Inovação

Entenda o que é neuroplasticidade

Especialista explica como funciona a capacidade do cérebro de criar novas conexões e como ela impacta o jeito como você estuda, trabalha e entende o mundo

Vez ou outra aparece uma notícia de alguém com mais de 80 anos que ingressou ou se graduou em uma faculdade. Não há surpresa nisso, já que a capacidade de aprender, mesmo entre os mais velhos, está diretamente ligada à neuroplasticidade. Para explicar o que é neuroplasticidade e como ela funciona, conversamos com Ana Carolina Souza, professora de Neurociência Aplicada no Master em Neurociência do Consumidor, no MBA de Marketing e em cursos livres em EAD da ESPM.

Por muito tempo se considerou que o cérebro perdia capacidade conforme as pessoas envelheciam. Entretanto, com a tecnologia e o aumento do conhecimento sobre a fisiologia do cérebro, cientistas descobriram que esse órgão muda com a criação de novas conexões que nascem a partir do contato com novos conteúdos e experiências. “Essas conexões são chamadas de vias de sinalização. Elas podem ser mudadas ao longo do tempo, se formam, perdem força, somem e surgem novas vias. Essa possibilidade de criar novas conexões é neuroplasticidade”, explica Ana Carolina.

Neuroplasticidade na prática

Quando o cérebro se depara com algo novo ele cria um caminho e é a partir dele que aprendemos e fazemos coisas diferentes. É por isso que o ser humano consegue mudar de hábito. Mas, apesar de ser simples, há um processo, porque esses caminhos têm força e tempo de duração diferentes.

Um hábito forma uma via de sinalização forte e uma novidade abre uma via, mas se não conquistar a pessoa ela pode enfraquecer. No ambiente universitário, nem todo aluno gosta de todas as disciplinas. Aquelas com as quais um aluno se identifica e tem facilidade de aprender, abrem vias de sinalização mais duradouras. Já com relação às matérias que não interessam tanto, a via é mais vulnerável ao enfraquecimento e, portanto, precisa de mais repetição para se manter firme.

A repetição e a consistência da experiência de fazer da mesma maneira ajudam a pessoa a apreender, é por isso que as pessoas não desaprendem a andar de bicicleta. Foi necessário tempo e esforço para dominar a bike e criar o hábito de pedalar em uma via forte. “A emoção tem peso sobre formação a memória”, afirma Ana Carolina. “A experiência que eu vivo e toda forma que eu uso para adquirir conhecimento, tudo gera impressão no cérebro e ativa os circuitos. Alguns produzem alteração plástica, outros precisam de mais repetição para formar um caminho.”

A influência da tecnologia na neuroplasticidade

A ciência já sabe que cérebro muda de acordo com os estímulos e as experiências que recebe e é necessário tempo para pavimentar as vias de sinalização. Por conta disso, a tecnologia pode ser um ponto divergente no processo. “O padrão de estímulos de hoje é dinâmico. É muito estímulo vindo de todos os lados e estamos perdendo a capacidade de sustentar a atenção”, afirma Ana Carolina. “Estamos trazendo referências para o cérebro que trazem uma transformação plástica, mas que não favorecem a manutenção da atenção”.

Quando acompanha tudo ao mesmo tempo, uma pessoa não usa o foco atencional concentrado e os circuitos que o sustentam enfraquecem, diminuindo a atenção em um só lugar. O áudio acelerado do WhatsApp, por exemplo, adapta o cérebro para lidar com estímulo curto e rápido. A receita para reverter é simples mas nem todo mundo vai gostar: não faça várias coisas ao mesmo tempo. Se vai ouvir uma mensagem de áudio, escute na velocidade normal e abaixe o som da televisão para focar só naquilo.

Como estimular a neuroplasticidade

Para desenvolver a capacidade de se concentrar em um único objeto, a especialista indica fazer atividade física solo – pedalar, correr, nadar e caminhar. Isso coloca a pessoa mais em contato com ela e aumenta o foco para o que está acontecendo naquele momento.

“A meditação também é boa, porque ensina a manter o controle atencional. Circuitos que sustentam o foco ficam melhores quando ativados pela meditação”, orienta Ana Carolina, que também recomenda o ócio. Afinal, quando a mente não está direcionada para algo, há mais espaço para o devaneio, a criatividade e a experiência. “Existem muitos caminhos para tocar as vias. O convite é continuar porque a plasticidade precisa de tempo para acontecer e ela depende de experiência”.

Roberta De Lucca

Jornalista colaboradora do Trendings.

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