O relacionamento de uma pessoa com uma marca ou serviço, do primeiro contato ao pós-venda, é conhecido como jornada do usuário. “Esse caminho é a materialização da cadeia de ações e interações entre usuário e marca ou serviço e a sua observação ajuda a oferecer novas jornadas que podem trazer encantamento ou melhorias”, explica Carla Link, coordenadora da Pós-graduação em Inovação, Design e Estratégia da ESPM.
Para ilustrar a afirmação, a professora usa o exemplo do transporte por meio de táxis. Antes, as pessoas pegavam táxi na rua ou chamavam os operados por rádio comunicação. Na segunda alternativa, o usuário entrava numa fila e esperava até chegar a sua vez. Ao analisar esse tipo de transporte, a Uber identificou uma necessidade e trabalhou para que os passageiros fossem atendidos por quem estivesse mais próximo, resultando em um serviço mais rápido e eficiente. Esse é um exemplo de ação de melhoria por meio da observação da jornada do usuário, algo que a empresa segue fazendo e que a levou a oferecer diversas modalidades de transporte.
A jornada do usuário é uma ferramenta muito utilizada no design de serviços ou UX para entender o caminho do consumidor visando implantar melhores soluções. Ou seja, tudo o que uma pessoa faz – seja num e-commerce, app, no supermercado, aeroporto ou farmácia, por exemplo – é mapeado e observado pela empresa com o objetivo otimizar o serviço e entregar novas soluções aos consumidores.
Essa materialização acontece por meio de pontos de contato do usuário com a empresa, que podem ser canais de venda variados (site e callcenter), atendentes, objetos (banner, anúncio, placas de comunicação e etc.) ou sistemas como totens. “O percurso tem que ser claro e alinhado com os valores da empresa. Se ela vende facilidade, criar jornadas fáceis e intuitivas ajuda na sua entrega de valor, por exemplo. Assim como uma experiência encantadora como serviços de hotelaria pode ser vista como inspiração”.
Quando se pensa em um projeto, o trabalho segue algumas diretrizes básicas. “Mas depende da estrutura da empresa e do repertório que ela tem para lidar com a jornada”, diz Carla, explicando as linhas gerais do desenvolvimento da jornada do usuário. Confira a seguir o passo a passo:
Uma dica da professora é começar a jornada do usuário pelo “durante”, focando no ponto considerado como o mais importante da jornada. A partir daí desenham-se pelo menos 5 etapas anteriores e 5 posteriores a esse ponto.
Independentemente do produto ou serviço, o objetivo é desenvolver um projeto que leve em conta o que o usuário valoriza e quais são as expectativas dele, para a experiência ser maior ou igual à expectativa. “A jornada vai ser usada de diferentes formas. Uma delas é olhando para serviços e experiências que são benchmarking, para apoiar o levantamento dessas expectativas”, diz Carla.
Qual é a jornada que o usuário tem para resolver hoje? Quais são as jornadas que ele realiza para viajar, comprar remédio ou se alimentar? Esse tipo de pergunta é constante quando se trabalha e observa o caminho do usuário, porque o cenário muda frequentemente.
As compras recorrentes são exemplo disso. Essa solução veio da observação dos passos do cliente que adquire os mesmos produtos com frequência. Outra maneira de mapear o caminho do cliente é a observação de jornadas análogas, como aplicar conceitos de hotelaria em hospitais privados. Nesse caso, quem desenha a jornada do usuário para o hospital bebe na fonte dos serviços oferecidos em hotéis.
Para melhorar a experiência do cliente sempre focando na usabilidade, os profissionais de UX, customer success ou customer experience, trabalham com base em alguns preceitos:
A grande oportunidade da jornada do usuário não é melhorar o que está ruim, mas transformar algo bacana em algo melhor, oferecendo soluções para o usuário. Nesse ponto, ouvir o que as pessoas têm a dizer é muito importante porque a empresa tem que estar próximo do usuário. Prestar atenção às suas expectativas e mudanças de comportamento, coletar feedback do que ele posta nas redes sociais e analisar as reclamações mais recorrentes, por exemplo, pode trazer insights criativos para buscar soluções que permitam boas experiências.