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Como “acertar o tom” quando temos de “nos vender” no trabalho? Se se supervalorizar, pode soar arrogante (e ameaçador) para colegas e chefes. Se se diminuir, pode passar a imagem de medroso
Uma vez, por volta do ano 2001, num jantar com amigos de amigos, ouvi com real interesse as histórias de viagem de uma pessoa que estava conhecendo naquela noite. Ela falava com muito entusiasmo de suas experiências pela Europa. “E você, já esteve na Europa?”, me perguntou (igualmente com real interesse e não com qualquer inflexão de “superioridade”). Na época, fazia quase dois anos que eu era Diretor de Redação de uma revista de… viagem.
Fiquei bastante preocupado em não soar pedante, arrogante ou exibido – e apenas disse que já havia estado em alguns dos lugares sobre os quais ela estava contando. Acho que acertei o tom: ficamos muito bons amigos até hoje. Claro que rimos muito quando, na segunda vez que nos encontramos, a pessoa veio com injustificado constrangimento se desculpar pela “mancada”. Mas que mancada?
1- Ela não tinha qualquer obrigação de saber o que eu fazia
2- Ela não tinha qualquer obrigação de saber por onde eu já havia viajado ou não
3- Naquela época, ainda não era tão comum assim as pessoas viajarem tanto quanto nas décadas seguintes – e, portanto, a pergunta caberia
Até hoje rimos dessa “estreia”. Mas teria sido fácil errar o tom. Afinal, e apenas para ilustrar, eu havia acabado de voltar de uma viagem de aventura pela Nova Zelândia, na qual havia feito rafting subterrâneo e pulado de uma altura impensável em um salto de bungee jump.
Mas o que essa historinha tem a ver com o mundo do trabalho? Tudo. Eu só contei sobre essa viagem quando havia bastante conhecimento mútuo para que a história não parecesse apenas um exibicionismo da minha parte ou causasse qualquer constrangimento por parte da outra pessoa – que falava de turismo em Paris para alguém que já tinha alguns pins meio exóticos no seu mapa mundi pessoal.
No trabalho é a mesma coisa. Imagine chegar “botando banca”, dizendo para um colega ou um chefe que você já fez coisas “mais significativas”, “importantes” ou “premiadas” do que eles… Ou o contrário: fingir não ter tido experiências tão “significativas”, “importantes” ou “premiadas” quanto eles…
Verdadeiro fio da navalha. Mas é contornável. Portanto, o caminho não é nem “chegar chegando” (já que sua fama, seja ela qual for, vai te preceder, pois hoje nossas vidas e trajetórias podem ser descobertas com uma simples visita ao Facebook ou ao Linkedin) e nem fingir que você não tem nada a contar (e pela mesma razão).
Como me ensinou a minha história/experiência pessoal que contei aqui: tudo a seu tempo. Não deixe sua fama preceder você: ela não é você (e nem o que você fez ou deixou de fazer).
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