Alugar um escritório e bancar todos os custos de manutenção é um investimento alto. Isso tanto é verdade, que em 2005 o norte-americano Brad Neuberg criou um ambiente de trabalho colaborativo, hoje conhecido por coworking. Nele, profissionais liberais, empreendedores ou empresas compartilham um mesmo espaço para reduzir custos e todos se comprometem a obedecer a algumas regras de convivência. A ideia simples faz parte de uma tendência chamada economia compartilhada, que é quando há uma troca de serviços, a exemplo do Uber e do AirBnb. No caso do coworking, andares de edifícios são reorganizados para abrigarem diversos profissionais em um mesmo espaço – o que beneficia o locador e quem procura custo baixo.
“A solução é boa, porque ajuda os profissionais que trabalham por conta própria e as empresas que buscam alternativas para driblar as despesas”, afirma Letícia Menegon, coordenadora da Incubadora de Negócios da ESPM em São Paulo.
Recentemente, Claudia Marques Lopes e o marido Edison Lopes transferiram seu escritório de arquitetura para um coworking depois de anos alugando um espaço comercial no centro da cidade de São Paulo. Era uma área de 200 m2 que acomodava bem a equipe de 12 pessoas. Na época do isolamento social devido a pandemia de covid-19, a Argis continuava ocupando esse espaço, mas apenas três pessoas iam trabalhar por escolha própria – moravam perto e queriam sair de casa.
“Com a retomada do trabalho presencial, a maioria da equipe preferiu continuar em home office. Não fazia sentido continuar num escritório tão grande e optamos por alugar uma sala exclusiva em um coworking. Atualmente, três pessoas trabalham presencialmente todos os dias e o time completo se reúne uma vez por semana para uma reunião”, conta Claudia.
A grande maioria dos coworkings são instalados em andares de edifícios, mas alguns estão em casas reformadas. Os espaços compartilhados oferecem várias modalidades de aluguel que incluem despesas de água, luz, internet, telefone, limpeza e manutenção, entre outras. Existem contratos de locação mensal, ocupação de estações de trabalho por diária ou hora, aluguel de sala de reunião e até locação de endereço fiscal e de correspondência – esses últimos são contratados por empresas ou profissionais que trabalham em casa e estão bem instalados, mas precisam de um endereço comercial. Como se percebe, é um esquema customizado de acordo com as necessidades e a disponibilidade financeira dos inquilinos.
De maneira geral, as mesas ficam posicionadas uma ao lado da outra, mas existe a opção de alugar salas fechadas, permitindo mais privacidade a quem deseje ficar isolado do salão onde várias pessoas trabalham juntas. Dependendo do coworking há particularidades. “Temos espaços privados chamados de cabine telefônica para as pessoas fazerem reuniões online ou telefonemas mais longos“, conta Daniela Cavalieri, proprietária do paulistano CoDesign.
Além da questão financeira, esses espaços são interessantes para networking porque aproximam profissionais independentes e empresas, possibilitando uma rica troca de informações. Em um bate papo no café ou mesmo ao ouvir quem está na mesa ao lado, existe a possibilidade de alguém encontrar o profissional que busca para executar um trabalho, por exemplo.
Outro ponto positivo é a ampliação do repertório, a partir do contato com profissionais de diversas áreas. “A convivência num mesmo espaço proporciona um ambiente de maior aprendizagem, principalmente entre os jovens que estão começando a vida profissional. Só de ouvir alguém conversando ao telefone aprende-se algo”, comenta a Letícia.
“Num espaço como esse, as pessoas torcem pelo sucesso do outro e é muito bacana, porque há um espírito de ajuda mútua”, afirma o engenheiro Alexandre Galindo que deixou de ser CLT em 2018 para empreender e trabalha em um coworking desde 2019. Ele escolheu o Plug, no centro da capital paulista, para instalar a sua empresa de segurança no trabalho. “Fiquei sete meses pagando o plano básico de locação, em que você ocupa a mesa que estiver vazia. Depois contratei uma pessoa e aluguei mesas específicas”, conta.
No início do isolamento social, Galindo trabalhou em casa mas manteve o contrato com o coworking, pagando 50% da mensalidade. “O administrador de lá foi muito bacana e chegamos a um acordo”, conta, explicando que a pandemia abriu a possibilidade de um novo projeto de segurança no trabalho voltado ao cumprimento dos protocolos de saúde da Covid-19 e seu negócio cresceu exponencialmente. Galindo passou para uma sala independente, onde atualmente trabalham 12 pessoas.
“Lá eu me sinto em casa, como se fosse o dono. Chego e trabalho a hora que eu quiser, porque fica aberto 24 horas 7 dias da semana, e não me preocupo com questões de segurança, deixo até meu computador lá, e operacionais de manutenção e limpeza”, afirma, explicando que todos os benefícios o inspiram a continuar em coworking.
Cada espaço possui um regulamento interno, que deve ser consultado antes mesmo de se instalar no local, mas algumas normas básicas de boa convivência devem ser seguidas em qualquer ambiente compartilhado.