basta desenvolver essa capacidade. 

Na visão de Gringon, criatividade é a reunião de tudo isso e algo mais, que ele define como quatro tipos de consciência: Quem sou eu? Qual é o mundo que acesso a partir da identificação do que precisa ser mudado? O que eu criei para transformar o mundo teve impacto? As pessoas gostaram e responderam dizendo que esse é o caminho? Quando o indivíduo identifica e responde a essas questões ele exerce a criatividade fechando os elos das consciências.  

“Ken Robinson, autor do livro Somos Todos Criativos, afirma que imaginação, criação e inovação são três ações do ciclo da criatividade”, diz o professor, explicando que imaginação é o acesso do indivíduo ao seu imaginário recheado de conteúdos e repertórios diversos e isso dá forma à criação, que pode ser inovadora ou diferente.

O exemplo de David Bowie

O músico inglês David Bowie é um exemplo desse ciclo: nos anos 1960 e 1970, ele usava maquiagem e fantasias no palco como alguns de seus contemporâneos, entre eles Peter Gabriel, Marc Bolan e Elton John. Ele não inovou, mas fazia diferente. No cotidiano, trajava vestidos femininos desenhados pelo estilista japonês Kansai Yamamoto, que chegou a declarar que suas roupas “se tornaram parte de David, suas canções e sua música. Tornaram-se parte da mensagem que ele transmitiu ao mundo”. 

Bowie, além de compor, pensava na cenografia e em projetos luminotécnicos para seus shows a partir do seu repertório cultural que abastecia a sua criatividade. Apelidado de “camaleão do rock”, talvez tenha sido o músico que melhor se adaptou à passagem do tempo, à mudança de culturas geracionais, recriando constantemente sua obra e seu visual sem perder seu DNA. Há algo na obra de David Bowie que o torna único e inovador. Um potencial criativo nato. 

Como estimular a criatividade

É fundamental cultivar hábitos para expandir os horizontes para além do seu mundo. Consumir conteúdos – arte, livros, filmes, séries e músicas, por exemplo – que não têm a ver com o seu cotidiano, movimentar o corpo além da academia, da yoga ou de pedalar e conversar com pessoas diferentes, entre outras coisas. 

O que atrapalha a criatividade

Falta de atualização profissional e de conexão com o que acontece na sociedade e no mundo, trabalhar com entregas pautadas em resultados, num ambiente autoritário, pouco diverso e fluido reprimem o processo criativo e, pior, podem levar a pessoa a começar a duvidar do seu potencial e se sentir desmotivada. 

“Se o indivíduo não consegue ir adiante e se não consegue participar do mundo, ele precisa se conhecer e, sem brincadeira, deveria fazer terapia para destravar e entender que ninguém precisa ser criativo o tempo todo e todos os dias. A pessoa criativa sabe quando parar, sabe que não precisa sofrer e sabe que precisa pausar, desapegar e abrir mão do que faz mal“, diz Gringon.

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Roberta De Lucca

Jornalista colaboradora do Trendings.

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