O avanço do comércio eletrônico já era um fenômeno notável e contínuo. Com a pandemia, contudo, essa transformação foi acelerada e afetou o comércio físico: pequenos lojistas e até mesmo grandes redes tiveram que iniciar ou antecipar seus planos para entrar (ou se manter) no jogo do mercado online. Para entender um pouco melhor esse momento, batemos um papo com Ricardo Pastore, professor e, desde 2004, coordenador do Núcleo de Varejo e Retail Lab da ESPM-SP.
Experiência no assunto não lhe falta: com passagens por grandes empresas varejistas, ocupando cargos de alta gestão e assentos em conselhos de administração, usou sua experiência para criar a consultoria Ricardo Pastore Retail & Innovation. Graduado em Economia pela PUC-SP, onde também completou seu doutorado em Administração, é Mestre em Gestão de Negócios pela Universidade Católica de Santos e possui especialização em Marketing pela ESPM.
É pouco provável… O que já notamos foi o crescimento realmente exponencial do e-commerce – e, mesmo que ele reduza, não vai voltar ao patamar anterior. O que ele oferece atende a uma necessidade latente do consumidor, que encontrou uma condição ideal para essa modalidade crescer. Lógico que as lojas físicas detêm uma fatia de mercado ainda muito maior. Mas muitos consumidores que foram para o online não vão voltar ao físico na mesma proporção de quando iniciaram essa experiência. Então, um equilíbrio sim, mas em proporções maiores do que as anteriores.
As iniciativas são todas no sentido de estruturar e deixar mais robusta a infraestrutura do e-commerce. Então, entre as lojas físicas, quem não estava ainda, agora está investindo em infraestrutura melhor para atender essa demanda e ingressar no e-commerce. O interessante é que está havendo um crescimento muito rápido fora dos grandes centros. Cidades de até médio porte, e não apenas nos principais estados, buscam agora opções pelo online para atender não apenas seus clientes, mas para chegar a novos clientes. Uma notícia que me chamou a atenção, mostra que alguns shoppings nos Estados Unidos que encerraram suas atividades estão sendo transformados em hubs logísticos para atender pedidos online. Isso é uma prova de que o crescimento das vendas online foi tão grande e deve se manter que aqueles estabelecimentos que encerraram suas atividades na pandemia vão ser reaproveitados como centros de logística, para atender a chamada “última milha”, no processo de venda online para clientes daquela região onde se localizam esses estabelecimentos.
Os pequenos e independentes encontram ferramentas muito interessantes para fazer sua transformação digital sem ter de investir praticamente nada – bastando assinar contratos com provedores que já fornecem toda a infraestrutura. Então, meu conselho é aderir a plataformas existentes, como iFood, que tem o Site Mercado, ou Uber Eats, que tem a Corner Shop – e até o próprio Rappi, que também atende supermercados de grandes redes e pequenos varejistas independentes.
Para a área de conhecimento, é um prato cheio! Para os estudiosos, entender esse fenômeno da transformação digital do varejo, a migração do comportamento do off-line para o online… É um campo muito vasto de estudos, com muitas oportunidades para quem estuda marketing, comunicação, comportamento do consumidor, para quem estuda modelos de negócio, infraestrutura logística. Várias áreas do conhecimento vão tirar proveito dos fenômenos que estamos vivendo neste momento.
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