Nunca as empresas souberam tanto sobre cada um de nós – começando por todos os nossos dados pessoais e chegando a requintes de detalhamento de nossas preferências nos mais diversos aspectos de nossa jornada de compra, como a nossa cor preferida de roupa de baixo. E isso fica claro pela quantidade de mensagens e outros contatos que as marcas se esforçam para nos enviar e se manter vivas na nossa memória. Um avanço diante do que se via (e se fazia) lá nos idos tempos da vida analógica. Será?
Não sou passadista e tampouco saudosista – mas tenho de ser justo: mesmo em sua simplicidade, algumas práticas de “relacionamento” de outros tempos tinham um enorme poder de encantamento e efeito comprovado.
Uma delas era típica de todo final de ano: a distribuição de calendários de parede. Fosse na quitanda do Seu João, fosse no mercadinho do bairro ou no posto de gasolina, esse era o brinde que todos esperavam. E usavam! Atire a primeira pedra quem nunca viu, na sua própria casa ou na de seus avós, a tal folhinha pendurada atrás da porta da cozinha… Algo útil e que fazia sua marca ser lembrada todo santo dia.
Alguns “estabelecimentos”, assim como prestadores de serviços, investiam até mesmo em “brindes” mais bacanas: agendas, relógios e até panetones e cestas de Natal. Por mais que fossem coisinhas “baratinhas”, na maioria das vezes, era sempre uma delícia ganhar essa deferência.
Outras formas de ser “próximo” de nós que esses negócios analógicos utilizavam e que caíram em desuso passam pelo antigo “caderninho do pendura” e pela prática do bom e velho bate-papo.
Com relação ao primeiro, pergunto: há outra prova mais cabal de confiança no consumidor do que entregar seu produto ou executar seu serviço e apenas registrar numa caderneta os valores devidos para que, em algum momento mais propício (geralmente no “dia do pagamento”), o “freguês” acerte sua “conta”? Hoje, o sorriso e a confiança só vêm mesmo depois que a transação seja aprovada pelo administrador do seu cartão. E, caso a empresa não cumpra sua parte do acordo, você que se vire para cobrar a entrega…
Já a prática do bate-papo ia além do “olá, meu nome é Fulano, e o seu?”, acompanhado de um sorriso protocolar nas lojas ou por outras mensagens enviadas por assistentes virtuais via WhatsApp ou outra plataforma. Era comum entrar numa loja e já ser chamado pelo nome e ter de responder como vai sua família (pergunta invariavelmente acompanhada de comentários sólidos sobre pessoas e fatos específicos).
Claro que reconheço as conquistas enormes que as novas ferramentas de relacionamento nos permitem. Porém, se há ganhos em rapidez, facilidades e outros aspectos das situações de compra e venda, parece que está faltando um certo toque da boa e velha humanidade, né não?
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