fbpx
LOADING

Digite para procurar

Streaming ameaça TV por assinatura, mas não as salas de cinema, avalia especialista

Patrícia Rodrigues
Compartilhar

Pedro Curi, coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-Rio, explica o impacto dos serviços de streaming e como essas plataformas trazem infinitas possibilidades para o mercado do entretenimento do futuro

Com a popularização dos serviços de streaming, muita gente passou a questionar a sobrevivência da sétima arte. Nada de pânico: o cinema, como linguagem, não vai acabar! E as salas de cinema? Outra boa notícia! Pedro Curi, coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-Rio, acredita que também não — mesmo diante de um cenário de pandemia, em que muita gente desacredita em uma vida “como era antes”. “Tem uma dimensão do cinema que não há serviço de streaming que substitua, que é a social, a experiência de assistir a um filme ao mesmo tempo com outras pessoas, no mesmo espaço e reagindo juntas”, explica.

Recursos que sincronizam as transmissões, como o GroupWatch e o Netflix Party, permitem que pessoas em diferentes localidades assistam juntas aos conteúdos de plataformas de streaming, inclusive com debates em chats privados. Mas, para o professor, essas soluções não substituem a experiência de ir ao cinema, até mesmo por uma questão ritualística: de sair de uma realidade e entrar em outra. Por exemplo, ao chegar ao cinema, ver a sala de projeção, sentir o cheiro da pipoca e imergir tanto no ambiente quanto na história. “Dificilmente temos isso em casa, pois não há o mesmo comprometimento, tem barulho, tem luz, interfone, telefone.”

Assim como aconteceu com outros meios de comunicação, o cinema vai passar por transformações. “Talvez possamos ter, no futuro, novas experiências a partir de tecnologias, como a realidade aumentada e o maior desenvolvimento de novos recursos, ou como os que são incorporados, por exemplo, nos parques de diversões da Disney (balanço da cadeira, aromas, sensações táteis de vento, brisa, pingos de água etc.)”, comenta Curi.

Para o coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM, a preocupação sobre o avanço das plataformas de streaming é maior para os executivos das empresas de TV a cabo. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), até abril deste ano, a TV por assinatura registra uma perda de 170 mil clientes por mês —  mais que o dobro do ritmo médio de perda registrado em 2020 (77 mil clientes mensalmente).

Na opinião do especialista, muitos consumidores ainda mantêm a TV a cabo porque algumas operadoras oferecerem acesso a uma série de plataformas de seus parceiros. Já os que assinam os serviços de streaming sem intermediários, optam por assinaturas temporárias para maratonar alguma série do seu interesse ou priorizar a contratação das que tenham o catálogo mais atraente.

Diferenciais das plataformas

A grande estratégia do Netflix para se diferenciar de seus concorrentes foi deixar de ser um serviço de vídeo sob demanda para ser um canal por streaming, com identidade própria e um fluxo. Até mesmo porque, um dia, os grandes conglomerados (Disney, Paramount etc.), removeriam seus próprios conteúdos,como está acontecendo.

“Passou de uma videolocadora que era um repositório de conteúdos para ser uma produtora de conteúdos serializados, parte do processo de consumo onde uma série puxa a seguinte”, explica o professor. “Até porque existe uma ligação intertextual entre elas, mesmo que as histórias sejam completamente diferentes. Isso acontece até mesmo dentro de uma mesma série (como Black Mirror), com episódios independentes mas com a mesma relação intertextual entre eles.”

Outra empresa a implementar mudanças foi a Globlo com o Globoplay, ao perceber que não era apenas um repositório do conteúdo da Globo, mas a primeira tela para muitas pessoas. Então, como grupo de comunicação, ultrapassa as fronteiras e já  disponibiliza conteúdos nos Estados Unidos. “Muito mais interessante ter um serviço de streaming para assistir às novelas da Globo no mundo inteiro do que vender a novela da Globo pra China e um outro canal ganhar com isso.”

Tudo em um só lugar

Ao contrário da TV aberta — baseada em um modelo de anúncio, pensando no que as pessoas querem ver, no maior público possível, voltada para toda a família — o streaming possibilita trabalhar com e para nichos, bancar as produções por diferentes posicionamentos (editorial, político etc.), falar com públicos menores e aumentar o catálogo, ter liberdade de escolha desde o número de temporadas, de episódios e do tempo de duração de cada um deles. Isso porque a maior receita não está nos anunciantes.

“Não está amarrada a uma lógica de programação, de temporada (de outono, verão etc.), nem preocupação com tempo ou em ter que agradar todo mundo ao mesmo tempo. Isso traz uma liberdade criativa que incentiva a diversidade, com histórias que nunca seriam contadas se tivéssemos uma mídia 100% hegemônica. Ainda que falemos de mercados grandes, estamos assistindo a histórias que não seriam contadas antes.”

Eu vejo o futuro repetir o passado

Parcerias como a da Disney+ e Globoplay, com ambos os serviços em um único pacote de assinatura, indicam que o futuro dos streamings pode ser baseado em um modelo semelhante ao das operadoras de TV por assinatura: várias plataformas em um só lugar. “É bem possível que a partir de uma única taxa seja possível ter acesso a todos eles, como já acontece com Apple TV, que conta com aparelho para fazer o download de todos os aplicativos, uma espécie de home com a programação de todos eles. Vamos ter serviços de convergência de streaming cada vez mais sofisticados.”

LEIA TAMBÉM:

Apresentações online: o entretenimento virtual veio para ficar?

Diretor da Rádio Novelo avalia o mercado de podcasts nacional

Streaming: um modelo de negócio fadado ao fracasso?

Tags:
Patrícia Rodrigues

Jornalista colaboradora do Trendings.

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *